terça-feira, 31 de março de 2009
A bad trip de Brian Wilson
Há uma lenda que diz que o álbum da banana dos Velvet Underground terá inicialmente vendido apenas umas centenas de cópias, mas que cada uma delas terá levado à criação de uma banda. Os Animal Collective vendem hoje um número bem mais significativo de discos, mas ameaçam competir com os Velvet em capacidade de influenciar. Dos últimos Radiohead aos Sigur Rós, passando pelos Dodos, ouve-se a música que os Animal Collective fazem um pouco por todo o lado. Merryweather Post Pavilion é, como os discos anteriores, um álbum de canções iluminadas e, acima de tudo, mostra o que poderiam ter sido os Beach Boys se Brian Wilson não tivesse tido uma bad trip no final dos anos sessenta da qual, na verdade, nunca se recompôs.
(publicado na SurfPortugal e republicado aqui para "pressionar" quem tiver uma hora e tal a assistir ao integral deste concerto da banda na Holanda. Tem som e imagem - nos tempos que correm, esta informação é relevante.)
Um falhanço intelectual
"Não estamos perante mais uma crise cíclica, solucionável por um conjunto de ajustamentos tradicionais. Nem perante um incidente particular e irrepetível. Como recordava John Kay, esta crise foi provocada pelo ‘sub-prime' na mesma medida que a Primeira Guerra Mundial foi causada pelo assassinato de Francisco Fernando. A crise tem razões estruturais e revelou vários falhanços: da incapacidade dos mercados para se autocorrigirem (uma premissa em que assentava a sua eficiência), até ao carácter opaco, nuns casos, inexistente noutros, dos mecanismos de regulação do sistema financeiro, passando pela inexistência de uma entidade financeira com recursos suficientes para estabilizar os preços numa economia global bem mais aberta. Uma crise desta dimensão assenta num falhanço intelectual e requer novas ideias."
do meu artigo de hoje no Diário Económico, a propósito da Cimeira de Londres do G20.
do meu artigo de hoje no Diário Económico, a propósito da Cimeira de Londres do G20.
Da justiça revolucionária
O Nuno Ramos de Almeida manifestamente não quis ler o que aqui escrevi. Como o tenho em consideração e não tenho motivos para colocar em causa as suas capacidades cognitivas, alguma coisa se deve ter passado. Talvez uma de três hipóteses: está influenciado pelo seu novo contexto laboral, a preparação dos “noticiários” de sexta-feira da TVI; contaminado pelo blog humorístico onde escreve; ou, hipótese mais plausível, o post foi erradamente assinado por ele, quando se tratava de mais um dos textos do gerador automático de posts que assume o nome de Carlos Vidal.
segunda-feira, 30 de março de 2009
A pescadinha de rabo na boca
Mudou a presidência do sindicato dos magistrados do ministério público e a conversa mantém-se. João Palma, assim que tomou posse, logo repetiu a ladainha de que os magistrados sofrem pressões: “há pressões, umas conhecidas e outras não, e se for necessário, se não acabarem, direi quais são e quem as faz”.
A história, aliás, não é nova. Primeiro, aparecem nos jornais – sempre nos mesmos, sempre nos mesmos – umas notícias que falam da existência de pressões, logo a seguir vem o sindicato referir sem concretizar as mesmas pressões que os jornais noticiaram sem concretizar. Depois, claro, chega o “agarrem-me se não eu denuncio”. Tendo em conta que são magistrados, talvez não fosse má ideia denunciarem mesmo, em lugar de ameaçar em abstracto e concretizar invariavelmente através de uma mão-cheia de nada. O assunto é sério de mais para que possa pairar a suspeição generalizada combinada com uma “revolta na bounty”, sob a forma de sublevação contra a “hierarquia”. A menos que o essencial do problema seja mesmo não haver uma hierarquia. Afinal, como lembrava Pinto Monteiro há uns tempos: “o MP é um poder feudal de condes, viscondes, marqueses e duques”. Faltou acrescentar o sindicato dos magistrados do ministério público.
