"I hope the fences we mended
Fall down beneath their own weight"

John Darnielle

padaoesilva@gmail.com

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

A crise veio a calhar

"A crise é uma oportunidade, ouvimos dizer constantemente. É verdade. Esta crise tem sido uma oportunidade para implementar uma agenda ideológica que de outro modo não seria possível concretizar. (...)
E oportunidade é mesmo a expressão adequada. No preciso momento em que a segurança social pública contraía mais responsabilidades, o ministro da tutela regressava à velha proposta de limitar o valor das pensões. Estamos face a um eufemismo para se dizer uma outra coisa – queremos diminuir a base contributiva, logo colocar em causa a sustentabilidade financeira do sistema. É uma ideia que pode bem ser classificada como sendo de criança: a menos que se explique como se financiam os custos de transição, não se vê como é que é possível evoluir de um sistema de repartição, em que os descontos de hoje pagam as pensões de hoje, para um que limita os descontos hoje para limitar o valor das pensões amanhã. Talvez aumentando a dívida pública. O mais provável é que tudo não passe de uma oportunidade histórica para se desmantelar o Estado Social.
A crise veio mesmo a calhar."
a versão integral do meu artigo do Expresso de 16 de Dezembro pode ser lida aqui.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Continuação de boas festas

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Listinhas musicais

2011 não foi assim um ano de encher as medidas. Andei a olhar para as listas que fui fazendo noutros anos e estão lá vários discos que ainda me acompanham. Não sei se poderei dizer o mesmo dos deste ano. Pode ser que a música venha a ser uma das poucas coisas de que vamos ter saudades em 2012. Ainda assim, há coisas de que gostei particularmente: canções óptimas em discos não brilhantes (estou a pensar no 'last night at the jetty' do Panda Bear, por exemplo), discos fantásticos de 2010 que só ouvi em 2011 (o Saint Bartlett do Damian Jurado - se ainda procuram um presente de Natal, é este) e remasterizações absolutamente necessárias (à cabeça os álbuns dos Smiths, em particular os primeiros três, que parecem discos novos, com o baixo mais ondulante puxado para a frente e com as guitarras do Marr que deixaram de soar como se estivessem no fundo de uma caixa de sapatos). Já quanto a concertos, a história é outra: 5 meses em Washington deram direito a dezenas de concertos: a energia dos Titus Andronicus; os Strokes que mal acabaram de tocar foram seguidos pelo anúncio da morte de Bin Laden; dose dupla de Mountain Goats; a despedida dos LCD em NY e muitas outras coisas. Acima de todos, um concerto extraordinário do Damian Jurado a abrir para o John Vanderslice e que me deixou marcas indeléveis.
Para o ano, do que se anuncia, não sei o que será, de facto, entusiasmante. Mas uma coisa posso desde já anunciar: para mim, haverá uma mudança tectónica no que toca à música. Quanto a isso, na primeira semana de Janeiro darei notícias

melhor video do ano: Fucked Up - Queen of Hearts

disco que o Axl Rose gostaria de ter feito e não foi capaz de fazer: Girls - Father, Son, Holy Ghost (ainda não tenho opinião definitiva sobre o disco - tem coisas muito boas e uns solos de guitarra cheesy que quase deitam tudo a perder)

canção com 'linha' mais sugestiva do ano: 'I caught you streaking in your Birkenstocks', Stephen Malkmus, Tigers

concerto mais chato do ano: Echo & the Bunnymen no 9:30

melhor disco de 2010 ao qual só dei a devida importância em 2011: Damian Jurado, Saint Bartlett

disco desilusão do ano (um álbum assim bastante para o soporífero): Fleet Foxes, Helplessness Blues

concerto mais inesperado do ano: Damian Jurado na primeira parte de John Vanderslice no Black Cat

concerto do ano: 3 horas e meia a dançar com os LCD Soundsystem no Terminal 5

concerto em solo nacional do ano: Bonnie Prince Billy no Maria Matos

acontecimento musical do ano: remasterização dos Smiths pelas mãos de Sir Johnny Marr

10 discos do ano (por ordem alfabética)

Bonnie “Prince” Billy - Wolfroy Goes to Town

James Blake - James Blake

Bill Callahan - Apocalypse

Bon Iver - Bon Iver

Mountain Goats - All Eternals Deck

Marissa Nadler - Marissa Nadler

St. Vincent - Strange Mercy

The Strange Boys - Live Music

John Vanderslice and the Magik*Magik Orchestra - White Wilderness

The Wave Pictures - Beer in the Breakers

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

The sun shines out of our behinds

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Um pouco mais de compaixão e de pedagogia

"Quando, numa conferência de imprensa, a ministra italiana do trabalho bloqueou na palavra ‘sacrifícios’ e irrompeu em lágrimas fiquei, a um tempo, perplexo com a fragilidade que não desejo nos políticos perante a adversidade e solidário com alguém incapaz de conter a expressão do seu humanismo. Do mesmo modo que, dias depois, ao ver a mensagem ao país do primeiro-ministro irlandês, após a apresentação do orçamento, não consegui conter a surpresa ao ouvi-lo, dirigindo-se aos irlandeses, dizer com uma clareza quase soletrada, “vocês não são responsáveis”, enquanto explicava a natureza da crise, o papel dos sacrifícios e sugeria um horizonte para o futuro – “recuperar a soberania económica”.
A compaixão que descobrimos no bloqueio emocional da ministra italiana ou a atitude pedagógica do primeiro-ministro irlandês são dois factores que podem fazer diferença perante uma crise da dimensão daquela que enfrentemos. E compaixão e pedagogia são duas coisas que têm faltado ao governo português. (...)"

o resto do meu artigo do Expresso da semana passada pode ser lido aqui.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Race to the bottom

Há uma competição feroz para tornar uma das músicas mais tristes e amargas do mundo ainda mais triste. A forma mais eficaz parece ser entregá-la à voz de mulheres muito bonitas. A Marissa Nadler e a Nina Persson levam avanço nesta(s) competição. Ainda assim, fiquei muito impressionado pela forma como o Lloyd Cole cantou esta música, já lá vão muitos anos, na Aula Magna. O youtube é o mais fiel guardião da memória e não nos permite reconstruí-la. Está aí para nos dificultar a vida.



terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Temos muita pena


os Grinderman acabaram

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Parabéns, Dr. Mário Soares


“A intuição é uma disciplina que não foi à escola”, disse um dia o escritor brasileiro Millôr Fernandes. A frase não pode deixar de ecoar enquanto se lê a autobiografia que Mário Soares lançou esta semana, “Um Político Assume-se”, que tive o privilégio de apresentar. Nas quinhentas páginas, que cobrem o longo século XX e que chegam até aos nossos dias, apesar de todas as alterações nas circunstâncias, há um aspecto muito constante: um protagonista que se moveu frequentemente por intuições.
Podemos todos já ter discordado de Mário Soares em vários momentos, mas todos lhe reconhecemos uma intuição política rara, uma espécie de ‘astúcia da razão’ que não se aprende. Este elemento intuitivo choca com a ideia hoje prevalecente de que a ação política mais eficaz é baseada na racionalidade informada – através da leitura de sondagens e de ‘focus groups’. Ora, se pensarmos bem, nas grandes opções – quando afrontou o Estado Novo e rompeu com a unidade da oposição; quando defendeu a opção europeia e a democracia liberal contra a deriva totalitária; e, mais recentemente, quando criticou a colonização ideológica da social-democracia – Mário Soares arriscou e teve as intuições certas.
Esta propensão ao risco serve, aliás, para contrariar uma ideia feita em relação a Soares. Ao contrário do que é muitas vezes sugerido, não foi um político que, ao longo da sua vida, interpretou o sentimento da maioria e o procurou representar. O que se passou foi quase sempre o oposto. Não estamos perante alguém que se limitou a gerir silêncios e expectativas, aguardando que as suas posições se tornassem maioritárias. Pelo contrário, o percurso de Soares revela uma interpretação da ação política ao arrepio da visão calculista. Os exemplos em que provocou rupturas e contrariou o ambiente político da época são muitos. Foi essa atitude que lhe permitiu transformar ideias incertas e minoritárias em posições maioritárias e até hegemónicas.
Não por acaso, as suas tomadas de posição causaram muitas vezes incompreensão, mesmo no seu espaço político. Com o passar do tempo, acabaram por se revelar certeiras. Steve Jobs, que tinha uma conhecida desconfiança dos estudos de mercado, disse que “as pessoas não sabem o que querem até tu lhes mostrares”. A asserção, aplicada à política, não poderia ser mais verdadeira. Até porque é essa a função dos líderes: procurar mudar as sondagens, em lugar de as cavalgar, através de uma visão do que as pessoas querem, mesmo antes de estas estarem conscientes das suas ambições políticas.
Há, hoje, uma manifesta impaciência face aos políticos. Julgo que tal não resulta, no essencial, de uma ausência de consciência colectiva dos desafios que enfrentamos. Resulta, em importante medida, da ausência de líderes que sigam as intuições, que arrisquem e se assumam, para além das circunstâncias. Podemos ter discordado de Mário Soares e do seu percurso, mas não podemos negar a notável atualidade da forma como vê a atividade política.

artigo publicado no Expresso do passado Sábado.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Coisas que me tornam demasiadamente parecido com a ministra italiana

Cory and Alana from Blake Kueny on Vimeo.

Para que serve uma greve?

