quinta-feira, 29 de janeiro de 2015
quarta-feira, 28 de janeiro de 2015
Pouca Pedalada
No lançamento da partida de ontem, e a propósito das contratações do mercado de inverno, Jorge Jesus deixou, com razão, um aviso aos novos jogadores: para entrar na equipa era preciso ter "muita pedalada". Imagino que o treinador estivesse a pensar na organização coletiva e na intensidade com que o Benfica joga. Ora o Benfica de ontem foi uma equipa com muito pouca pedalada.
Desde logo, o nervo com que o Benfica se tem apresentado em todos os jogos faltou. Estranhamente, a derrota do FC Porto na véspera, que deveria ter dado uma confiança extra, acabou por se revelar contraproducente. Em particular na segunda parte, viu-se um Benfica enervado com a responsabilidade. Exatamente o contrário do que tem sido hábito esta temporada, em que, sob pressão, o Benfica não falha e, em muitos momentos, supera mesmo as suas insuficiências (uma delas, aliás, sobejamente conhecida - a forma como defende do lado esquerdo).
Mas
não foi apenas uma estranha nervoseira que marcou a partida de ontem. O
que tem sido uma das mais-valias do Benfica, e que torna a equipa
particularmente poderosa face a adversários muito fechados, é a força do
seu jogo interior, que permite em situações de ataque organizado
colocar vários jogadores em posição privilegiada entre o meio-campo e a
defesa adversários. Ontem, isso aconteceu pouco: seja porque Talisca
andou perdido, seja porque a saída de Samaris expôs a equipa, seja
porque Lima não mais se encontrou após desperdiçar o penálti.
No fim, sobram as palavras motivadoras de Luisão: "Continuamos com o nosso trabalho". É que os campeões fazem-se de talento, mas, também, de muito trabalho.
P.S.: A propósito da grande penalidade favorável ao Benfica, cabe dizer uma coisa: no futebol de hoje, fazer tiro ao braço dentro da área arrisca tornar-se a mais eficaz das jogadas. Um absurdo, a menos que os árbitros defendam a amputação dos braços dos defensores.
publicado no Record de ontem
segunda-feira, 26 de janeiro de 2015
quinta-feira, 22 de janeiro de 2015
Bernardo: jogador adepto
Terá sido Tony Adams, mítico capitão do Arsenal, que
disse que "se jogares pelo nome inscrito na frente da camisola, os
adeptos recordarão o nome inscrito nas costas". A frase fixa uma visão
romântica do futebol, de um jogo que já não existe, onde a figura do
jogador-adepto era uma possibilidade realista.
Os tempos "desportivos" já não estão para isso. Nós,
benfiquistas, não mais devemos esperar exemplos como os daqueles que
resistiram às propostas materialmente tentadoras de clubes mais (novos)
ricos, no momento da fundação - mantendo o espírito popular, definido
pelo grande Cosme Damião na Farmácia Franco.
Vivemos por isso uma tensão permanente: queremos
perpetuar uma visão romântica do futebol, própria do adepto, mas a
realidade chama-nos de forma sistemática.
O Bernardo era uma raridade e um resquício de um
passado que teima em nos abandonar. Jogador adepto como nós, mas com o
talento com que todos sonhamos. Uma predisposição natural para jogar
futebol (que, como é sabido, é daquelas coisas que não se aprende, nem
se ensina, mas que se vislumbra logo no primeiro toque na bola) e, a
pairar sobre isso, um amor filial ao Glorioso.
Há mais de um ano, escrevi no Record que "de quando em
quando surge um jogador adepto como nós, mas com o talento que
ambicionámos ter. Um sofredor que tem a sorte de poder sofrer no
relvado, de camisola ao peito. Há jogadores profissionais que honram a
camisola; mas uma coisa é jogar com afinco, outra é jogar com afinco com
a camisola do clube do coração. Momentos há em que, numa espécie de
epifania, ao adepto se junta o empenho e o talento. É desta conjugação
que nascem os jogadores que nos fazem sonhar".