A história, aliás, não é nova. Primeiro, aparecem nos jornais – sempre nos mesmos, sempre nos mesmos – umas notícias que falam da existência de pressões, logo a seguir vem o sindicato referir sem concretizar as mesmas pressões que os jornais noticiaram sem concretizar. Depois, claro, chega o “agarrem-me se não eu denuncio”. Tendo em conta que são magistrados, talvez não fosse má ideia denunciarem mesmo, em lugar de ameaçar em abstracto e concretizar invariavelmente através de uma mão-cheia de nada. O assunto é sério de mais para que possa pairar a suspeição generalizada combinada com uma “revolta na bounty”, sob a forma de sublevação contra a “hierarquia”. A menos que o essencial do problema seja mesmo não haver uma hierarquia. Afinal, como lembrava Pinto Monteiro há uns tempos: “o MP é um poder feudal de condes, viscondes, marqueses e duques”. Faltou acrescentar o sindicato dos magistrados do ministério público.
sábado, 28 de março de 2009
Ópera bufa
Não frequento a TVI e pouco sei sobre o que lá se passa. Julgo aliás que devo ter um problema com o meu televisor, quando salto entre a posição 3 e a 5, fico sempre com a impressão que por momentos imagem e som ficam desconfigurados. Mas, hoje, sabendo da “bomba”, não resisti a ver. Tive várias surpresas. A primeira é que não sabia que a dona Ana Leal ainda por lá andava. A última vez que tinha tido notícias da senhora, parece que andava em histeria na biblioteca de uma universidade, em busca de uma tese inexistente. Mas isso são contas de outro rosário e a histeria – sempre acompanhada de comportamentos persecutórios e de violação grosseira de princípios basilares do Estado de direito –, já se percebeu, é uma nota dominante por ali. Bem, mas lá vi o dvd sem imagem (sic). E confesso o meu divertimento. Não percebo a indignação de José Sócrates. Aquela converseta é talvez o melhor elemento em sua defesa: chega a ser caricato o modo como Charles Smith procura sacar umas massas a uns compatriotas. Lembrei-me logo de uma história que me contaram há uns tempos sobre um advogado, “especialista” em assuntos fiscais, que recebia uns dinheiros todos os meses de umas quantas empresas para pagar a uns funcionários das finanças. Mais tarde, descobriu-se, os funcionários não existiam e o que existia era uma avença sob a forma de extorsão. O advogado foi condenado.
Condenados a entenderem-se?
A sondagem hoje publicada revela uma erosão da imagem do primeiro-ministro e do Governo, combinada com uma incapacidade do maior partido da oposição para capitalizar o descontentamento, ao mesmo tempo que os partidos dos extremos continuam com votações acima das últimas legislativas. Curiosamente, este padrão coloca-nos numa situação em quase tudo idêntica à do mês de Setembro, quando os reflexos nacionais da crise internacional se faziam ainda sentir escassamente. Desse ponto de vista, a crise internacional está a ter efeitos políticos domésticos semelhantes um pouco por toda a Europa.
Se numa primeira fase, em que havia uma percepção da extensão da crise, mas as suas manifestações económicas e sociais ainda não se faziam sentir de modo intenso, os partidos que se encontravam no poder viram o seu apoio aumentar, no último par de meses, acompanhando o aumento do desemprego e o arrefecimento do produto, tem-se assistido a uma erosão da popularidade dos diversos primeiros-ministros europeus, ao mesmo tempo que se verifica uma pulverização do voto e um crescimento dos partidos à esquerda.
Assim, Portugal caminha para um contexto de dificuldades económicas e sociais sem paralelo na história recente, ao qual aparentemente se soma uma dispersão de votos que nos coloca demasiadamente longe de um cenário desejável de maioria absoluta. Se as eleições fossem hoje (e, sublinhe-se, não são), a ingovernabilidade estaria, por isso, ao virar da esquina. Que fazer perante um cenário destes?
Olhar para o passado talvez não seja má ideia. O cenário futuro pode vir a ter demasiadas semelhanças com a primeira metade da década de oitenta: desequilíbrios financeiros, arrefecimento económico e crescimento do desemprego, combinados com dificuldades políticas. Tal como então, a soma dos votos no PS e no PSD é comparativamente baixa (nesta sondagem estão nos 65%, ligeiramente abaixo da maioria qualificada e bem abaixo dos 74% das últimas legislativas.). Perante um cenário semelhante, o que aconteceu foi a formação de uma coligação de “strange bedfellows”, o bloco central. É naturalmente uma solução indesejável, pois dilui a diferenciação política e tende a reproduzir um outro bloco central, o dos interesses.