"(...) Uma greve geral tem um impacto económico directo escasso e a sua função principal é procurar alterar as relações de poder, influenciando o que em Portugal é, de facto, o actor principal – o Governo. Bem sei que a amostra é reduzida, pois entre nós só ocorreram duas greves gerais da CGTP com a UGT (1988 e 2010), mas, em ambos os casos, as greves produziram efeitos: abriram as portas à negociação, obrigaram a cedências, culminando em acordos de concertação.
A grande questão agora é saber de que modo o Governo interpreta a greve. Se opta por prosseguir o caminho de rupturas sociais e económicas, sem alargar a base de apoio político e social, ou se, pelo contrário, procura negociar e concertar interesses. A opção seguida terá, certamente, efeitos económicos e sociais, mas nela jogar-se-á uma questão política decisiva e que poderá mudar o mapa das relações de poder em Portugal.
O radicalismo que move o Governo não augura nada de bom. Mas uma coisa é clara, se o executivo optar por continuar a avançar sozinho provocará, para além do empobrecimento, uma alteração estrutural no sistema de representação de interesses em Portugal. Com consequências imediatas: coloca a UGT nos braços da CGTP e empurra o PS para a rua. No curto prazo, a táctica pode fazer sentido para o Governo, mas revelar-se-á dramática para o país. À ruptura económica e social juntar-se-á a ruptura política."
a versão integral do meu artigo do Expresso da semana passada pode ser lida aqui.

terça-feira, 29 de novembro de 2011

ir para além da Merkel

"(...) É assustador descobrir que Passos Coelho está convencido de que é possível solucionar o problema português com ajustamentos austeros não acompanhados por uma intervenção radicalmente diferente do BCE e uma política orçamental expansionista nos países com excedentes na balança de transacções correntes. Prosseguir neste caminho é insistir no pré-anúncio do fim do euro.
Este padrão, aliás, é apenas uma versão extrema do que tem sido a opção política de todas as economias intervencionadas. Primeiro, procura-se a diferenciação face ao vizinho do lado – que, é-nos dito, está numa posição mais complexa (o “nós não somos a Grécia”) –, para, depois, se afirmar que sozinhos somos capazes de enfrentar os problemas. Na verdade, esta estratégia tem sido seguida em toda a periferia, levando ao isolamento dos casos, secundarizando a dimensão partilhada dos problemas e promovendo uma neutralização da posição negocial dos países ‘fracos’. O que sugere que o problema político talvez seja também de incapacidade do sul e não apenas de falta de vontade alemã.
Como propunha esta semana, num artigo no Irish Times, Daragh McDowell, em lugar de aceitarem as soluções que lhes estão a ser impostas, o que os PIIGS deveriam fazer era optar por uma posição negocial conjunta, ameaçando, em último caso, com a utilização da ‘bomba atómica’ ao seu dispor: um default coordenado de todas as economias da periferia. Talvez assim, o eixo Merkozy percebesse o risco sistémico e a impossibilidade política de impor sacrifícios até que os PIIGS passem a competir, pelos baixos salários, com a China e a Índia."
a versão integral do meu artigo do Expresso de 17 de Novembro pode ser lida aqui.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Sob a influência de Dylan



Só para dizer que o disco novo dos Strange Boys é mesmo bom.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Aimar com sabor a Aimar


Quando há três anos e meio o Rui Costa foi a Saragoça oferecer a sua camisola 10 ao Pablo Aimar sabia o que estava a fazer. Jogar a 10 não é só jogar a 10 e a mística não se conquista apenas nos escalões jovens dos clube. Há mais mística em meia perna do Aimar ou num corte limpo do Ricardo ou num passe adocicado do Valdo do que em carradas de portugueses esforçados. Ontem, no fim daquele empate amargo, vi a imagem que marcou o meu jogo. Partida terminada, rápido flash das câmaras pelo relvado e o Aimar, já de fato treino, barba desleixada a dar uma lição de masculinidade aos CR da vida, sorri de língua de fora. Naquele sorriso encontrei todos os miúdos que subiram fim-de-semana após fim-de-semana o 3º anel para verem o Glorioso. O Aimar naquele momento éramos todos nós. Mas, depois, na flash interview, o nosso 10 explicaria tudo. “empate com sabor a vitória”, questiona o jornalista, mobilizando todos os vícios da profissão, para logo Aimar responder com calma irónica, “não, empate com sabor a empate”.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

I swam out to greet you



Os The Wave Pictures são dos mais conseguidos repositórios da música alternativa britânica das últimas duas décadas. Tresandam as guitarras do Johnny Marr, o ambiente DIY dos Hefner, a voz que faz lembrar os extraordinários The Band of Holy Joy e músicas que encontram inspiração nos primeiros anos londrinos dos Go-Betweens. É difícil não se gostar de uma banda que toca as coisas que ouvimos. Mas torna-se muito mais fácil quando, por cima do bom gosto, estão as canções facilmente trauteáveis e que não nos largam. O último, 'beer in the breakers', vai estar no topo da lista dos melhores de 2011.


coisas mais antigas

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Um tecnocrata em cada esquina

"(...) Pensar que vai ser possível resolver os problemas europeus penalizando moral e materialmente os cidadãos, libertando os executivos do controlo democrático e afastando os cidadãos do processo de decisão é uma ilusão, além do mais, muito perigosa. Um tecnocrata em cada governo é, no fundo, uma visão suavizada da pulsão autoritária que está sempre à espreita, ao virar da esquina."
o resto do meu artigo do Expresso da semana passada pode ser lido aqui.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

O inferno é o euro

"“Vós que aqui entrais, abandonai toda a esperança”. A frase com que Dante nos recebe no Inferno é uma metáfora exacta para a zona euro. Um projecto político moribundo, que amarrou os países da periferia a uma escalada de austeridade, enquanto se mostra relutante em reconhecer a natureza sistémica da crise e avançar para uma solução que reveja as fundações institucionais em que assenta. Uma vez mais, após uma cimeira que resolveria todos os problemas, bastou esperar um par de dias para o mundo voltar a mudar. Primeiro com o efeito de contágio a chegar a Itália, com réplicas a atingir França e, depois, com o precipitar da crise política grega.
Se é verdade que o anúncio do referendo grego veio baralhar as contas ou, nas palavras da senhora Merkel, “alterou profundamente a situação psicológica”, no essencial serviu para mostrar que a crise da dívida soberana é uma verdadeira arma de destruição maciça. Está a destruir, como se fossem peças de um jogo de dominó, as economias europeias e está a destruir, um a um, governos nacionais, sem escolher cor política. (...)"
o resto do meu artigo do Expresso de 5 de Novembro pode ser lido aqui.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

A rapariga é uma santa



Três álbuns depois, continuo a depositar grandes esperanças na St. Vincent. Na verdade, nenhum dos três álbuns é particularmente conseguido (confesso que tenho, por exemplo, dificuldade em ouvi-los inteiros), mas o potencial é indesmentível. A combinação de ar e pose angelical com a rudeza desafiadora das guitarras anuncia invariavelmente um futuro em grande. Depois, há a perversidade hendrixiana com que pega na guitarra e as coisas que vai sussurrando nas letras das canções: um universo entre o marquês de sade e o walt disney. Sim, ainda faltam as canções (e as melhores são ainda as que estão no disco de estreia), mas adiante. Reparem bem no que a rapariga faz aos Pop Group, neste cover apresentado no programa do Fallon - um violento exercício de gang-bang a uma banda (pós)punk. O caminho que há 30 anos os britânicos escancaram para os Clash fazerem o Sandinista leva-nos agora para um outro lado, suficientemente diferente. Quem faz isto, dá-nos boas razões para depositarmos muita esperança no futuro. Desde que o Nick Cave deu cabo do Avalanche do L.Cohen ou desde que os Cowboy Junkies adocicaram o Sweet Jane que eu não via um cover assim.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

será que eles sabem o que faço ao fim-de-semana?

hoje recebi um sms simpático da tmn a informar-me que haviam melhorado a rede em alagoachos. fico contente, alagoachos fica mesmo ao lado do lugar onde passo muitos fim-de-semana e grande parte das férias. nunca havia dado por falta de rede por aqueles lados (o que, já agora, não acontece na faculdade onde dou aulas). pouco importa. mas, como imagino que nem todos os assinantes da tmn receberam este sms, fiquei preocupado. qual a razão para me enviarem a mim este sms? só vejo uma: a tmn sabe o que faço e segue os meus passos. sinceramente, preferia bem ter pouca rede do que ter, através do meu telemóvel, um dispositivo de espionagem.

Viver abaixo das possibilidades

"(...) A lógica perversa de compressão salarial na função pública vai produzir efeitos nefastos. Para além da desmotivação, os incentivos para a saída dos mais qualificados são tantos que a capacidade da administração para defender o interesse público ficará ainda mais fragilizada e a degradação progressiva dos serviços será inevitável. Não por acaso, esta semana já pairou a ameaça de uma debandada geral de médicos que estão em exclusividade no SNS.
Esta reforma do Estado irracional e feita ad hoc esconde objectivos políticos. Por um lado, é-nos dito que a via para a competitividade do país passa pelo empobrecimento generalizado na função pública; por outro, é recuperado, com trinta anos de atraso e particular intensidade, um conjunto de ideias muito populares nos meios académicos sobre as ‘falhas de Estado’ e a forma como os funcionários de topo, em última análise, se apropriam dos recursos públicos, promovendo uma lógica despesista extravagante. Só isso pode explicar a ambição de desmantelar os serviços públicos que está na base da acção deste Governo. Que Portugal tenha sido escolhido para laboratório de um radicalismo académico anquilosado é, se nada mais, assustador."

o resto do meu artigo do Expresso da semana passada está aqui.

