O proselitismo liberal é a versão actual da vulgata marxista, que esteve muito em voga na passagem dos anos 60 para os 70. Como acontecia com quem então padecia da doença infantil do comunismo, também os nossos liberais tendem a moldar a realidade à sua construção teórica, ao mesmo tempo simples e com resposta para tudo. Ao fazerem-no esquecem, por um lado, a complexidade dos ajustamentos nas políticas públicas e, por outro, o país que realmente existe, feito de portugueses bem diferentes daqueles que conhecem ou projectam. O mantra "menos Estado" tornou-se, aliás, um novo "amanhã que canta", combinando as mesmas doses de optimismo e de normatividade com uma subjugação da realidade aos arquétipos de partida. Mas a realidade tem sempre razão. Talvez tenha sido o choque com a realidade que levou Passos Coelho a dizer, primeiro, que esperava que o PSD não recuasse nas suas insólitas propostas de revisão constitucional (o que, vindo do líder do partido, não deixa de ser estranho) e, já esta semana, que no fundo tudo isto não tinha passado de um teste - imagina-se para ver se o país estava preparado para o receber, devidamente acompanhado da sua doutrina. Há, contudo, um risco. Passos Coelho, que encontrou circunstâncias muito favoráveis para se afirmar politicamente, com um governo frágil e uma situação económica débil, arrisca-se ele próprio a ser apenas mais um piloto de testes, juntando-se à longa lista de líderes do PSD que nunca chegaram a primeiros-ministros.
publicado hoje no i.
sábado, 31 de julho de 2010
sexta-feira, 30 de julho de 2010
O cancro Freeport
Tem sido sugerido que, uma vez conhecida a acusação do processo Freeport, era devido um pedido de desculpas a Sócrates. Se pensarmos no que foram as manchetes dos media nos últimos seis anos, sopradas por "operadores" do sistema de justiça, e na utilização política que foi feita do processo, há boas razões para uma penitência colectiva de muitos jornalistas portugueses, acompanhados por parte significativa da classe política. Mas é um erro olhar para o que se passou como uma questão com Sócrates. No essencial, a presença mediática do processo Freeport nunca foi uma diatribe contra o primeiro-ministro. O que esteve sempre em causa foi bem mais grave: a exposição de um cancro que está a destruir a democracia portuguesa e que resulta da coligação perversa entre péssimas investigações e jornalismo medíocre. Uma coligação que radica numa justiça que compensa a incapacidade de produzir prova com disseminação de pseudo-factos nos media e numa comunicação social que se revela incapaz de avaliar a idoneidade das suas fontes, tomando como válida qualquer informação proveniente do sistema de justiça. Os resultados estão à vista. Uma degradação generalizada da vida pública e um sentimento de total impunidade - que impossibilita que tenhamos certezas quando alguém é condenado, ao mesmo tempo que fica sempre a pairar uma dúvida sobre a inocência de quem algum dia tenha visto o seu nome envolvido num processo. Na verdade, não é a José Sócrates que é devido um pedido de desculpas. É a todos nós, que assistimos impotentes a este cancro que está a degradar a democracia portuguesa.
publicado hoje no i.
publicado hoje no i.
quarta-feira, 28 de julho de 2010
terça-feira, 27 de julho de 2010
Não interrompas um erro
"(...)o aspecto mais extraordinário desta proposta, apresentada antes do Verão e a tempo de eclodir em plena pré-campanha presidencial, são as oportunidades que Passos criou aos seus adversários políticos. Numa altura em que o Governo se encontrava em manifestas dificuldades, Sócrates passou a ter uma oportunidade para fazer uma afirmação ideológica com a qual nem o próprio sonhava; e quando Portas se encontrava encostado às cordas, por força do crescimento do PSD, pôde voltar a vestir o fato de homem de Estado e revelar razoabilidade. No fundo, a Sócrates e a Portas resta fazer o que Passos Coelho não conseguiu: seguir a velha máxima de Napoleão que aconselhava a nunca interromper um inimigo quando ele está a cometer um erro."