É verdade que a intenção de voto somada no PS, BE e PCP é de cerca de 60%, o que poderia levar à formação de uma frente de esquerda. Mas, entre nós, as condições de governabilidade à esquerda são praticamente inexistentes – a menos que se assistisse a uma insólita capitulação do programa político do PS perante o caderno reivindicativo maximalista do BE e do PCP – partidos que com intenções de voto em redor dos 20%, ainda assim se colocam irresponsável e ostensivamente fora da governabilidade.
Há uma frase muito repetida que nos diz que a política é a arte do possível. Se os portugueses não virem na instabilidade política a ameaça real que de facto representa e se o padrão desta sondagem se consolidar, Portugal vai estar confrontado com uma única possibilidade, aliás bem indesejável: o entendimento entre PS e PSD em acordos parlamentares com o patrocínio do Presidente da República (que, em final de mandato, verá o poder de dissolução condicionado pelos prazos constitucionais). Mas tendo em conta que nem para a escolha de um Provedor de Justiça existem hoje canais de diálogo entre os partidos, há boas razões para estarmos colectivamente muito preocupados.
comentário à sondagem da Marktest, publicado no Semanário Económico
Se numa primeira fase, em que havia uma percepção da extensão da crise, mas as suas manifestações económicas e sociais ainda não se faziam sentir de modo intenso, os partidos que se encontravam no poder viram o seu apoio aumentar, no último par de meses, acompanhando o aumento do desemprego e o arrefecimento do produto, tem-se assistido a uma erosão da popularidade dos diversos primeiros-ministros europeus, ao mesmo tempo que se verifica uma pulverização do voto e um crescimento dos partidos à esquerda.
Assim, Portugal caminha para um contexto de dificuldades económicas e sociais sem paralelo na história recente, ao qual aparentemente se soma uma dispersão de votos que nos coloca demasiadamente longe de um cenário desejável de maioria absoluta. Se as eleições fossem hoje (e, sublinhe-se, não são), a ingovernabilidade estaria, por isso, ao virar da esquina. Que fazer perante um cenário destes?
Olhar para o passado talvez não seja má ideia. O cenário futuro pode vir a ter demasiadas semelhanças com a primeira metade da década de oitenta: desequilíbrios financeiros, arrefecimento económico e crescimento do desemprego, combinados com dificuldades políticas. Tal como então, a soma dos votos no PS e no PSD é comparativamente baixa (nesta sondagem estão nos 65%, ligeiramente abaixo da maioria qualificada e bem abaixo dos 74% das últimas legislativas.). Perante um cenário semelhante, o que aconteceu foi a formação de uma coligação de “strange bedfellows”, o bloco central. É naturalmente uma solução indesejável, pois dilui a diferenciação política e tende a reproduzir um outro bloco central, o dos interesses.
É verdade que a intenção de voto somada no PS, BE e PCP é de cerca de 60%, o que poderia levar à formação de uma frente de esquerda. Mas, entre nós, as condições de governabilidade à esquerda são praticamente inexistentes – a menos que se assistisse a uma insólita capitulação do programa político do PS perante o caderno reivindicativo maximalista do BE e do PCP – partidos que com intenções de voto em redor dos 20%, ainda assim se colocam irresponsável e ostensivamente fora da governabilidade.
Há uma frase muito repetida que nos diz que a política é a arte do possível. Se os portugueses não virem na instabilidade política a ameaça real que de facto representa e se o padrão desta sondagem se consolidar, Portugal vai estar confrontado com uma única possibilidade, aliás bem indesejável: o entendimento entre PS e PSD em acordos parlamentares com o patrocínio do Presidente da República (que, em final de mandato, verá o poder de dissolução condicionado pelos prazos constitucionais). Mas tendo em conta que nem para a escolha de um Provedor de Justiça existem hoje canais de diálogo entre os partidos, há boas razões para estarmos colectivamente muito preocupados.
comentário à sondagem da Marktest, publicado no Semanário Económico
sexta-feira, 27 de março de 2009
Playboy à portuguesa
Mónica Sofia (a crer na capa, fotografada numa produção low cost numa gruta na reboleira), Pacman, Costinha, Rute Penedo, Nuno Saraiva, Pedro Paixão, Ana Anes, Nuno Markl ou de como cada país tem o Norman Mailer que merece.