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Oops, they did it once again



Fallon e Timberlake e a história do rap (versão 3)

Mais vale tarde do que nunca

"(...) a opção de Vítor Gaspar é intensificar a estratégia seguida até aqui, com um optimismo cego em relação aos efeitos recessivos dos cortes. Acontece que o orçamento para 2011 não era exequível, do mesmo modo que o memorando assenta em pressupostos errados e este orçamento só agrava estes problemas. O que nos traz de novo a Cavaco Silva. O Presidente tem inteira razão, mas ainda não extraiu um corolário lógico do seu discurso. Um político realista estaria a lutar pela reavaliação do memorando e a renegociar os prazos da sua aplicação. Todas as alternativas a esta opção assentam num voluntarismo ideológico contraproducente. Agora, o governo ainda pode responsabilizar Sócrates, daqui a um ano estará na mesmo lugar, mas em pior situação orçamental e sem poder recorrer ao bode expiatório que agora está mesmo à mão de semear. Já em Portugal, estaremos mais pobres e sem termos resolvido o problema da dívida e do défice."

o resto do meu artigo do Expresso da semana passada pode ser lido aqui.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Um concerto em apneia



Lembro-me bem do meu primeiro contacto com o Bonnie Prince Billy. Por uma recomendação na Contraverso – ainda do tempo em que os discos eram comprados e recomendados em discotecas – comprei o primeiro dos Palace Brothers, já lá vão uns vinte anos. O disco era sujo, fragmentado, arrastado em alguns instantes, mas tinha também momentos cheios de luz, acima de todos um notável ‘king me’ (“I can't hear it play fast no more” era uma espécie de mantra para o slow-core que então conquistava espaço). Não aderi logo, longe disso. Mas foi há vinte anos e o Bonnie Prince Billy de hoje (na verdade o de ontem no Maria Matos) está suficientemente distante do de há duas décadas. O que se viu ontem foi um cantor rendido a uma placidez country, com arranjos limpos, emparelhados por harmonias vocais femininas, que só em breves fogachos regressa às canções por construir do passado. A este propósito, o percurso de Bonnie Prince Billy é uma espécie de reverso do de Tom Waits: enquanto o último se foi afastando das canções, fechando-se num ensimesmamento que tem tanto de genial como de claustrofóbico e desconfortável, Will Oldham foi encontrando progressivamente nas canções depuradas o seu espaço. Ontem, enquanto tocava várias músicas do novo Wolfroy Goes to Town (um óptimo disco e provavelmente o mais coerente entre os últimos, mas que ao vivo já é muito diferente da versão de estúdio que acabou de sair), revelava-se um cantor cada vez mais canónico, perfeitamente integrado no cancioneiro norte-americano. Mas, depois, por breves instantes, regressava uma tensão dramática e desintegradora, à qual não escapava quase nenhuma canção. Em pouco mais de duas horas, viveu-se sempre o conflito entre, por um lado, os espaços abertos pela tranquilidade das canções conservadores e, por outro, o fechamento e a negritude que espreitavam quando se descobriam as guitarras a puxar para o lado errado e a destruir as canções que se queriam revelar destiladas. Não foi sempre assim, mas houve longos períodos em que foi necessário suster a respiração para seguir a música do princípio até ao fim. “You want that picture”, “another day full of dread” e “after I made love to me” foram exercícios de apneia que vão deixar marcas em quem esteve ontem no Maria Matos. Não é muito difícil identificar um génio.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Por favor, apoiem-nos

"A notícia é do final da semana passada e a indiferença com que foi recebida é um sintoma grave da passividade reinante. Em comunicado, o gabinete do primeiro-ministro anunciou, deixando transpirar um tom de satisfação, a criação de um “grupo de apoio a Portugal” com vista a “assessorar o executivo português na agilização dos fundos comunitários”. No mesmo comunicado ficámos a saber que a equipa teria cinco pessoas em permanência em Lisboa a trabalhar junto do Ministério das Finanças e da Esame (a estrutura que acompanha a implementação do memorando), coordenadas desde Bruxelas.
No fundo, depois da perda de soberania com o memorando de entendimento, o governo acaba de assumir a falência técnico-administrativa do Estado. O que nos é dito é que há uma equipa de peritos estrangeiros que vem fazer agora o que fomos capazes de fazer durante décadas: programar, gerir e implementar fundos comunitários. Que isto seja requerido pelo governo e aceite silenciosamente por todos é revelador do pouco respeito que temos pela nossa própria soberania. Pelos vistos, a nossa administração pública perdeu as suas capacidades e ninguém o fez notar.(...)"
o resto do meu artigo do Expresso da semana passada está aqui.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

only the truth and nothing but the truth



"Morrissey is as arrogant as they come! Even to this day, he thinks we're all beneath him. And Johnny Marr believed he was the best because he is the best."
Noel Gallagher dixit

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Seguível

com assinalável atraso, a minha actividade pode agora ser acompanhada no twitter. sintam-se livres para me seguir.

Afundar o Estado

"O papel estratégico do Estado precisa de ser repensado. É uma evidência que salta aos olhos de qualquer um – por força do défice de sustentabilidade financeira, por alterações profundas do contexto para o qual foram pensadas muitas das políticas públicas e, não menos importante, por existirem demasiados casos de péssima gestão, nomeadamente no sector empresarial do Estado. Mas uma coisa é contrariar o imobilismo dos que fingem que tudo vai bem, outra, bem diferente, é aproveitar o actual contexto para inviabilizar a reabilitação do Estado. Infelizmente, são demasiados os exemplos em que se evita repensar as funções do Estado, optando por deslegitimar a sua acção, fazendo com que ele não aja de boa fé. É um caminho soez para concretizar o projecto ideológico de um Estado mínimo. Há muitos exemplos deste tipo de actuação. (...)"
o resto do meu artigo do Expresso da semana passada está aqui.

sábado, 15 de outubro de 2011

Já somos a Grécia

Até há dias, a estratégia do governo passava por diferenciar Portugal da Grécia. Paradoxalmente, para evitar sermos vistos como a Grécia, a solução agora proposta é a mesma que levou ao descalabro económico e social que se vive nas ruas de Atenas. O fim dos subsídios de férias e de Natal, a somar a todos os outros cortes salariais e aumentos de impostos, terá inevitavelmente duas consequências: o colapso da procura interna e uma recessão ainda mais profunda do que o previsto. Entrámos definitivamente numa espiral recessiva que nos deixa apenas uma garantia – ao fundo do túnel, encontraremos um túnel ainda mais longo e escuro. Com o que se anuncia para o Orçamento de 2012, Portugal passou a ser a Grécia.
O primeiro-ministro justificou os cortes bem para além da Troika com base num conjunto de surpresas que terá encontrado. Nenhum dos documentos de execução orçamental conhecidos dá cobertura às afirmações de Passos Coelho. O único desvio conhecido resulta da Madeira, do BPN e da degradação da receita fiscal, fruto da austeridade adicional. Até prova em contrário, o elemento de surpresa é o conjunto de mitos em que assentou a campanha eleitoral do PSD. Recuperar as justificações de Passos Coelho para chumbar o PECIV é penoso e fragiliza hoje a capacidade política do primeiro-ministro. Da austeridade que era excessiva passámos, como por arte mágica, para uma austeridade necessária. Para quem se alcandorou na verdade, estamos falados.
A receita que nos é oferecida é um caminho para o desastre e assenta num voluntarismo que recupera o pior dos amanhãs que cantam. Não é possível vislumbrar nenhum círculo virtuoso nesta solução: as receitas do Estado só poderão retrair-se, o défice e a dívida tenderão a crescer em % do PIB, a economia colapsará e as famílias ficarão bem mais pobres, com o desemprego a disparar para valores que não encontram paralelo na sociedade portuguesa das últimas décadas. Tudo em nome de uma austeridade expansionista que não passa de uma ambição ideológica, desprovida de sustentação empírica – particularmente num contexto de crise económica que nos deixa dependentes de exportações que nunca poderão compensar todas as outras perdas.

comentário ao que se conhece do Orçamento para 2012, publicado hoje no Expresso.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Por agora abstenho-me, amanhã já não o farei

Ainda estou a tentar refazer-me do choque, pelo que comentários sobre o orçamento ficam para amanhã às 22 horas na SIC-n, Sábado no Expresso ao pequeno-almoço e às 11 horas da manhã na TSF.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Christa Päffgen (aka Nico)




Nenhuma Lana del Rey alguma vez será capaz de inspirar algo que se assemelhe a isto.

Desde a Jessica Rabbit que não se via nada assim



Quando há um mês ou assim pela primeira vez ouvi e vi (as duas coisas aconteceram necessariamente em simultâneo) a Lana del Rey, tive a reacção que todos devem ter tido. Fiquei suspenso pela entrada da música, pela voz e aspecto da rapariga e pela sequência de imagens que, enquanto sugeriam elementos de modernidade (o skater que cai), remetiam - se nada mais cromaticamente - para um passado mitificado de festas, glamour e mulheres bonitas (que provavelmente nunca existiu nos termos que são sugeridos). O problema vinha logo depois (ainda a música ia a meio): tudo aquilo é tão construído (desde logo a boca da rapariga) que rapidamente assume um lado de caricatura. Esta semana, a Lana del Rey reapareceu, em versão musicalmente despida, no Jools Holland. E a sensação que fica é a mesma: um entusiasmo inicial que logo se desvanece. A ideia é de facto boa, mas temo bem que não chegue com a força necessária ao disco e à carreira que se deveria seguir. A fatalidade sustentável precisa de uma certa dose de autenticidade. A que falta à Lana e que, por exemplo, a Margo Timmins e a Cat Power têm. No fundo, não tem a autenticidade fatal que tinha a Nico quem quer.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

o que tenho andado a ler

- e se as inclinações políticas individuais forem explicáveis pelas ciências neurológicas? Andrea Kuszewski deixa algumas pistas (em todo o caso, continuo convencido da validade da hipótese de Woody Allen em 'everyone says I love you') .

- como é que a Grécia pode escapar ao euro? No NY Times, Floyd Norris descreve os vários cenários.

- E Bonnie Prince Billy deu uma única entrevista a propósito do novo 'wolfroy goes to town' (um óptimo disco que passará por lisboa daqui a umas semanas). a entrevista abre com a justificação que eu procurava para o facto de ouvir música em permanência (It keeps the voices quiet in the head).

- Richard Prince escreve sobre o pintor Bob Dylan, a propósito de uma exposição recente ("the reclining figure in a painting of his called Opium looks that way because there’s a limitation in Dylan’s ability to draw and paint the figure. And that’s why it’s good. He doesn’t try to hide what’s limited and instead uses that limitation to try to make it his own, to try to make it look different and new. Remember that Dylan once said he could sing as well as Caruso.").