do meu artigo de hoje no Diário Económico.
do meu artigo de hoje no Diário Económico.
domingo, 25 de julho de 2010
sábado, 24 de julho de 2010
Passos e Cavaco: uma luta diferente
Há quem diga que as questões afectivas tendem a ser desvalorizadas quando se analisa a política. É provavelmente verdade. Basta pensar na proposta de revisão constitucional apresentada por Passos Coelho. Tem sido dito que representa um ataque ao código genético do regime, pondo em causa os seus alicerces (o ataque descabelado ao Estado Social), ao mesmo tempo que promove instabilidade política (ao mexer inoportunamente no equilíbrio de poderes). Se procurarmos alguma racionalidade nas propostas de Passos, faz sentido olhar para elas assim. Mas talvez valha a pena pôr a razão de lado. Cada semana que passa, mais me convenço que o inimigo de Passos não é o povo (através do fim da gratuitidade no acesso à educação e à saúde), nem sequer Sócrates. Não é segredo que Ca-vaco não morre de amores por Passos - no que é retribuído. Ora se olharmos para as últimas iniciativas do PSD, começa a ficar claro que, no fundo, podem não passar de um acerto de contas com Cavaco. Primeiro foi o tema da acumulação de pensões, em que o PSD obrigou Cavaco a justificar a sua posição, enquanto se envolvia numa enorme trapalhada sobre o que estava em causa; depois a ameaça de chumbo do OE, que poderá ocorrer em plena campanha presidencial - a última coisa que Cavaco deseja; esta semana chegou a alteração dos poderes presidenciais, causando natural desconforto ao Presidente em exercício que mais de uma vez se confessou confortável com os actuais poderes. Mas, já que estamos no domínio da emoção, não sei porquê, parece-me que este frenesim de iniciativas acabará por trazer mais problemas a Passos do que a Cavaco.
publicado hoje no i.
publicado hoje no i.
sexta-feira, 23 de julho de 2010
A TINA precisa de amigos
A TINA (There is no alternative) é uma rapariga incompreendida. Mas hoje o que nos resta é a TINA e ela precisa de amigos. Ainda na semana passada, Paulo Portas lhe quis fazer um arranjinho. Acontece que a TINA, rapariga avisada, sabe que as relações a três, mesmo que escondam um secreto fascínio, tendem a não acabar bem. O que a TINA precisava mesmo era de uma relação previsível, de um ambiente estável que lhe desse tranquilidade durante uns quantos anos. Se isso acontecesse, a TINA estaria disposta a sair de cena daqui a uns tempos, deixando o campo aberto para que todos pudessem escolher uma rapariga à sua medida. Mas a TINA teme que isso não aconteça. Inveja, por isso, as relações que vai conhecendo na Europa, onde os partidos se juntam, com documento escrito e assinado. Por cá, ela tem pouca esperança de que algo semelhante aconteça. Esta semana, aliás, ficou muito preocupada quando percebeu que Passos Coelho, rapaz com quem até dançaria um tango, afinal estava mais preocupado com os poderes do Presidente e do Parlamento. A TINA sabe que ninguém gosta que lhe seja dito que não há alternativa e que pouco resta a fazer além de um conjunto de cortes que vão deprimir ainda mais a economia. A esses, a TINA diz, e com justiça, que se vão queixar à Europa que há um ano e pouco não anda a tratar nada bem dos seus. A questão é que a TINA também sabe que hoje a única alternativa à sua presença é o caos financeiro, económico e social. E a TINA está consciente de que, se não lhe encontrarem parceiros fiéis, a alternativa vai ser mesmo essa. Só nessa altura, os que hoje a desprezam lhe saberão reconhecer valor.
publicado hoje no i.
quinta-feira, 22 de julho de 2010
Barely Legal
é impossível encontrar um texto sobre os Avi Buffalo que não comece logo por referir a idade de Avigdor Zahner-Isenberg (como se vê, não é só no West Side Soweto que imperam os judeus a fazer rock'n'roll). o rapaz Avi começou a fazer músicas no fim do liceu e tudo aconteceu antes de completar vinte anos (assinou pela sub-pop e o resto é mais ou menos (des)conhecido). o disco é mesmo bom para o (meu) verão, mas o que me inquieta mais não é a idade hoje, mas, sim, o que acontecerá a alguém que com esta idade já faz música assim. Será possível envelhecer e continuar a fazer músicas que soam velhas e novas ao mesmo tempo?