"Sure, the reason most of us started reading Playboy was for the girls. But when the history of American magazines is written, people who said "I read it for the articles" will have the last laugh. As will Hugh Hefner, who told a reunion of Playmates in 1979, "Without you, I'd be the publisher of a literary magazine." With new editor James Kaminsky starting this week, and even Hefner saying the magazine needs to recapture its distinction, Playboy has the opportunity to be a catalyst for change in the magazine world. It can do what it did in the '60s and be a magazine with balls (and boobs), leading the moribund magazine world into a new era of editorial rebirth. A pipe dream, I know, but not a complete fantasy." da Saloon.
O impasse europeu
"Também nos estímulos orçamentais grassa uma enorme confusão. A América já aprovou 2% do PIB para este ano, deverá juntar-lhe outro tanto em 2010 e gostaria que a Europa fizesse o mesmo. A Europa limitou-se a 1% do PIB, rejeita a "interferência" americana e ninguém sabe exactamente o que quer. Há quem estranhe a discrepância, porque defende uma política comum. Eu também defendo o mesmo, mas não estranho nada: de um lado está 1 cabeça e do outro estão 27 - a confusão é normal."
Daniel Amaral, no Diário Económico. E quanto a Portugal, como é sugerido, talvez o melhor seja mesmo respirar fundo.
Daniel Amaral, no Diário Económico. E quanto a Portugal, como é sugerido, talvez o melhor seja mesmo respirar fundo.
quinta-feira, 26 de março de 2009
Maluquinho me confesso
O Pedro Magalhães alerta para o mecanismo de ponderação que é utilizado pela Marktest para projectar os resultados brutos das suas sondagens. Basicamente, para garantir que a amostra é representativa do eleitorado, a Marktest questiona sempre em que partido o inquirido votou nas últimas eleições legislativas. Resta saber o que é que nesta ponderação tem mais força: a mentira ou a excepcionalidade das últimas legislativas? Enquanto a mentira em relação ao voto nas últimas legislativas pode tender a prejudicar o PS (estou convencido que hoje haverá menos gente a declarar ter votado PS do que os votos efectivamente expressos), as circunstâncias excepcionais em que ocorreram as legislativas de 2005 (primeira maioria absoluta do PS, com mobilização quase no pleno, arrisco dizer, do campo socialista, combinada com voto contra Santana) beneficia, hoje, o PS na ponderação. Será que os dois factores se compensam?
quarta-feira, 25 de março de 2009
The greatest rock'n'roll swindle
De há uns tempos para cá, o mundo do rock tem sido assolado pela praga das reuniões de banda. Entre as que se concretizaram, as que foram anunciadas e aquelas sobre as quais se especula, não sobram muitas bandas. Os resultados têm sido invariavelmente um desastre – com a notável excepção dos Go-Betweens. Os Velvet reuniram-se para uns quantos concertos mornos, na ressaca do funeral de Andy Warhol, onde Reed e Cale se terão reencontrado, para logo regressarem ao registo de antagonismo de sempre; os Pixies arrastam-se há uns anos numas tournées deprimentes; e que dizer dos Jesus & the Mary Chain que deram um concerto entediante em Lisboa há um par de anos? Vamos ver o que nos reservam os Blur. Nisto há também os anúncios ainda por concretizar (fala-se dos Pavement há uns tempos) e os falsos alarmes (os Smiths). Mas, no meio de tudo, sobram as boas respostas às propostas de reunião: a dos Stone Roses chegou através da “arte” de John “Pollock” Squire, mas David Byrne rejeitou a reunião dos Talking Heads falando do que está de facto em jogo: "I don't need the money badly enough.".