Coisas que nem um Camões é capaz de mudar

um filho da puta será sempre um filho da puta.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Once there was a way to get back home (again)

Eu tenho um sonho: a recessão

"(...) Numa entrevista posterior à Forbes, Rastani confessou-se estupefacto com as ondas de choque da sua aparição televisiva – “eu estava convencido de que toda a gente tinha presente este tipo de coisas”. Pelos vistos, não. Até porque é difícil encontrar três minutos e meio tão eficazes na demonstração de que os mercados são agentes racionais (procuram maximizar as oportunidades de lucro) mas que da soma das suas acções não resulta nenhuma racionalidade (a natureza sistémica da crise) e de que a actos individuais racionais não correspondem necessariamente comportamentos movidos pela ética."

o meu artigo do Expresso da semana passada pode ser lido aqui.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

um parágrafo que vale bem um Nobel

MADRIGAL

Herdei uma floresta obscura, onde raramente vou. Porém, há-de chegar o dia em que os mortos e os vivos trocam os seus lugares. Então, a floresta põe-se em movimento. Nós não existimos sem esperança. Os maiores crimes ficam por esclarecer, apesar da mobilização de tantos polícias. Da mesma maneira, há algures, na nossa vida, um grande amor que fica por esclarecer.
Herdei uma floresta obscura, porém, hoje vou à outra floresta, que é clara. Tudo está vivo, tudo canta, serpenteia, abana e rasteja. É Primavera , o ar é robusto. Fiz os meus exames na universidade do esquecimento, tenho as mãos vazias como uma camisa num cordão de estender roupa.

[versão de Luís Costa, descoberta no blog do Zé Mário]

Custa-me muito tirar o Morrissey daqui

mas recomendo vivamente a audição desta entrevista do Pedro Silva Pereira. Em particular a parte sobre a Madeira (bem como as restantes).

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Estranhamente, mais uma vez preterido

o que tenho andado a ler

- Tim Parks descreve a tarefa hercúlea e também absurda que é escolher o Nobel da literatura. Provavelmente, atribuir o prémio a um poeta sueco é a escolha mais racional para os membros da academia.

- uma exaustiva reflexão de Bill Wyman em torno do documentário de Martin Scorcese sobre George Harrison, que estreia por estes dias na HBO.

- Um notável artigo de George Soros no NY Review of Books, na primeira parte, uma excelente descrição da crise da zona euro e, a terminar, uma saída possível, assente na recapitalização da banca, na protecção de todos os depósitos em euros (mesmo nos países em que o default é uma possibilidade real - Soros não coloca de fora essa possibilidade para Portugal) e na necessidade imperiosa de passar a supervisão bancária para a esfera europeia (e pelo caminho, Passos Coelho já pode levar para casa uma medalha: aparece numa foto no NYRB).

- No Washington Post, John Kornblum (ex-embaixador norte-americano na Alemanha) mostra, mais uma vez, que quem olha para a Europa desde os Estados Unidos tem hoje mais lucidez do que a ortodoxia europeia. O título é sugestivo: "Without the euro, would Europe have turned to war?"

Ele era o meu amigo de todos os dias


O meu trabalho é profundamente solitário. Já lá vão bastantes anos desde que comecei a trabalhar em casa. Estou mesmo convencido que já não serei capaz de trabalhar de outro modo. Adiante. Acontece que, ao longo destes anos, houve alguém que esteve presente todos os dias e em todos os momentos: o Steve Jobs. Trabalho num Mac – que me ensinou a utilizar o computador de outro modo -, ouço música no iTunes, em playlists aleatórias, seleccionadas entre as 10599 canções que neste momento tenho no disco externo, e nos transportes públicos não dispenso o Ipod – para mim a melhor invenção desde que o Jack O’Neill inventou os fatos de neoprene -, de há meses para cá, tornei-me dependente do iPad, onde pela primeira vez leio jornais e revistas como se os estivesse a ler no papel. O Steve Jobs reinventou a minha forma de escrever, de ler e de ouvir música. Muito provavelmente, sem ele eu não tinha conseguido habituar-me tão facilmente a trabalhar sozinho. Também por causa dele, sei que dificilmente voltarei a não trabalhar sozinho.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Nas costas do povo, mas na antena da TSF

Alberto João Jardim relacionou os ataques à Madeira com um acordo de Bloco Central feito nas costas do Povo. À boleia de Jardim, aproveito para anunciar que o Bloco Central, onde eu e o Pedro Marques Lopes nos juntamos, moderados pelo Paulo Tavares, regressou à TSF, com novo horário - ao Sábado, às 11 da manhã, com repetição à meia-noite. A última edição pode ser escutada aqui.

Coisas que, ainda assim, me dão alguma esperança



Se até a justiça italiana é capaz de fazer um mea culpa, quem sabe a portuguesa, também neste aspecto, não seguirá, um dia, na sua esteira.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

custa a perceber

"Custa muito a perceber a razão por que os candidatos a primeiro-ministro se empenham em fragilizar as condições em que mais tarde vão exercer o cargo. Infelizmente, nunca saberemos se o fazem movidos por puro eleitoralismo ou se se trata apenas de impreparação."

a versão integral do meu artigo do Expresso da semana passada está aqui.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

A minha Troika


(já só falta escolher o terceiro elemento)

terça-feira, 27 de setembro de 2011

o cancro explicado às crianças



ou a crise explicada aos néscios com particular candura.

Agora sim, é possível falar com propriedade do "modelo escandinavo"



aproveitando as réplicas da vitória da esquerda na Dinamarca.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Dívida e castigo

"A história está repleta de eventos estruturais desencadeados por acontecimentos secundários. A da Europa não é exceção. Quando o jovem Gavrilo Princip disparou sobre o arquiduque Francisco Fernando, poucos antecipariam o início de uma ‘era de catástrofe’ que duraria três longas décadas. Há atos que têm o condão de revelar todas as tensões de um momento e com isso colocam a história em movimento. Por vezes para o bem, na maior parte das vezes para o mal.
As declarações do Comissário europeu Guenther Oettinger, afirmando que “as bandeiras dos pecadores da dívida deveriam ser colocadas a meia haste”, podem bem ser um destes eventos. O que o Comissário fez foi dar voz ao pensamento dominante na Alemanha: a crise do euro deve ser lida à luz de um conto moral em que o descontrolo das dívidas soberanas se resolve com atos punitivos. A narrativa é apelativa, os governos endividaram-se excessivamente, têm de pagar um preço e a austeridade é a única resposta. Fica sugerida a necessidade de uma punição moral para responder a uma década de desvario hedonista.
Perante o poder avassalador deste conto moral, os países “pecadores” têm optado por apontar o dedo ao vizinho do lado, convencidos que assim expiam o crime e aliviam o castigo. “Nós não somos a Grécia” é um mantra que tem sido usado à exaustão, procurando criar a ilusão de que não nos acontecerá o que foi acontecendo à Grécia no último ano e meio. Ora de cada vez que os países da periferia da zona Euro se procuram distanciar da Grécia estão, de facto, a colocar as suas bandeiras a meia-haste (...)"

o resto do meu artigo do Expresso da semana passada pode ser lido aqui.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Uma monumental dose de lata



Não deixa de ter a sua ironia assistir a um ex-vereador da Câmara de Mafra a papaguear uma colagem de citações de artigos meus no plenário da Assembleia da República, sem sequer se dar ao trabalho de citar e chegando mesmo a afirmar, a determinada altura, que algumas das opiniões eram dele. Como quem faz surf sabe, foi preciso Peniche para haver Ericeira e a câmara de Mafra sempre se esteve literalmente borrifando para o potencial do surf para o concelho. Com protagonistas destes e colocada a questão deste modo, o surf prestou-se ao ridículo.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Estávamos empatados com a Grécia e agora fugimos

Lidas estas declarações de Miguel Relvas fico com a dúvida se estamos perante um exercício de novilíngua ou apenas face a um gerador automático de palavras que aparentam soar bem. Em todo o caso, remetendo as declarações para a Grécia, não há dúvida de que se trata de um caso evidente de Húbris. Como ensina a história, atitudes destas tendem a ser devidamente castigadas pelos deuses, numa Nêmesis que terá contornos de tragédia. Infelizmente, mais para nós todos do que para este personagem de ópera-bufa.

"I sit at my table and wage war on myself"

Os REM acabaram ontem. Uma notícia que chegou com uns dezasseis anos de atraso. Os REM acabaram para mim com o Monster, tendo o funeral decorrido num concerto para esquecer no Pavilhão Atlântico, não sei bem quando. Tudo o que ouvi deles nos últimos tempos foi penoso, o que é estranho. Tenho, na minha relação com eles, um conjunto de memórias afectivas que deviam ter feito com que os meus níveis de tolerância à banda fossem bem superiores. Lembro-me como se fosse hoje de um dia, algures em 1987/88, ter chegado a casa com os vinis todos dos REM, que me haviam emprestado, e ter durante uns quantos dias gravado tudo para K7 e, não menos importante, de ter feito uma compilação longa das melhores músicas. Quando o Green chegou, eu estava devidamente preparado. A capa do LP da Manuela Paraíso, com o Stipe, acabou por resistir algum tempo afixada nas paredes do meu quarto (não sei aliás se não foi um dos primeiros números do jornal). Durante uns tempos, o Green e depois o Out of Time foram a alternativa solar às músicas que então me dominavam. Tudo isto porque me lembrei que de todas as bandas que ouvi muito por essa altura, os REM são a única que nunca tenho vontade de voltar a ouvir. Hoje vou abrir uma excepção.





afinal, por exemplo estas duas músicas continuam a ser do caraças.

adenda: o Ricardo conhece alguém (além de mim) que escolheria a mesma música. No entanto, a versão que ele encontrou é bem melhor do que esta que está aqui. Pelo menos é mais próxima de como ela era quando primeiro a ouvi. Vale a pena ir vê-la.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

O que tenho andado a ler

- A lista das quinze melhores ideias do ano para a Atlantic;

- um brinquedo muito útil, que serve para colocar cada país em perspectiva.

- Brian Eno, um optimista incansável, dá-nos, através do "sonema", mais um exemplo do seu experimentalismo.

- Jon Stewart reconhece na Rolling Stone que o Daily Show, tal como a Fox News, é um produto da insatisfação.

- ainda sobre a "batalha da mãe-tigre" (o livro de Amy Chua que é um best-seller, pelo menos em polémica nos EUA), um artigo que reflecte sobre a rejeição do "facilitismo" na educação dos filhos.