Only fools rush in
Um tipo que está aí para provar que o talento resiste a tudo (ou a quase tudo), uma música antiga, que me faz regressar mais uma vez a um disco ao qual estou sempre a regressar, em versão assombrosa, e um festival sem calor, sem pó e com raparigas que dançam escandinavamente. (o resto pode ser visto aqui)
sábado, 17 de julho de 2010
Uma questão de timing
No debate do Estado da Nação, José Sócrates cavalgou os dados sobre a pobreza revelados nesse mesmo dia. Tem boas razões para o fazer. Há muito que se esperava que a pobreza diminuísse entre 2005 e 2008 e o INE veio prová-lo. É a confirmação de que as políticas fazem a diferença. O efeito combinado dos aumentos do salário mínimo, da diferenciação das prestações familiares e do complemento solidário para idosos aliviou a situação dos mais desfavorecidos. Contudo, estes factos colidem com o que foi a realidade política do período a que os dados dizem respeito. Não é preciso procurar muito para encontrar declarações dos vários líderes políticos a afirmarem que “a pobreza está a aumentar em Portugal”. Contra todas as evidências, Passos Coelho foi o último intérprete desta linhagem, tendo afirmado esta semana que “hoje temos três vezes mais pobres que há 15 anos”. Ou seja, os dados do INE vieram revelar que há mesmo muita gente em Portugal com um problema profundo de relação com a realidade. A questão é que os dados reportam a 2008, mas são utilizados politicamente hoje. E do mesmo modo que, contra tudo o que se afirmava na altura, era manifesto que a pobreza não podia estar a aumentar em Portugal, também hoje há sinais de que a pobreza está a aumentar em 2010 - consequência do aumento do desemprego, da tendência para a diminuição do número de desempregados protegidos e das novas escalas de equivalência, que diminuirão em muito o rendimento das famílias mais pobres. O que serve para demonstrar que, em política, os factos são quase tudo, mas o timing também. E a relação com a realidade depende da capacidade para alinhar com os dados, no momento certo.
publicado hoje no i.
publicado hoje no i.
sexta-feira, 16 de julho de 2010
Esquizofrenia múltipla
A política portuguesa vive num estado de esquizofrenia múltipla, em choque permanente com a realidade. O debate do estado da nação apenas tornou a síndrome mais visível. A situação singular em que nos encontramos, com o único governo de maioria relativa da Europa, serve para revelar como a crise política estará sempre à espreita, como um vírus oportunista, e é o primeiro dos sintomas de esquizofrenia. Depois temos um governo que tinha um discurso eleitoral e que de facto foi obrigado a abandoná-lo para fazer exactamente o contrário do que propunha como resposta à crise (do investimento aos pacotes de estímulo à economia e ao emprego). Como se não bastasse, o governo precisou do PSD para viabilizar as medidas de austeridade e, quando houver uma moção de censura do CDS, dependerá do apoio do BE e do PCP. No mínimo confuso. Finalmente, temos um Presidente que alterna entre um discurso vago sobre a insustentabilidade da nossa situação orçamental e a necessidade de mais respostas sociais, mas que, de facto, desistiu de promover quer esforços concretos para disciplinar as contas públicas (quando retirou o apoio a Correia de Campos), quer mecanismos que permitam proteger mais os "novos pobres" (a oposição ao novo Código Contributivo). Com tantos níveis de esquizofrenia, resta uma certeza: vamos ter uma séria crise política a somar à crise económica e social. A única questão é saber quando. Por uma vez, talvez não fosse má ideia alinhar a experiência interna da política com a realidade e agir preventivamente, procurando uma solução política estável e, não menos importante, previsível.