Pior a emenda
No BE há uma sólida linhagem de engraçadinhos. Ao longo dos tempos, a mania de se armarem em engraçadinhos encontrou um contexto favorável nos media. Mas o passar do tempo foi produzindo desgaste. Ainda assim, insistem. A última gracinha é uma versão alterada do lamentável anúncio da RDP. Imagino que andem muito contentes com a graçola. Acontece que politicamente é igualmente infeliz. O argumento das deslocalizações é, em si, mau. Não sei bem o que o BE tem para oferecer como resistência às deslocalizações no espaço da UE. Além de que o exemplo da Eslováquia é particularmente grave. Nem sequer se trata da China, que não ratifica o acervo essencial de convenções da OIT, ou outro regime autoritário, que oprima politicamente trabalhadores. Aliás, a Eslováquia de hoje é Portugal de há vinte anos: um país que tem beneficiado muito com a adesão e que muito provavelmente terá problemas semelhantes aos nossos dentro de uma década. E, quem foi infundadamente acusado de dumping social durante um largo período (sendo que a evidência empírica nunca o provou), deveria ter, no mínimo, algum pudor na devolução da acusação. No fundo, o anúncio é apenas uma versão aparentemente mais sofisticada do “argumento Ferreira Leite” do investimento público desde que feito com mão-de-obra nacional. Argumento que tanto indignou os bloquistas. Isto do proteccionismo tem dias, como se vê. E também já passou algum tempo. Foi na semana passada.
Estabilizadores automáticos
Têm-se ouvido alguns apelos para que se deixe os estabilizadores automáticos funcionar. Parte da resposta à crise passará por aí. Mas, ainda assim, há dois “estabilizadores automáticos” com notável capacidade e cujo utilização exaustiva ainda não foi experimentada. Um é a mobilização popular, uma dose justa de populismo: como recordava Robert Reich a propósito da aprovação de uma taxa de imposto retroactiva para as empresas que distribuíram bónus aos seus quadros, após terem recebido avultados apoios públicos, “it's nice to see that when the public gets sufficiently angry about something, Congress responds.”; outro, é mesmo o voto. Desconfio que é a melhor garantia de que não se repetirá uma parte importante do que aconteceu e nos trouxe até aqui. Há quem ache que, perante uma crise desta dimensão, o voto é um empecilho que empurrará os decisores para soluções ilusórias, guiadas pelo imediatismo. O ideal seria uma moratória na democracia e um conselho de “homens bons” para tomar decisões difíceis. Desconfio que precisamos exactamente do contrário.
terça-feira, 24 de março de 2009
Let's sing another song, boys
Soube-se hoje que L. Cohen regressa a 30 de Julho para um concerto no pavilhão atlântico e, entretanto, o site da NPR disponibliza o integral do live in London - que sai dia 31 de Março em cd e dvd - para escuta.
Autoritarismo de vão-de-escada
O que estes casos sugerem é que, enquanto se democratizaram as relações de poder ao nível macro, em Portugal há uma espécie de autoritarismo de vão-de-escada, baseado em micropoderes que beneficiam do lastro de autoritarismo que persiste na sociedade portuguesa. Na verdade, não é necessário incitamento activo vindo de cima (leia-se, do poder político), para que nas mais diversas esferas se assista ao exercício de autoridade com escassa cultura democrática. Há uma rede de micropoderes, que se encontra difundida na nossa sociedade e que não nasce necessariamente do centro. Além do mais, em democracia, o autoritarismo é como o tango, precisa de pelo menos dois para existir. Ou seja, o exercício autoritário do poder requer que uma das partes exerça um constrangimento activo, mas necessita também que haja uma predisposição social e individual para aceitá-lo.
do meu artigo de hoje no diário económico.
do meu artigo de hoje no diário económico.
segunda-feira, 23 de março de 2009
Skinny love
Come on skinny love just last the year
Pour a little salt we were never here
My, my, my, my, my, my, my, my
Staring at the sink of blood and crushed veneer
I tell my love to wreck it all
Cut out all the ropes and let me fall
Bon Iver
sábado, 21 de março de 2009
Obsessões familiares
Rock-band worship is nothing new, of course, but the relationship between Darnielle and his fans has its own special hue. This is not the mass, global adulation of arena bands like U2. Nor is it fandom as lifestyle as practiced by Dead Heads. It’s the confessional-indie-troubador-and-his-flock-of-disciples model of Nick Drake, the Smiths, and Rufus Wainwright. Like those musicians and their tribes, Darnielle and his acolytes share an unusually intimate, and often pained, bond. Mountain Goats fans tend to have an air of sadness about them, and because Darnielle sings so openly and candidly about his own difficulties, he connects with his audience on a level that few artists are able to reach (the band is called the Mountain Goats, plural, but the group—and the fuss over them—is entirely about Darnielle). Darnielle sings about what his fans feel but can’t articulate. He’s their hero, but he’s also their soulmate, the one person in the world who understands them. That’s why Stephen Wesley and the legions of fans like him can’t get enough of the Mountain Goats. And that burden is crushing Darnielle.