- e dois artigos bem pessimistas sobre o futuro da Europa. Um de Roubini e outro de Bret Stephens.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Coisas velhas e boas



e também não-frescas e não-cheesy.

E Deus criou Nova Iorque



e eventualmente também as miúdas frescas (talvez excessivamente frescas) e a música cheesy (talvez excessivamente cheesy).

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

As tentações do PS

"(...) A combinação de voluntarismo ideológico com a convicção de que a austeridade pode ser expansionista tem empurrado o governo para além da troika. Este contexto cria uma oportunidade: o PS tornar-se no guardião do memorando de entendimento. É evidente que os socialistas não podem, agora, estar na oposição como se não tivessem estado no poder, mas, também, não podem cavar uma trincheira em torno da defesa das propostas da troika. O exercício é difícil, mas seria um erro manter uma atitude defensiva, abdicando da iniciativa, ainda para mais em torno de opções programáticas que violentam o património programático do centro-esquerda.
Ter vida para além da troika implica que o PS recupere a inclinação reformista e não ceda ao conservadorismo da defesa do status quo ou, pior, que descambe para a mitificação de um passado inexistente (seja no Serviço Nacional de Saúde ou na regulação do mercado de trabalho). Não se deve contrapor à narrativa liberal que Passos Coelho utilizou, uma outra, com as mesmas características formais. O mais certo seria essa tentação descambar no mesmo exercício pueril em que resultou o liberalismo de blogosfera do primeiro-ministro.
Desde logo, é necessário saber resistir aos temas populares (à cabeça, a demagogia em torno do combate à corrupção, que empurrará os partidos para um beco sem saída), mas, também, aos que têm a ver com o sistema político (das leis eleitorais ao voto dos deputados, passando pela obsessão rotativista com nomeações de boys). Centrar a iniciativa nos temas económicos e sociais é exigente e implica romper com o vício da politiquice, uma herança do processo formativo nas juventudes partidárias.(...)"

o resto do meu artigo do Expresso de 10 de Setembro pode ser lido aqui.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

O Sócrates expiatório

Foi, de facto, muito importante termo-nos visto livres de José Sócrates. De repente, em lugar de gorduras do Estado e de moralismo masoquista, passámos a ter um debate normalizado no espaço público sobre a crise e a Europa. Com Sócrates, quem arriscasse afirmar duas ou três coisas simples e insofismáveis sobre o que se está a passar na Europa e em Portugal era tratado como um delinquente mental. Não por acaso, o espaço público estava inundado de mentes sofisticadas. As mesmas que entretanto ou deixaram de aparecer ou balbuciam um raciocínio errático e escassamente coerente.
(lembrei-me disto ao assistir ao expresso da meia-noite, um debate que suspeito era impensável há seis meses atrás)

Agora sim, é possível falar com propriedade do "modelo escandinavo"


A social democrata Helle Thorning-Schmidt, de 44 anos, torna-se a primeira mulher a governar a Dinamarca.

As coisas que descubro sobre mim próprio

ver aqui.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Coisas que mudam o mundo



e este texto (posso provar que peca por defeito).

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Ainda há coisas que não vêm no google

"I caught you streaking in your birkenstocks" são as primeiras palavras do Stephen Malkmus no novo Mirror Trafic. A imagem é suficientemente sugestiva, mas felizmente não encontra correspondência no google images. Há muitos streakers, mas há poucas mulheres streakers e aparentemente nenhuma vestida apenas com umas birkenstocks. Por mais ambição que tenham o Larry Page e o Sergey Brin, o google ainda não nos domina.

É uma pena não deixar o Stephen Malkmus a envelhecer com estilo mais tempo

terça-feira, 13 de setembro de 2011

A envelhecer com estilo

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Uma grande transformação


"(...) Uma coisa é o necessário controlo da despesa, outra, bem diferente, é, com esse pretexto, brincar com o fogo, promovendo um enfraquecimento da comunidade e uma diminuição da soberania. Como lembrava Helena Garrido esta semana no Jornal de Negócios, “Portugal tem de existir”.
Eis dois exemplos que vão ter efeitos irreversíveis e que são, de facto, ameaças à existência de um país soberano, assente numa comunidade de pertença.
O primeiro é a construção de um Estado Social de mínimos, dirigido aos mais pobres. Desde o ‘passe social’ com descontos ultra-exclusivos à ASAE ter deixado de inspeccionar lares e creches, passando pelo que se anuncia no acesso à saúde, abundam os exemplos em que do excesso de gratuitidade se evoluiu para uma retirada de benefícios às classes médias baixas. Esta opção esquece que os direitos sociais fazem parte do código genético da nossa democracia e que são um mecanismo de legitimação política. Pura e simplesmente não existem democracias sem integração das classes médias.
O segundo é um programa de privatizações que aliena uma fatia importante do que resta da soberania. Vender ao desbarato empresas do sector energético ou das águas não é comparável com o processo de privatizações que ocorreu nos anos oitenta – e que obedeceu a uma necessária liberalização – é, sim, uma ameaça à independência do país, sem que se vislumbrem vantagens.
Se este Governo fizer o que, levado pelas suas ilusões ideológicas pueris, ameaça, daqui a uns anos saberemos qual é a diferença entre ter uma comunidade que forma um país ou termos um conjunto de indivíduos e famílias."

o resto do meu artigo do Expresso da semana passada pode ser lido aqui.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Um colossal embuste

"(...) Dois meses passados, só restam duas hipóteses para explicar a diferença entre o que Passos Coelho candidato disse e o que tem feito enquanto primeiro-ministro: ou estávamos perante um colossal embuste ou um problema sério de dissonância com a realidade. Convenhamos que não é fácil perceber qual das duas hipóteses é verdadeira. O governo tem dados sinais contraditórios.
A entrevista do Ministro das Finanças à TVI indicia que tudo o que nos foi sendo dito não era para ser levado a sério. Em vinte minutos, Vítor Gaspar, em alguns momentos com enorme candura, encarregou-se de renunciar a toda a narrativa política do PSD/CDS e não se cansou de sublinhar que os vários documentos de execução orçamental são “extraordinariamente exigentes do lado da receita e do lado da despesa”. Tendo em conta que foi o PECIV que provocou eleições, não deixa de ser irónico ver o Ministro das Finanças a defendê-lo como nem Sócrates, nem Teixeira dos Santos ousavam fazer. Pode dar-se o caso de, com benefício para a sanidade mental do próprio, Vítor Gaspar não ter acompanhado a política portuguesa no último par de anos, mas, de facto, expôs o colossal embuste em que assentou a vitória eleitoral de Passos Coelho. (...)"
o resto do meu artigo do Expresso da semana passada pode ser lido aqui (bem como todos os artigos publicados durante Agosto).

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Ela sobre Ele


"His face was so much more interesting than any other face I’d ever seen, with extraordinarily sad eyes and a beautiful mouth."
Jane Birkin sobre Serge Gainsbourg (via JMF)

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Num mundo liderado por "pigmeus", nada como um Robert Reich

Agarrem-me se não eu corto

Ao contrário do que prometeu, o Governo só tem aumentado a receita, retomando a habitual trajectória de "perseguição fiscal". Mas, de cada vez que isto é dito, lá aparece alguma voz autorizada do Governo a acenar com cortes históricos já a seguir. Agora foi o primeiro-ministro, devolvido das férias que não ia fazer, a declarar que para o ano vêm "cortes históricos" ou, na nova fórmula, "os maiores de que há memória". Talvez não seja má ideia ter memória e recordar que o que nos foi dito é que os cortes seriam indolores, não implicariam mais sacrifícios, pois seriam nas gorduras do Estado. Face ao que temos de fazer, era evidente que se tratava de uma mentira descarada. Enquanto não chega o pedido de desculpas, são esses os cortes que continuo a aguardar.

Ele é o Benfica

Se tivesse de escolher a notícia que mais me marcou durante as férias, não hesitaria. O AVC do Ricardo Gomes. As coisas são como são e são simples. O Ricardo Gomes era o Benfica. Ainda vi o Humberto e o Néné a jogarem, gostei do Mozer, do Valdo e do Mats. Mas, para mim, o melhor do Benfica era o Ricardo na defesa e o Diamantino no ataque. Dos que vi, foi de longe o melhor central que tivemos (sim, nunca vi o Germano). Mas, para além disso, na discrição com que jogava, na elegância com que marcava golos atrás de golos (numa altura em que insistíamos em ganhar sempre, mas sempre por um a zero), ele ajudou a construir a ideia que hoje faço do Benfica. É naturalmente o facto de ter gostado do Ricardo já lá vão vinte anos que faz com que, para mim, hoje, o Benfica seja o Aimar e mais dez.
(tudo isto serve para mostrar quão irrelevante é a conversa sobre quantos portugueses é que jogam. o Ricardo transportava mais mística do que quase todos os portugueses que entretanto lá jogaram).