O texto era sobre o Bernardo. O mesmo Bernardo que, num
desfecho anunciado, mas que nos procuraram esconder de forma tosca,
deixa agora o Benfica, onde na verdade nunca chegou a jogar.
Bem sei que, nos tempos modernos, o que nos prende a um
clube são as camisolas, a ideia de equipa e os jogadores que (muito)
transitoriamente as vestem com profissionalismo. Sei também que um clube
português não tem condições financeiras para rejeitar ofertas de 15
milhões por projetos de jogador (por muito que gostemos do Bernardo, é
ainda o que ele é). Mas, o adepto que há em mim vive com frustração os
choques com a realidade.
No prolongamento da infância e fuga ao real, que são as
formas como vivo o futebol, o Bernardo seria o nosso capitão, marcaria
golos atrás de golos e o seu pé-esquerdo resgataria a memória infantil que guardo
do Chalana. Sei bem que nada será como eu sonhei, mas
sei também que teremos cá o Maxi e o Luisão para mostrarem como o amor à
camisola também se aprende; o Talisca para alimentar fantasias; o
Gaitán para nos fazer crer que podemos ambicionar toda a grandeza e o
Gonçalo Guedes para fazer de Bernardo. De resto, podemos sempre manter a
esperança de que, um dia, o Bernardo se cansará do sucesso desportivo e
material e, como o nosso Rui Costa, nos concederá (e conceder-se-á) a
Glória de regressar à Luz.
publicado no Expresso online de ontem.
quarta-feira, 21 de janeiro de 2015
O Capitão
Quando não há Gaitán, ganha-se com Salvio, quando não mesmo com Ola John. Foi assim no Caldeirão e a máxima pode aplicar-se a qualquer jogo do Benfica deste ano. À primeira vista, a explicação para a facilidade com que se substitui um jogador por outro está num plantel com mais talentos do que parecia, que aguardam a oportunidade para se afirmarem.
Mas, como é sabido, talento não chega. A grande vantagem do Benfica reside na organização coletiva – em princípios de jogo de tal forma trabalhados que, jogue quem jogar, já sabe o que deve fazer. Regressamos ao mesmo: não joga Gaitán, joga Salvio; não joga Salvio, joga Ola John e se o Ola John não puder jogar, joga o “Manel”.
No fundo, a equação vitoriosa resumir-se-ia a uma soma de talento com organização coletiva. É em parte verdade, mas está longe de ser toda a verdade. Não basta talento e organização para vencer, é preciso também liderança.
Na Madeira, o Benfica foi, por força do talento dos jogadores e da organização trabalhada pelo treinador, avassaladoramente dominante, mas vale a pena recordar a liderança decisiva do capitão Luisão.
Os
números são de outro tempo: 11 temporadas de águia ao peito, 440 jogos,
que fazem dele o 9º jogador que mais jogou pelo Benfica, igualando
Eusébio. São poucos os que, no futebol de hoje, jogam tanto tempo pelo
mesmo clube. Mas é mais do que isso que está em causa.
Ao longo de 11 anos, Luisão viveu o suficiente no Benfica para poder liderar. Perdeu, venceu, mudou de treinador. Acumulou experiência. O que lhe dá uma voz de comando única. Mas nada disto seria possível sem a inteligência prática que resumiu bem, numa já longínqua entrevista ao “Expresso”, definindo o que compete a um central: “não está ali para fazer salada, mas sim arroz com feijão”. Jogar simples é uma forma de inteligência prática. Luisão lidera pela experiência e pela sabedoria que coloca em campo.
publicado no Record de ontem.
sexta-feira, 16 de janeiro de 2015
quinta-feira, 15 de janeiro de 2015
A diferença que faz
É tentador pensar que um grande guarda-redes se avalia pelo número de defesas extraordinárias que faz. Julgo tratar-se de um equívoco. Um grande guarda-redes vale não tanto pelo que defende, mas pelo que não chega sequer a precisar de defender e o que oferece taticamente à equipa. É precisamente isto que faz de Júlio César, aos 35 anos, um extraordinário guarda-redes, à medida de um clube grande.