publicado hoje no i.
publicado hoje no i.
quinta-feira, 15 de julho de 2010
quarta-feira, 14 de julho de 2010
terça-feira, 13 de julho de 2010
Demasiado distantes
"(...) todas as políticas precisam de aliados e a política educativa encontrou, no passado recente, fortes aliados nas associações de pais e nos directores de escolas. Aliás, o novo modelo de gestão, como quase todas as reformas relevantes dos últimos tempos, foi aprovado com a oposição dos sindicatos de professores (cuja agenda é invariavelmente centrada em questões de carreiras ou salariais, ao mesmo tempo que secundariza o que tem a ver com a escola e os alunos). Ora a criação destes mega-agrupamentos tem também um outro efeito: aliena os principais aliados da política educativa recente, sem que crie novos.
O que está em causa é, de facto, um bom princípio: agrupar escolas. Mas os bons princípios, para serem postos em prática, precisam de tempo, de aliados e não ganham nada com a definição de muitas regras que, soando bem na lei, tendem a chocar com a realidade. Uma asserção que é válida para todas as políticas públicas e que encontra no processo de agrupamento de escolas agora iniciado um mau exemplo."
do meu artigo de hoje no Diário Económico.
O que está em causa é, de facto, um bom princípio: agrupar escolas. Mas os bons princípios, para serem postos em prática, precisam de tempo, de aliados e não ganham nada com a definição de muitas regras que, soando bem na lei, tendem a chocar com a realidade. Uma asserção que é válida para todas as políticas públicas e que encontra no processo de agrupamento de escolas agora iniciado um mau exemplo."
do meu artigo de hoje no Diário Económico.
segunda-feira, 12 de julho de 2010
Afinal a culpa não é das Lisbon sisters
"We took two trips to Lisbon over the course of writing this record," Leithauser adds. "None of us had ever been there, and we were really blown away by the place. The topography and architecture are stunningly handsome. Even when we were there for the rainy season — it literally never stopped raining — it was a trip that outshone a lot of others. We've never had much luck at all in Europe, and the Portuguese were surprisingly accommodating. I think those two trips really helped keep us motivated while making this record. We named the record Lisbon as sort of a 'thank you' and a small tribute."
daqui, onde já se pode ir ouvindo um tema de Lisbon, o novo disco dos Walkmen.
we went dutch, dutch, dutch,dutch
era nisto que o Stephen Malkmus estava a pensar quando, há uns doze anos, escreveu o Shady Lane.
sábado, 10 de julho de 2010
A vingança de Telê
Vivemos agarrados aos nossos mitos fundadores e o futebol não é excepção. Eu sei exactamente quando comecei a gostar de futebol: em 1982, com a avalanche ofensiva da selecção brasileira de Zico, Sócrates, Falcão, Júnior e Cerezzo, comandada por um treinador, dizia-se, excessivamente atacante, Telê Santana. Jogaram como nunca e pelo caminho perderam face ao cinismo da Itália. Foi a minha primeira paixão e também o meu primeiro desgosto. A partir daí, nunca mais se viu nada assim em mundiais. Em parte, é isso que explica o mantra tantas vezes repetido, que nos convence que os mundiais já não são como eram. Pois o Mundial que amanhã termina foi bem melhor que os anteriores. Quem gosta de futebol pode deixar-se fascinar por equipas ganhadoras com pouca posse de bola (as equipas de Mourinho), mas o deslumbramento só chega mesmo com o futebol atacante, enredado em passes curtos, que nos devolve a um romantismo que é, ao mesmo tempo, ingénuo e infantil. O futebol do "escrete" de 1982 é a minha medida e foi preciso chegar a 2010 para ver na final de um Mundial duas equipas dominadoras, quase sem réstia de cinismo. Entre a posse de bola e a vontade de atacar da Holanda e o "tiki-taka" ofuscante que a Espanha pediu emprestado ao Barcelona, e que o Barcelona importou da Holanda com Cruijff, haverá amanhã uma garantia: ganhe quem ganhar, eu poderei de facto regressar à minha infância e o Telê Santana será finalmente vingado. Não mais se poderá dizer que para ganhar um Mundial é preciso esperar pelo adversário, jogar em contenção e só depois arriscar partir para o contra-ataque. Na África do Sul, o futebol voltou a proteger os audazes.