Há coisas muito boas

e depois há o minuto e cinquenta segundos deste cover do "tango till they're sore"

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Boas Férias

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Ainda a propósito de Caixas


Não sei se já viram isto.

sábado, 23 de julho de 2011

Um pouco mais de política

"(...) Se foi preciso esperar pela mudança de governo para se alargar o consenso nacional em torno da necessidade de uma resposta europeia à crise da dívida soberana e expor-se as perversidades das agências de rating, a única coisa que se pode dizer é que mais vale tarde do que nunca. Contudo, chegados aqui, era importante que se colocasse fim ao euroconformismo que tem reinado e ao suicídio político que é continuarmos a adoptar, de modo acrítico, a atitude de bons alunos. Hoje, sucessivos pacotes de austeridade de base nacional sem uma solução europeia são contraproducentes.
Esta mudança exige, contudo, que o Presidente da República abandone o registo de mestre-escola que adopta sempre que se sente acossado. É no mínimo estranho que o político profissional no activo há mais tempo olhe invariavelmente para a divergência política como uma impossibilidade e reduza toda a conflitualidade a uma questão de mais ou menos “estudo”. A crise europeia com as suas ramificações nacionais é um assunto político, a necessitar de respostas políticas. E na política, parafraseando Cavaco Silva, duas pessoas sérias com a mesma informação não têm de concordar. Bem pelo contrário."
a versão integral do meu artigo do Expresso de 16 de Julho está aqui.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Morreu o meu Freud preferido

"eu próprio não percebo o que se está a passar"

um sonho português: melhor que o video, só mesmo a entrevista.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Oops, fizeram-no outra vez


a versão anterior pode ser vista aqui.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

A política como mentira

"(...) Em lugar do mar de rosas anunciado, temos apenas uma inversão radical do discurso político e da opinião publicada. Onde antes se lia que Sócrates era um irresponsável e que não se podia criticar os mercados e as agências de rating, descobrimos agora uma poderosa crise europeia, que impede que Portugal saia do buraco financeiro em que se encontra. Ficámos ainda a saber que as agências de rating são casos de polícia a necessitar de resposta europeia. Chega a ser penoso ler e ouvir hoje os arautos da verdade de ontem.
Até porque a verdade de ontem partia do princípio inegociável de que não eram necessários aumentos de impostos e que tudo se resolvia do lado da despesa (ou melhor, com cortes nos miríficos consumos intermédios) e que uma hipotética subida de impostos serviria apenas para aumentos das pensões mínimas – uma compensação que passaria pelos impostos sobre o consumo e nunca sobre os rendimentos. É escusado confrontar o que foi dito com o que foi feito.
Mas se o tema é a verdade, ela é dura: os impostos vão continuar a aumentar (desde logo o IVA) e os cortes vão continuar a incidir nos salários e prestações sociais (onde se concentra o essencial da despesa pública). A impotência do Governo português a isso obrigará. Nisso, este Governo não difere muito do anterior. Enquanto se demitir de procurar formar uma coligação política que envolva os países da periferia da zona Euro para enfrentar os problemas europeus, o Governo está condenado à irrelevância. Até lá, o mundo continuará a mudar a um ritmo acelerado e o país será obrigado a acompanhar as mudanças do mundo. Já agora, uma profecia: não deve faltar muito para Passos Coelho também passar a ser considerado mentiroso."
a versão integral do meu artigo do Expresso de 9 de Julho pode ser lida aqui.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Dez a zero à Sasha Grey

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Um gigantesco banco alimentar



"(...) Igualmente chocante é o exercício de novilíngua que dá pelo nome de ‘tributo solidário’. A ideia parece sugestiva, mas é perversa: os beneficiários de prestações sociais devem ser chamados a cumprir trabalho a favor da comunidade. Este princípio, para além de nos reenviar para uma visão punitiva do trabalho, que encontra eco, pelo menos, nas ‘workhouses’ dickensianas, ignora que a reinserção social dos excluídos já depende hoje da activação, não exclusivamente através do regresso ao trabalho. Depois, num contexto de depressão profunda do mercado de trabalho, a transformação dos beneficiários de prestações sociais num novo ‘exército industrial de reserva’ só servirá para colocar pressão adicional sobre os trabalhadores pouco qualificados e de baixos salários – os que estão na iminência de cair na armadilha de pobreza.
Quando num contexto de emergência social, o que o governo tem para dizer aos mais pobres é “tomem lá um kit de sobrevivência e agora vão limpar matas”, dá-nos uma mensagem clara sobre o modelo de sociedade que ambiciona. Um modelo que encontra no ressentimento social a sua energia fundadora."

a versão integral do meu artigo publicado no Expresso de 9 de Julho, pode ser lida aqui.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Nota máxima em arrepios



O Nuno propõe uma escala de arrepios para avaliar músicas. Como foi ele que primeiro me mostrou o Damien Jurado, por alturas do "And Now That I'm In Your Shadow", já lá vão uns anos, deixo-lhe aqui um video com nota máxima na escala de arrepios. Eu, passados dois meses, não sei se me recomporei do concerto.

terça-feira, 5 de julho de 2011

O fim da silly season

"(...) Passos Coelho prometeu ir por “mares nunca dantes navegados”. Para quem propõe uma dupla ruptura face aos vários governos anteriores, a metáfora faz sentido: o que se anuncia é uma ruptura programática e na orgânica do Estado. Se a mudança de políticas é inteiramente legítima e promove uma necessária clarificação programática entre os partidos portugueses, já o experimentalismo na orgânica ministerial, não apenas introduz ruído como, temo bem, revelar-se-á um obstáculo perigoso à rápida implementação do acordo com a Troika.
A última coisa de que precisávamos num momento de emergência era enveredar pelo caminho de fusão de ministérios, baralhação da orgânica dos serviços e alteração de tutelas que, com manifesto insucesso, os sucessivos governos têm seguido. Em lugar de apostar na continuidade orgânica como forma de ir mais longe na ruptura programática, Passos Coelho escolheu uma mistura explosiva de radicalismo programático com perturbação institucional. É uma receita propícia ao desastre e que faz com que o falhanço se possa transformar de espectro em realidade.(...)"
o resto do meu artigo do Expresso de 25 de Junho pode ser lido aqui.

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Riding for the feeling




Na Revista Única do Expresso, a partir deste Sábado e durante as próximas 10 semanas, eu o João Catarino contaremos o que nos foi acontecendo e o que fomos vendo ao longo das praias de Portugal: de Caminha a Vila Real de Santo António.

terça-feira, 28 de junho de 2011

"O que há num nome?"


Coco Gordon Moore cresceu como se esperava.

Eu nunca serei capaz de escrever assim, mas gostaria muito de ter escrito isto



"(...) eu era só filho do Lobo Antunes, não era filho do Águas, e ainda sei medir as distâncias. Portanto, o que vou eu fazer a um campo de futebol se ele já não joga? Seguir os funcionários competentes de um negócio? Assistir ao bailado dos técnicos? Ver a fantasia substituída pela sofreguidão, a ambição pela avidez, o amor ao clube pela violência idiota? Claro que continuo a querer que o Benfica ganhe. Claro que sou, como em tudo o resto, parcial, sectário, por vezes sem bom senso algum. Mas há séculos que não sofro com as derrotas e, sobretudo, não choro lágrimas sinceras com elas: estou-me nas tintas. Contudo voltaria a trotar, radiante, para assistir à entrada em campo de Costa Pereira, Mário João, Germano, Ângelo, Cavém, Cruz, José Augusto, Eusébio, Águas, Coluna e Simões, a agradecer-lhes o facto de me terem, durante anos e anos, colorido a existência. E talvez no fim do jogo, postado junto ao autocarro, quando os jogadores saíssem do balneário, o senhor Águas me apertasse a mão."
o texto completo do António Lobo Antunes sobre o Senhor José Águas está aqui.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

A mulher está doente

"(...) Com o fim do período carismático que caracterizou o primeiro par de décadas da nossa democracia, a base de recrutamento das elites partidárias mudou. Onde antes os políticos tinham percursos autónomos face aos partidos, com histórias de vida com espessura, hoje as suas trajetórias tendem a ser simétricas, com as mesmas experiências, independentemente do partido a que pertencem. Mesmo que PSD e PS tenham agora linhas programáticas com diferenças mais significativas, as cúpulas partidárias partilham um conjunto de características que as aproxima.
No que não pode deixar de ser visto como um empobrecimento da vida política portuguesa, as disputas internas aos partidos hoje replicam com contornos assustadoramente semelhantes as disputas das juventudes partidárias de há duas décadas. Se quisermos perceber o que se passa hoje no PSD ou no PS, basta tentar perceber o que aproximou ou afastou os mesmo protagonistas nas jotas. (...)"
o resto do meu artigo do Expresso de 18 de Junho está aqui.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

O género desdém e o género esmero


"Há nalguns casos o cabelo, a complicada questão do cabelo, que nem sempre se resolve satisfatoriamente. No penteado há dois géneros: o género desdém e o género esmero. O género desdém fica bem às louras. Os cabelos castanhos e os cabelos pretos não suportam senão o género esmero."

Ramalho Ortigão, As Praias de Portugal

quarta-feira, 22 de junho de 2011

O meu contributo para a reconstrução da escola pública passa por isto

o que tenho andado a ler

- Thomas Snyder, partindo da recensão a quatro novos livros sobre a Alemanha Nazi, propõe uma nova abordagem sobre o holocausto. Para quem tenha lido as Benevolentes, o argumento toca várias campainhas.

- Thomas Friedman explica a popularidade de Michael Sandel, uma espécide de filósofo pop-star, que chega até à China.

- uma lista dos 100 melhores livros de não-ficção

- o obituário do Big Man.

- a família Aimar em discurso directo: Ricardo, Andrés e Pablo César.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Will you walk with me out on the wire


"He was my great friend, my partner and with Clarence at my side, my band and I were able to tell a story far deeper than those simply contained in our music.".

Um partido incoligável

"O PS começou a perder as eleições no momento em que formou um governo minoritário em 2009. Após a magra vitória nas legislativas e perante a necessidade de fazer ajustamentos muito impopulares, governar em maioria relativa com acordos de curtíssimo alcance levaria inevitavelmente à derrocada eleitoral do último domingo. Poderia ter sido diferente? Muito provavelmente não, o que revela a encruzilhada em que se encontram os socialistas. Com a resiliência eleitoral da esquerda do pré-25 de Novembro, o PS dificilmente conquista uma maioria absoluta, ao mesmo tempo que é um partido incoligável: não pode realizar entendimentos programáticos à sua esquerda e fica dependente de acordos à direita que duram enquanto PSD e CDS os considerarem oportunos.(...)"

o resto do meu artigo publicado no Expresso de 10 de Junho pode ser lido aqui.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

I'm truly sorry - but it sounds like a wonderful thing


O The Queen is Dead faz hoje 25 anos. Os caminhos da memória são selectivos e reveladores. Já me esqueci de muitas coisas que entretanto aconteceram, algumas delas bem "importantes". Mas sei quem me mostrou pela primeira vez uma música dos Smiths, sei qual era a música e sei em casa de quem vi e ouvi pela primeira vez o The Queen is Dead. Se tiver de escolher duas ou três coisas que me tenham moldado, o conjunto de revelações que me chegou com este álbum estará entre elas. Quando os ouvi, pensei que era a melhor coisa que alguma vez me tinha sido dado a ouvir. Não mudei de opinião.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

"Subversive ideas can get through if you wrap them up in a great pop tune"

"I wrote This Charming Man for a John Peel session. I just leapt out of bed and wrote it. It was the culmination of trying to find a way of playing that was non-rock but still expressed my personality. I felt we needed something more upbeat in a different key and was miffed that Aztec Camera's Roddy Frame was getting on the radio and we weren't. That's why it's got that sunny disposition; my usual default setting was Manchester in the rain."
Johnny Marr, no Guardian de ontem, num artigo do próprio a propósito da estreia dos Smiths no Top of the Pops. Isto e muito mais pode ser "lido" numa viciante timeline da música explorável no site do Guardian. E sempre se fica a saber o que é que se passou no Lesser Free Hall a 4 de Junho de 1976.