Talvez valha a pena recuar à temporada transacta ou ao início desta para se perceber o que está em causa.
O ano passado, por esta altura, depois de um jogo em sofrimento em Olhão, uma lesão providencial de Artur afastou o brasileiro da baliza e deu, finalmente, a titularidade a Oblak. O Benfica, com a mesma defesa, baixou drasticamente o número de golos sofridos, ao mesmo tempo que o esloveno não fazia mais do que um par de defesas por jogo. Com Artur, a equipa tremia que nem varas verdes, recuava no terreno e os defesas só em último recurso atrasavam a bola ao guardião. Oblak acabaria por se revelar decisivo ao tranquilizar a equipa. Este verão, a saga regressou, ao ponto do Benfica ter dado literalmente dois pontos em casa ao Sporting, apenas porque a equipa não podia confiar no guarda-redes.
Tudo isto se tornou, de novo, mais claro com a titularidade de Júlio César. Com a chegada do internacional brasileiro, a defesa tranquilizou-se, pôde avançar no terreno vários metros e, acima de tudo, o guarda-redes ofereceu um controlo da profundidade notável. Já no ocaso da carreira, talvez Júlio César não seja um guardião tão espetacular a defender como Oblak, mas com ele o Benfica ganha um jogador de campo extra que confere grande qualidade na primeira fase de construção. Com a bola nos pés, Júlio César distingue-se pouco dos defesas centrais.
A diferença que faz num clube grande um guarda-redes taticamente maduro, tranquilo e que sabe jogar com os pés.
publicado no Record de terça-feira
terça-feira, 13 de janeiro de 2015
"boring though, in a joan baez sorta way"
este foi um dos discos que mais ouvi em 2014. Nos comentários a esta sessão no Tiny Desk da NPR, aparece a descrição mais precisa da música que os Luluc fazem: "boring though, in a joan baez sorta way". Julgo tratar-se de um elogio.
quarta-feira, 7 de janeiro de 2015
terça-feira, 6 de janeiro de 2015
A hora de Gaitán
O futebol é fantástico. De onde quer que o observemos, revela-nos sempre um ângulo interessante. O futebol baseado numa vertigem atacante fascina, mas podemos bem desfrutar com igual entusiasmo do ataque organizado em toada lenta – da mesma forma que não devemos menosprezar uma organização defensiva monotonamente compacta. Quem só aprecia um estilo de futebol e se convence que a virtude está, apenas, em ataques estonteantes, ainda não entrou na maturidade da relação com o desporto rei.
Todas as vitórias têm um encanto particular. Sim, deixei-me levar pelo título ganho pelo carrossel alucinante montado por Jesus no primeiro ano; mas guardo igual memória de campeonatos conquistados por equipas burocráticas que exibiam um modo administrativo de jogar: uma tarefa para cumprir (vencer jogos), alcançada com o máximo de eficiência. Foi assim em 86/87, aquando da segunda passagem de Mortimore; em 04/05 com Trappatoni e, sejamos, realistas, é este o caminho possível para o título este ano.
Bem sei que as vitórias trazem confiança e uma margem pontual confortável é o tónico perfeito para boas exibições. Tudo isso é verdade, mas o Benfica de 14/15, em reconstrução permanente, só será ganhador se for uma equipa em modo administrativo.
Há, contudo, mais paralelismos entre esta temporada e as de 86/87 e 04/05. Agora como então, a organização burocrática da equipa exigiu de um só jogador um esforço adicional. Diamantino e Simão tiveram de ser jogadores desequilibradores, capazes de dar o suplemento de criatividade que as equipas não tinham. Hoje, o Benfica dependerá de Gaitán para a mesma função. O que exige mais do argentino. Não lhe bastará ser o extremo talentoso que conhecemos. Nesta segunda metade do campeonato, Gaitán terá de ter maior versatilidade tática e a responsabilidade acrescida de ligar sectores. Com a saída de Enzo e com um plantel menos forte, é a hora de Gaitán.
publicado hoje no Record
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