De um artigo que conta, entre o cândido e o divertido, o dia em que um jovem fã (um bible freak) conhece John Darnielle. Para ler aqui.
(link do video para browsers manientos).
De um artigo que conta, entre o cândido e o divertido, o dia em que um jovem fã (um bible freak) conhece John Darnielle. Para ler aqui.
(link do video para browsers manientos).
sexta-feira, 20 de março de 2009
Coisas que me espantam
Que, pelo menos, uma equipa de “criativos”, um actor, uma jornalista, um director criativo numa agência, responsáveis numa agência de meios, chefias intermédias e administradores de uma empresa pública tenham participado no processo que produziu o vídeo de que se fala e que ninguém tenha tido um – ainda que ligeiro – assomo de indignação democrática. Mostra bem como o que nos separa da cultura anti-democrática é uma pequena película. Tão pequena que temos dificuldade em vê-la.
imagens que impõem respeito
hoje num almoço promovido pelo embaixador alex ellis (cujo bife mal passado deve ser lido aqui), a propósito do london summit, carlos tavares mostrou este gráfico. se acharmos que deve haver algum tipo de relação entre cotação das acções e resultados das empresas, vejam bem o que ainda há para ajustar.
clima anti-sindical
o modo como se tem instalado um clima anti-sindical na sociedade portuguesa é mais um passo para a degradação da democracia portuguesa. é também mais um daqueles casos em que ninguém está isento de culpas: os sindicatos que se foram acantonando numa mobilização política, o governo que se colocou na situação paradoxal de ter assinado alguns dos acordos de concertação mais importantes desde que há concertação institucionalizada (à cabeça o sobre o s.m.n), ao mesmo tempo que foi ajudando, com uma retórica desajustada, a dar poder a quem nos sindicatos desvaloriza a negociação e prefere a confrontação política. mas que dizer quando uma rádio pública se lembra de fazer este anúncio?
(gosto de defender o serviço público de rádio e televisão, mas convém que o serviço público ajude os seus defensores. fazer desaparecer este triste anúncio talvez fosse um bom contributo)
quinta-feira, 19 de março de 2009
summer of love na finlândia
a crer no youtube, este vídeo é de 1981 e não há dúvida que é no verão. fazia pouco tempo que o ian curtis havia morrido (e esta música é para ele) e talvez ainda menos desde que o bruce mitchell havia passado a somar ao vini reilly, alargando para dois a formação dos durutti. não menos importante, o lc tinha acabado de ser lançado. há aquela velha pergunta, bem liceal, sobre quem é o melhor guitarrista do mundo: a resposta está neste vídeo, que serve também para lembrar que “baterista também é músico”. basta, aliás, ver o bruce mitchell possuído para também sobre isso não ficarem dúvidas. tudo o que se passa a partir do minuto cinco talvez só seja ultrapassado pelo espanto dos finlandeses com a luz que por lá escasseia.
Watch with obsession
Some accident of beauty
Try to capture
As the light begins to fail
Shapes to compose
Shadows of frailty
The dream is better
Dissolves into softness
But the end
The end is always the same
quarta-feira, 18 de março de 2009
a devida vénia
a quem anunciou este blog: o miguel marujo, o bernardo pires de lima, o paulo pinto mascarenhas, o joão morgado fernandes, o miguel abrantes (que, posso garantir, existe mesmo e que me colocou um peso sobre os ombros ao falar da natalia ginzburg, a quem roubei o título do blog), a mariana trigo pereira, o pedro marques lopes, o francisco mendes da silva, que eu já suspeitava iria reagir ao ataque aos oasis, o josé reis santos, o carlos teixeira, o pedro soares lourenço, o nuno ramos de almeida, o nuno miguel guedes, o vitor reis m., o bloom, a charlotte, o nuno costa santos, o francisco josé viegas, o pedro correia, o filipe nunes vicente, a ana matos pires, o tiago moreira ramalho, o paulo pedroso, o joão severino, luís serpa, o paulo amaral, a marina costa lobo, o osvaldo castro e, claro, o pedro arruda, amigo de sempre (acho que já podemos dizer isto) e de outras ondas, e a quem devo este template.
