segunda-feira, 30 de setembro de 2013
segunda-feira, 23 de setembro de 2013
quarta-feira, 18 de setembro de 2013
Regresso à infância
Há um sem número de tentativas
para explicar o fascínio que o futebol exerce, mas a mais conseguida de todas é
do escritor Javier Marías. Para este madrileno, o futebol é uma “recuperação
semanal da infância”. Sentados na bancada, somos, a um tempo, “selvagens e
sentimentais” – devolvidos a um contentamento desprovido de racionalidade, como
aquele que só se conhece em criança.
Não por acaso, não se
descobre a paixão pelo futebol na vida adulta. Pode haver quem construa uma
relação com um clube já de “barba feita” e seja capaz de decorar burocraticamente nomes
de jogadores e esquemas tácticos. Tudo isso é possível. Mas, peço desculpa, de
futebol ou se aprende a gostar em criança ou então está-se condenado a um
estatuto de curioso. E um curioso é alguém capaz de se distanciar
emocionalmente do jogo e, mais importante, da camisola do seu clube. Um curioso
pode apreciar futebol e chega a entusiasmar-se com a seleção; um adepto tem uma
fixação, que se sobrepõe a tudo o resto, no seu clube.
Como observou Marías,
“o futebol é das poucas coisas que me fazem reagir hoje em dia da mesma maneira
que reagia quando tinha dez anos e era um selvagem”. Ninguém tem dúvidas que a
forma como vamos olhando para tudo na vida vai mudando com o passar dos anos. O
mesmo não acontece com o futebol. Falo por mim: em nenhum outro lugar regresso
ao olhar ingénuo que, em criança, tinha da vida como quando vejo o Benfica no
Estádio da Luz.
As peregrinações
dominicais para ver o Glorioso eram vividas com uma transcendência religiosa,
mas nada se comparava a uma noite europeia. Para a criança que recupero,
semanalmente, nos jogos do Benfica, os jogos da UEFA eram momentos únicos de
celebração de uma paixão incondicional.
Sei, por isso, que,
hoje à noite, vou sentir uma ansiedade sôfrega quando me sentar no meu lugar no
Estádio. Espero que os jogadores, quando pisarem o relvado, sintam a mesma
emoção. Podem ter muita cultura táctica e jogadas de laboratório, mas, para em
Maio ganharmos a Champions no nosso Estádio, precisamos de onze crianças com
uma crença irracional no Benfica.
o meu artigo de ontem na "Luz Intensa" do Record
segunda-feira, 16 de setembro de 2013
Aimar, ficas (para sempre)
Agora que o trauma do minuto 92 foi superado,
há outro que ficou do final da época passada que ainda me persegue: não ter
tido oportunidade de me despedir de Pablo Aimar. Morrer na praia doeu e dói
muito, mas a forma como Aimar nos deixou foi não menos dolorosa.
Em três décadas que levo de paixão, sofrimento
e imensas alegrias nas bancadas, contam-se pelos dedos da mão os artistas que
vi com a camisola do Benfica. Artistas verdadeiros, predestinados capazes de,
por arte mágica, fazer a jogada imprevisível, de transformar a bola numa outra
coisa quando lhes chega aos pés. Vi muitos jogadores excelentes, outros briosos
e ainda alguns com lampejos de classe. Artistas mesmo só sou capaz de enumerar
quatro: Chalana, Diamantino, Rui Costa e Pablo Aimar.
O cineasta John Ford recomendava em “O homem
que matou Liberty Valance” que “quando a lenda se torna verdade, devemos
reproduzir a lenda”. O cinema do realizador norte-americano é feito de filmes
grandiloquentes, cheios de espaços abertos e de personagens maiores do que a
vida, de lendas. O futebol de Aimar é feito da mesma matéria com que se fazem
as lendas – toques de poesia concreta, lirismo a pairar sobre a relva e emoção
arrebatadora. A memória que fica do “passe de letra” para Suazo em Guimarães, a
harmonia perfeita das triangulações com Saviola e uma inteligência superior no
modo como pensava o jogo superam qualquer verdade factual (a permanente
debilidade física) e fazem do argentino uma lenda.
Mesmo no meio da tragédia épica que foi o final
da época passada, um artista assim devia ter tido uma despedida condigna. No
mínimo, devia ter jogado alguns minutos na derradeira partida do campeonato,
com o Moreirense, para que o estádio tivesse podido aplaudi-lo reverencialmente
e em uníssono. Que isso não tenha acontecido e que tenha sido depois lançado
nos minutos finais de uma equipa que naufragava no Jamor não foi um ato à
imagem da grandeza que esperamos do Glorioso.
Não tendo podido agradecer-te no Estádio, Pablo
Aimar, quero que saibas que falo por milhões de benfiquistas quando digo:
Aimar, ficas. Para sempre.
publicado na coluna "Luz Intensa" do Record há umas semanas.
adenda: agora com um abraço ao António e com a foto que inspirou inicialmente o texto.
adenda: agora com um abraço ao António e com a foto que inspirou inicialmente o texto.
quinta-feira, 12 de setembro de 2013
terça-feira, 10 de setembro de 2013
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