publicado no i.
sexta-feira, 9 de julho de 2010
A caixa de Pandora das SCUTS
O meu comentário sobre as Scuts e o que elas revelam sobre a política portuguesa na TVI24 (e também sobre o negócio Telefónica/PT e ainda sobre os agrupamentos escolares).
A questão política e ideológica
Para Durão Barroso, não há nada de ideológico nem de político na proibição de golden shares. Trata-se de uma questão jurídica. Claro que é uma questão jurídica, mas é também evidente que não é. Os Tratados vinculam os Estados-membros e era previsível que o Tribunal de Justiça Europeu decidisse pela ilegalidade das acções com direitos especiais na PT, por violação do princípio da livre circulação de capitais. Mas o direito é também um reflexo de opções ideológicas e políticas e não uma codificação de escolhas neutras. E a decisão de impedir os Estados de formalmente deterem direitos especiais em empresas de sectores estratégicos é tudo menos neutra. Serve, aliás, para revelar como a Europa optou por evitar confrontar-se com os problemas do edifício regulatório que estava a construir. Hoje, os Estados têm menos direitos que o mercado e, consequentemente, os poderes políticos nacionais encontram-se feridos de morte, sem que exista uma entidade europeia que desempenhe as funções que no passado cabiam ao Estado. Em muitos aspectos, a solução é boa: os mercados criam riqueza e geram competição; o problema são os sectores estratégicos (dos recursos naturais às telecomunicações). Aí, não podemos esperar que o interesse nacional seja a soma de interesses privados, mesmo que racionais. O bem comum precisa de mercados livres, mas, como provam muitos exemplos pela Europa fora, requer também uma dose de proteccionismo. A menos que a Europa passe a desempenhar a função protectora que no passado desempenharam os Estados-nação. No fundo, a questão política e ideológica que não tem sido debatida.
publicado no i.
publicado no i.
quinta-feira, 8 de julho de 2010
O fim da minha primeira rádio
Quando me perguntam o que mais gosto de fazer na comunicação social, não hesito: rádio. Não vale a pena repetir os conhecidos chavões, mas a rádio é mesmo especial. Desde logo porque, ao contrário do que acontece na TV – onde as pessoas no essencial vêem-nos – ou nos jornais – onde há cada vez menos gente que de facto lê o que se escreve –, na rádio somos mesmo escutados. Hoje aconteceu o que estava escrito há bastante tempo. O Rádio Clube fechou e agora não vale a pena discutir sobre o que correu mal. Foi no Rádio Clube que me estreei na rádio e, durante mais de dois anos, por lá fiz de tudo um pouco: comentário político diário, entrevistas e também um programa de música (talvez de todas as coisas que fiz na comunicação social, a que me deu maior satisfação). Foi, também por isso, a redacção onde estive mais embedded e só guardo boas recordações da estação. Aliás, também nas redacções as rádios parecem ser diferentes dos outros media, com uma relação que é única entre jornalistas, animadores e técnicos de som. O pouco que sei sobre como se fala na rádio, foi lá que comecei a aprender, pelo que é com tristeza que sei do fim do Rádio Clube, mas, acima de tudo, é com tristeza que sei que haverá um conjunto de pessoas, nas quais vi sempre muito empenho, competência e talento, que estarão numa situação bem difícil. É para eles o meu abraço.