ainda as desigualdades
partilho com o Rui Tavares, como ele escreve hoje no Público, a ideia de que “a desigualdade não é apenas um efeito, mas uma causa do nosso atraso, e vai ser preciso repeti-lo enquanto formos desiguais e atrasados. Que no nosso caso vai dar ao mesmo.” O problema é que de cada vez que se traz o tema para o topo da agenda política e ao mesmo tempo não se valoriza a dinâmica dos indicadores, está-se a desvalorizar o papel das políticas públicas no combate às desigualdades e, não menos importante, a secundarizar o que ainda assim já mudou em Portugal nos últimos anos. Que as nossas desigualdades são muito elevadas é sabido e deve ser motivo de prioridade política, mas, ainda que sendo tentador, é errado dizer que têm aumentado (o que se ouve sistematicamente por aí) e factualmente falso que, como escreve o Rui, os 20% mais ricos em Portugal tenham 8 vezes o rendimento dos 20% mais pobres. O último valor conhecido é de 6.5 para rendimentos de 2006, o que aliás revela uma ligeira redução por relação aos 6.8 de 2005. Não vejo como será possível criar uma coligação política e social robusta em torno desta questão enquanto se continuar a tratar mal os dados e a desvalorizar as políticas que já existem. Duas coisas que tendem a andar de mão dada.
terça-feira, 17 de março de 2009
1,2,3,1,2,3 (revisited)
recebi várias queixas de que o video dos Mountain Goats com que começava este blog não era visível com alguns browsers. foi por causa desta música que comecei este blog, sigam por isso o link.
de uma casa de banho de Brooklyn
estes rapazes não fazem nada de particularmente inovador. Eu sei bem onde ouvi tudo isto aí há uns 15 anos, talvez um pouco mais. Mas quando o Kevin Shields anda há demasiado tempo em busca do microfone perfeito ou da conjugação de pedais para fazer o wall of sound que ninguém mais conseguirá repetir, quando o Neil Halstead escolheu a via fácil (e justa) das baladas e do surf e quando o Mark Gardener está desaparecido em parte incerta e o Andy Bell se arrasta como baixista de uma banda de covers de si mesma, é entusiasmante voltar a ouvir shoe-gazing como o que se fazia antigamente. Chamam-se The Pains of Being Pure at Heart.
Portugal para os portugueses
A drª Ferreira Leite queixou-se que ninguém lhe dá ouvidos. Convenhamos que é verdade, o problema é que isso tem trazido vantagens ao PSD. Foi assim no pós-congresso, quando imperava a estratégia do silêncio e quando, ainda assim, o pouco que era dito era levado a sério. O problema agora é outro: já não há silêncio, mas este foi compensado pela irrelevância da palavra. Não fora este o caso, o “País” tinha passado o dia a discutir o investimento público como saída para a crise, “desde que feito com mão de obra nacional” (sic).
paradoxos sindicais
(...) convém perceber que a contestação a que assistimos, sendo resultado imediato da crise económica e social, tem raízes bem mais profundas. Entre estas, a convergência entre o acantonamento de tutela política da CGTP e o desenvolvimento de um clima anti-sindical, em parte fruto de uma confrangedora ausência de estratégia sobre o papel dos sindicatos em Portugal da parte do PS. Na verdade, nada de significativo está a mudar no mundo sindical português. Estão sim a cristalizar-se tendências de trinta anos que limitam a busca de soluções negociadas para a regulação da economia política portuguesa.
do meu artigo de hoje no Diário Económico.
do meu artigo de hoje no Diário Económico.
segunda-feira, 16 de março de 2009
Quando a realidade do cinema ultrapassa o cinema
Na realidade sabia que o que acontece nestes primeiros 30 segundos não era possível, mas pensei que nem no cinema iria acontecer.
a política da verdade
Aqui há umas semanas, a Susana contava como as flores que haviam sido oferecidas diligentemente a José Sócrates no encerramento do Congresso do PS logo tinham sido recolhidas depois de devidamente acenadas. Será que o soutien que John Darnielle apanha enquanto vocifera aqui em baixo é também um momento encenado? Não sabemos, mas a espontaneidade precisa de uma boa dosagem de profissionalismo e, acima de tudo, convém garantir que nunca fica ninguém para observar o que se passa enquanto se desmonta o palco. As histórias não serão as mais edificantes. O soutien terá sido devolvido ou nem sequer tinha legítima proprietária?
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