Os The Smiths em plena subversão no TOTP

Nobre foi ao ar

Sempre se poupa à humilhação e poupa-nos a todos à humilhação.

adenda: afinal é pior do que eu havia entendido. Portas não apoia Nobre para Presidente da AR, mas incita Passos a fazê-lo. Ou seja, o número dois do futuro executivo aproveita para ver se o primeiro-ministro do governo de que vai fazer parte se espeta logo na primeira curva. Vai ser bonito de se ver.

O que tenho andado a ler

- David Byrne fala do dvd da digressão "songs of David Byrne and Brian Eno" e compara todas as tournées que fez com 'Stop making sense' - um albatroz que não se pode ignorar, mas com o qual também não é possível competir.

- Nicholas Kristof especula como seria um país com um governo limitado às funções de soberania e com uma reduzida pressão fiscal.

- Michael Kazin, num artigo sobre a esquerda radical norte-americana, sublinha que esta conseguiu fazer a diferença nos momentos em que foi um parceiro menor em coligações lideradas por reformistas do establishment.

- Peter A. Diamond, prémio nobel da economia no ano passado, explica como nos tempos actuais, um nobel, ainda para mais premiando os trabalhos do autor sobre mercado de trabalho e protecção social, não qualifica para fazer parte do board da reserva federal. Um belo e deprimente retrato dos tempos.

- o perfil de Justin Vernon (aka Bon Iver), de 'lost in the woods' a buddy do Kanye.

terça-feira, 14 de junho de 2011

NSFW



Se eu mandasse no mundo, o porno seria tal e qual como este video: o Hendrix reencarnado em mulher a tocar covers dos Beatles.

o bom e o mau aparelhismo

“Sei que há milhares de militantes por esse país fora que se queixam de nos últimos 15 a 20 anos estarem sem participação. São militantes que não são ouvidos, porque há concelhias e federações distritais onde o partido tem estado fechado, excessivamente colonizado pela administração central ou pelos aparelhos autárquicos, incapaz de se abrir e de discutir”

Francisco Assis que é apoiado pela federação do Porto, um farol de abertura e de autonomia face à administração desconcentrada e ao aparelho autárquico, em declarações hoje à LUSA.

O mundo de Tony Judt


o texto sobre Tony Judt que escrevi para o Atual do Expresso de 3 de Junho pode ser lido aqui.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Uma competição entre iguais

Quando os líderes dos dois principais partidos políticos têm percursos políticos, profissionais e académicos decalcados um do outro, ficamos a saber mais sobre os partidos do que sobre quem ocupa as lideranças.

terça-feira, 7 de junho de 2011

Quem é que disse que já não se faziam boas canções de protesto?



a melhor música sobre a guerra do Iraque.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

O que tenho andado a ler

- Richard Cohen desmonta o argumento de que com as crises económicas se tende a assistir a um aumento da criminalidade.

- Ariel Levy (uma 'huge jew') sobre a queda de Berslusconi, um artigo que expõe a dimensão grotesca do 'il cavalieri' (que, ainda assim, temo bem, não está em declínio por força do seu hedonismo muito particular).

- Russell Baker explica como do "fim" do casamento entre Eleanor e F.D. Roosevelt nasceu um novo equilíbrio de poder na família presidencial, que tornou Eleanor uma das primeiras mulheres com poder efectivo na política norte-americana.

- as razões porque Paul Scholes não tendo sido o jogador que os miúdos queriam imitar, foi o jogador que todos os super-jogadores quiseram imitar.

- o que faz de um best-seller um best-seller é provavelmente apenas o facto de vender muito. ainda assim, a natureza dos best-sellers foi alterando-se ao longo dos tempos. Ruth Franklin no Book Forum.

Reformas? não, obrigado

"Cavaco Silva deixou-nos as reformas da década; Guterres reformou o país com as pessoas primeiro; Barroso ameaçou reformar, percebeu que o lugar queimava e foi para Bruxelas; Sócrates insiste que até à crise internacional fez reformas profundas; a Troika exige-nos que reformemos o país de alto a baixo; e, finalmente, Passos Coelho, com a impetuosidade própria das juventudes partidárias, promete-nos reformas mais radicais do que as da Troika. A conclusão é clara: em Portugal há um ímpeto reformista difícil de acompanhar. As consequências de tanta reforma é que não têm sido as melhores.
Estamos perante um caso no qual a retórica política corresponde à realidade empírica. O ‘projecto manifesto’ – uma base de dados muito exaustiva sobre política europeia – revela um facto singelo: Portugal é o país europeu que mais altera as suas políticas públicas. Ou seja, o nosso reformismo não encontra paralelo. De cada vez que muda o Governo, mudam as políticas e, arrisco acrescentar, de cada vez que muda o ministro, o mesmo acontece. Ora, pode bem dar-se o caso de estarmos como estamos, não por falta de reformas, mas por termos feito reformas a mais, com fraca estabilização de políticas, pouca cooperação na sua implementação e escassa monitorização de impactos.(...)"

o resto do meu artigo do Expresso de 28 de Maio pode ser lido aqui.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

O mundo de Tony Judt



o meu texto de hoje no Atual do Expresso percebe-se melhor vendo este video.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Do que vi em Washington, o que mais me impressionou foi


isto.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

O que tenho andado a ler

- ao lado de quem nos sentamos quando chegamos a um sítio que nos é estranho? uma resposta possível aqui.

- como é que a ciência política pode ajudar o jornalismo político. um texto a ler em especial nas redações que usam e abusam dos comentários de politólogos.

- os caminhos do optimismo, um texto bem adequado ao Portugal de hoje.

- o perfil de Tyler Cowen na Business Week. Os séculos passam e continuam a existir homens saídos do renascimento por aí.

- David Ignatius sobre a Primavera árabe: entre a vingança e a reconciliação.

- um óptimo perfil de Gil Scott-Heron por Alec Wilkinson escrito há um ano e, entretanto, o obituário.

O Obama também lamenta

"Lamento não me ter cruzado com o Presidente Obama em Varsóvia, mas o planeamento da sua viagem não chegou a tempo ao meu conhecimento. Obama esteve em Londres antes de eu chegar e, quando eu cheguei a Londres, estava ele rumo a Varsóvia. (...)"
João Carlos Espada (Director do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa; titular da cátedra European Parliament/Bronislaw Geremek in European Civilization no Colégio da Europa, Campus de Natolin, Varsóvia), hoje no Público.

sábado, 28 de maio de 2011

Não temos mais oportunidades

"(...) Há uma forte probabilidade de Passos Coelho vir a ser primeiro-ministro. Ora uma coisa básica que um candidato ao cargo devia saber é que, contrariamente ao que a língua-de-pau sugere, não se governa nenhum sector se nos deixarmos capturar pelos interesses da área. O líder do PSD deu um passo de gigante para ficar capturado pelos professores. Não tardará muito a pagar com juros elevados a ilusão de popularidade que agora julga conquistar.(...)"

o resto do meu artigo de Sábado passado no Expresso pode ser lido aqui.

1,2,3,4


gone.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

As finais da NBA


Dirk Nowitski, 32 anos; Jason Kidd, 38 anos

As finais das duas conferências da NBA terminaram do mesmo modo. No Oeste, anteontem, Oklahoma liderava no quarto período com uma diferença confortável e Dallas recuperou de modo surpreendente no último par de minutos. Ontem, no Leste, aconteceu o mesmo, em Chicago, com os Bulls a delapidarem a vantagem no final do jogo, com os Miami Heat a fazerem dois triplos decisivos, no derradeiro minuto. Oklahoma e Chicago têm dois pares de jogadores muito talentosos, mas, também, bastante jovens (Durant e Westbrook nos Thunder e Rose e Noah nos Bulls), Dallas e Miami assentam o seu jogo em dois pares de jogadores bem mais maduros e experimentados (Nowitski e Kidd nos Mavericks, James e Wade nos Heat). Mesmo com uma vantagem que aparentava ser confortável, nos minutos finais, os jovens lobos soçobraram, não souberam lidar com a pressão e deitaram a perder o que parecia garantido - cometendo erros, que a experiência dos adversários soube explorar. Num jogo em que a pressão emocional conta tanto como a perícia técnica, a final vai reunir os mais experientes. Será que esta história se vai repetir, em Portugal, com outros protagonistas, na semana final da campanha para as eleições mais disputadas das duas últimas décadas?

quinta-feira, 26 de maio de 2011

contributos para a definição de cowboy

quarta-feira, 25 de maio de 2011

terça-feira, 24 de maio de 2011

Fim-de-semana alucinante



Eu também gosto muito do fim-de-semana alucinante.