quarta-feira, 7 de julho de 2010
Determinismo sociológico
Mesmo com todo este calor, a minha escolha vai para tipos que usam camisas - e tudo o resto - assim. (o que me recorda que alguém devia fazer um filme desta música)
segunda-feira, 5 de julho de 2010
domingo, 4 de julho de 2010
O maior gajo do mundo agora passou a ser este
Um tipo como os que havia no futebol antigamente e além do mais tem o melhor dos nomes próprios.
sábado, 3 de julho de 2010
Fazer a diferença
"Depois de mim virá quem de mim bom fará." A asserção é particularmente verdadeira quando falamos da política portuguesa. É sabido que um ministro impopular, que tenha revelado coragem para enfrentar os interesses da sua área de actuação, será tão vilipendiado enquanto estiver no poder, como elogiado assim que o deixar. De Leonor Beleza a Correia de Campos, há muitos exemplos de ministros muito impopulares que, uma vez feitos ex-minis- tros, passaram a ser exemplos a seguir, o que diz muito sobre as condições políticas efectivas para reformar as políticas públicas. Maria de Lurdes Rodrigues é talvez um dos exemplos mais acabados desta tendência. Seis meses após ter saído do governo, o que era ontem a sua marca mais distintiva - a incapacidade negocial - desapareceu, para ser agora ocupada por uma nova qualidade - coragem política. Muitas das vezes toma-se por reforma uma medida que desencadeie contestação política e social. Mas o que distingue uma reforma é, acima de tudo, a irreversibilidade. No fundo, para parafrasear o título do livro lançado este semana por Maria de Lurdes Rodrigues, a irreversibilidade é que "pode fazer a diferença". E o legado da ex-ministra da Educação fez certamente a diferença na defesa da escola pública. Por muita contestação que tenha havido, uma coisa é certa: não regressaremos a um tempo em que não havia escola a tempo inteiro, nem aulas de substituição ou em que os professores não eram avaliados e, de facto, não havia diferenciação na progressão na carreira ou existia complacência com o défice de certificação escolar dos adultos. O que fará a diferença é que os próximos governos não revogarão estes progressos.
publicado hoje no i.
publicado hoje no i.
sexta-feira, 2 de julho de 2010
O desemprego mensal
A propósito do que hoje se foi dizendo sobre os dados mensais do Eurostat (que na verdade não existem), o que me ocorre dizer é isto.
Puxar da pistola
Há um par de anos, um grupo de empresários portugueses lançou um movimento para defender os centros de decisão nacionais. Ricardo Salgado, por exemplo, aquando da OPA do BCP ao BPI, e a propósito do papel do banco espanhol La Caixa, afirmava que o BES "está sempre pronto a colaborar no que se refere à construção de uma solução nacional de oposição a eventuais take overs hostis de estrangeiros". Depois do que se passou na quarta-feira, com a disponibilidade revelada por alguns desses mesmos empresários para enviar a PT para as distritais do campeonato mundial das telecomunicações, fica aqui uma promessa: da próxima vez que me falarem em centros de decisão nacionais "puxo logo da pistola". A questão é suficientemente séria. O que está em causa não é a sustentabilidade das contas públicas, é a sustentabilidade do estado-nação, que depende da existência de empresas nacionais internacionalizadas como a PT. E o que fica provado é que não há ninguém com capacidade para defender os interesses do país. É sabido que o mercado é a soma de um conjunto de acções racionais individuais que não resultam necessariamente numa opção estratégica racional. No caso da oferta pela Vivo, é de facto racional para os accionistas privados, a precisarem de liquidez, vender à Telefónica. Mas a consequência desta soma de acções individuais é só uma: amputar a manutenção da PT como empresa com escala e dimensão. O Estado pode usar a golden share para bloquear o negócio, mas o mais provável é a opção ser ineficaz. No fundo, a situação do país é mesmo insustentável: com empresários a apostarem no curto prazo e a desprezarem o interesse estratégico e um Estado frágil, que age com uma ilusão de poder que já não tem, podemos mesmo estar condenados.
publicado no i.
publicado no i.
Subscrever:
Mensagens (Atom)