Já que ninguém pergunta



as minhas dez músicas preferidas são:

- My Back Pages (1964)
- Queen Jane Approximately (1965)
- Like a Rolling Stone (1965)
- I Want You (1966)
- Sad-Eyed Lady Of The Lowlands (1966)
- I Dreamed I Saw St. Augustine (1968)
- The Ballad Of Frankie Lee And Judas Priest (1968)
- Forever Young (1974)
- Simple Twist of Fade (1975)
- Hurricane (1976)

obrigado e parabéns.
(post em reconstrução permanente)

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Os paquistaneses da Almirante Reis

Os imigrantes arrebanhados para a caravana do PS são um ponto baixo das campanhas eleitorais em Portugal. É uma daquelas imagens que é suficientemente degradante para precisar de comentários adicionais e que não pode deixar de envergonhar o PS. Infelizmente, não estamos perante um episódio isolado, faz parte de uma tendência de declínio da mobilização política tradicional. Os partidos – mas também os sindicatos – são cada vez menos capazes de produzir grandes momentos de (auto-)mobilização popular. De modo mais ou menos assumido, grande parte da mobilização depende de formas contratualizadas (não por acaso, a mobilização partidária e sindical passa, hoje, muito pelo poder autárquico, assentando em mecanismos de troca de favores, materiais ou não). O estranho é que, enquanto a mobilização espontânea tradicional quase desapareceu, as encenações mediáticas continuam a exigir uma envolvente popular que os partidos já não são capazes de produzir. Sem serem capazes de superar esta exigência, hoje, as maquinas partidárias vivem uma tensão permanente entre construir encenações que satisfaçam as coberturas mediáticas e a revelação do carácter encenado dos momentos populares das campanhas. Não seria possível romper com este ciclo vicioso?
também aqui.

O que tenho andado a ler

- David Ignatius defende que a comparação adequada para a 'Primavera árabe' não é nem com as revoluções de 1848, nem com 1989. A analogia indicada é com 1815 e com o declínio da estrutura de poder hegemónica que existia antes de Waterloo. Tal como então, estamos perante um período de transição, que implicará uma nova definição do poder. O que fazer num contexto de incerteza?

- o mundo pode ser bem melhor se não nos viciarmos em gadgets, Chris Williams, que não tem Ipad, Ipod, LCD, explica porquê aqui.

- Paul Graham tenta compreender qual a razão para os nerds serem, simultaneamente, os mais espertos e os mais impopulares das escolas secundárias.

- George Orwell na intimidade, através dos seus diários e das suas cartas.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

O diabo está na implementação

"(...) Após as eleições, teremos um parlamento fragmentado e um primeiro-ministro que iniciará o mandato fragilizado, depois de uma campanha na qual os partidos se têm entretido a perpetuar uma guerrilha táctica com escasso conteúdo estratégico, minando as condições negociais futuras. O problema é que todos serão obrigados a negociar com os parceiros que agora diabolizam. Há semanas, na apresentação do orçamento norte-americano, Obama dizia “não esperar que os detalhes do acordo final se parecessem exatamente com a sua proposta. Isto é uma democracia; e é assim que as coisas funcionam”. Aí está uma frase que deveria ser colada num post-it à frente de todos os líderes partidários, como forma de socialização com uma cultura negocial que não temos e que nos faz bem mais falta do que diagnósticos ou medidas concretas."

o resto do meu artigo do Expresso da semana passada pode ser lido aqui.

Entre Antonio Gramsci e Green Gartside


Nas próximas semanas andarei, em boa companhia, pelo Escrita Política da TSF.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Jurado+Vanderslice

Por muito que possamos pensar estar preparados, nunca o estamos verdadeiramente. Ontem, quando o Damien Jurado se debruçou sobre a viola e começou a cantar, eu não estava preparado. Um homem grande, encolhido num palco minúsculo, sentado num banco baixo, acompanhado por uma mulher com uma voz expressiva (a fazer lembrar a Hope Sandoval), mostrava que há músicas que não são feitas para os frios. Damien Jurado está para Neil Young como Bill Callahan está para Johnny Cash: as suas canções partem da reverência ao cancioneiro folk, destilando-o, para nos devolverem as emoções primeiras. Há em todas elas um eco de um lugar negro, mas a tristeza que nelas se sente não nos arrasta, pelo contrário, é reveladora. Quem não for capaz de se emocionar com isto:



Depois, John Vanderslice deu o concerto mais familiar a que já assisti (e já vi o Matt Berninger a chocar com a mãe e a irmã quando desceu do palco no Mr. November). Acompanhado apenas por um baterista (que era um dois em um, pois, num número de circo, tocava as linhas de baixo num moog com a mão direita, enquanto tocava bateria com a esquerda), em palco as suas canções não perderam a combinação entre contenção e grandiloquência que as caracterizam em disco. Houve de tudo um pouco: declarações à mãe que assistia, ‘parade’ dedicado aos Mountain Goats (que já produziu e com quem colabora frequentemente), membros do público que cantaram no palco e, para terminar, ‘white dove’ e ‘time to leave’ cantados sem amplificação, no meio do público, acompanhado por Damien Jurado. No início do concerto, Vanderslice – que passará por Lisboa depois do Verão para actuar no Santiago Alquimista e que se confessou grande fã da cidade – prometeu um concerto divertido. Cumpriu a promessa, e depois da experiência intensa de Jurado, nada como uma mão-cheia de óptimas canções (óptimas mesmo) para descomprimir. John Vanderslice arrisca-se a ganhar o campeonato de músico mais simpático do mundo.

John Vanderslice @ Chasing The Moon 10.04.09 from Scott McDowell on Vimeo.





Damien Jurado - Live @ Brighton Music Hall, 05-15-2011 by adrianfward

O que tenho andado a ler

- um pouco por todo o lado, o debate político tem-se tornado crescentemente extremado, Portugal não é excepção. Mas será que a raiva como factor de mobilização é assim tão negativa? e como é que opera? algumas respostas aqui.

- nada como uma boa história para combater o cinismo que ameaça tornar-se hegemónico.

- Sasha Frere-Jones na New Yorker sobre Bill Callahan.

- a inclinação para a leitura de romances longos pode bem ser explicada por uma espécie de síndrome de Estocolmo literário. Para ler aqui.

- Steven Pearlstein, enquanto se revela crítico da solução encontrada pelo FMI e BCE para a crise da dívida soberana (que está a empurrar os países para uma espiral imparável de crescimento da dívida e do défice, acompanhadas de doses sucessivas de austeridade), sugere uma estratégia alternativa que passa pela recapitalização da banca do centro, em lugar de bail-outs à periferia.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Da memória

Hoje foram conhecidos os primeiros dados da nova série de emprego do INE. Não sei se estão recordados de uma discussão que ocorreu em Portugal quando se soube da alteração de metodologia do inquérito ao emprego. Entre vários argumentos bastante patetas (é uma questão de procurarem no google), o ponto essencial era que estávamos perante uma forma do governo manipular as estatísticas e fazer descer o desemprego administrativamente. Não sei se deram pelos dados conhecidos hoje.

Luz


Outside of a dog, a book is a man’s best friend. Inside of a dog, it’s too dark to read.
Groucho Marx

terça-feira, 17 de maio de 2011

É possível não simpatizar com este tipo?


“That’s not an endorsement. He’s not my favorite person, but he’s a fascinating character.”
Barack Obama on Omar Little, enquanto elege Wire como a sua série favorita (notícia completa aqui; som aqui).
via vasco.

O que tenho andado a ler

- sobre a biografia da mãe de Obama, recentemente publicada, um texto na NY Review of Books que, contando a história de vida da sua mãe, nos ajuda a perceber melhor o Presidente norte-americano.

- Bin Laden’s death and the debate over torture, um artigo de John
McCain crítico do recurso à tortura. Alguém que pode falar com propriedade sobre o assunto e que é, acima de tudo, um homem decente.

- ainda sobre a tortura, Aryeh Neier tem um argumento certeiro: como não temos forma de avaliar a eficácia da recolha de informação através de tortura, a única forma de discutir o assunto é no plano dos princípios.

- o provedor do NY Times sugere que o jornal abandone os eufemismos e passe a utilizar a palavra tortura quando o que está em causa é mesmo tortura.

- Niall Ferguson sobre o novo livro de Henry Kissinger, On China, escrito aos 87 anos. E a recensão do NY Times.

- Robert Samuelson contraria a ideia feita de que a idade e a passagem a pensionista se traduz em empobrecimento. O argumento é muito centrado em evidências do caso norte-americano, mas há elementos que estão também presentes em Portugal.

- uma longa entrevista ao Robin Pecknold na qual, infelizmente, não são referidas as 'Acid Tapes'.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Discos Perdidos


O boato já tinha quase quatro décadas. Em 1970, após a edição de Déjà Vu, Crosby, Stills, Nash & Young ter-se-ão juntado a Brian Wilson para gravarem cerca de dez temas. Durante muito tempo, a existência das míticas 'Acid Tapes' não passou disso mesmo, de um mito. Apesar de ter havido quem tenha jurado ter ouvido uns originais durante um sit-in em Berkeley, não mais se ouviu falar das 'Acid Tapes'. Há cerca de dez anos, na sua auto-biografia - Memories from the Airplane - , escrita a meias com Greil Marcus, Grace Slick não só reconhecia a existência das gravações, como contava ter feito backing vocal em dois temas. Neil Young e Brian Wilson, sempre que foram confrontados com as 'Acid Tapes', afirmaram não se recordarem da existência de tais gravações. Há cerca de um ano, o assunto regressou. Numa visita a uma clínica de reabilitação onde tinha passado uma parte importante do ano de 1972, foram devolvidas a Graham Nash umas fitas de que o próprio já não se recordava. Desde então, a história é mais ou menos conhecida. As 'Acid Tapes', de facto, existiam. Contudo, Young e Wilson recusaram-se que estas vissem a luz do dia. O som era irrecuperável, em alguns momentos tornava-se penoso ouvir as fitas e o estado dos cinco aquando da gravação, algures em San Diego, estava longe de ser o apropriado. Que fazer? A ideia terá sido de Brian Wilson: oferecer as 'Acid Tapes' a uma banda que se comprometesse a regravá-las, alterando pouco os arranjos iniciais, e destruindo as fitas originais no fim. A escolha da banda era mais ou menos óbvia e o resultado foi conhecido há um par de semanas e pode ser integralmente escutado aqui. Ontem, tive o privilégio de ouvir ao vivo a interpretação quase integral das 'Acid Tapes'. Não me recordo de assistir a uma homenagem tão conseguida e sentida a uma música vinda directamente do passado.