"I hope the fences we mended
Fall down beneath their own weight"

John Darnielle

padaoesilva@gmail.com

sexta-feira, 31 de julho de 2009

Um choque social

Numa altura em que as ideologias contam pouco, a crise económica e a competição dos partidos à esquerda trouxeram as prioridades sociais para o topo da agenda do PS. O realismo fez com que o lugar que antes era ocupado pelo “choque tecnológico” esteja, hoje, preenchido por um “choque social”.
A este propósito, podemos distinguir dois tipos de compromissos no programa eleitoral.
Um primeiro que tem a ver com o aprofundamento do que foi feito na anterior legislatura (ex. a diferenciação positiva das carreiras contributivas mais longas e a densificação da rede de creches com horários alargados). Um segundo que se prende com inovações que, ao mesmo tempo que podem ter um enorme alcance social, serão financeira e administrativamente muito exigentes. É disto exemplo paradigmático a prestação para as famílias trabalhadoras com filhos, que se encontram em risco de pobreza.
É uma medida ambiciosa, dirigida ao problema social mais premente: os trabalhadores de baixos salários. Simultaneamente, é o mais forte dos incentivos à activação dos beneficiários da rede de mínimos sociais. A enunciação programática é ainda vaga, mas, a ser levada à letra, o que está em causa é, de facto, uma espécie de majoração do rendimento mínimo para quem está no mercado de trabalho. Enquanto o RSI tem como referencial a pensão social (187 euros), a linha de pobreza encontra-se aproximadamente nos 400 euros. Estamos, por isso, não apenas a falar de um universo de agregados familiares muito grande (todas as famílias que tendo adultos no mercado de trabalho têm rendimentos per capita inferiores à linha de pobreza), como, potencialmente, de prestações diferenciais com montantes muito significativos.
A diferença estará nos detalhes no desenho da medida, mas o seu alcance será equivalente ao do rendimento mínimo garantido e do complemento solidário para idosos. Resta saber se haverá recursos suficientes para o fazer de um modo abrangente.

publicado no i como comentário ao programa do PS para as áreas sociais.

quinta-feira, 30 de julho de 2009

As raparigas do coro



"I loved you for your beauty
but that doesn't make a fool of me:
you were in it for your beauty too
and I loved you for your body
there's a voice that sounds like God to me
declaring, declaring, declaring that your body's really you"
L.C.

Desacantonar a política fiscal

Nos últimos anos, Portugal desenvolveu uma rede de mínimos sociais à imagem dos Estados Providência consolidados. Ainda que a pobreza continue a ser a questão social predominante, o caminho passa agora por aumentar a eficácia e a eficiência das políticas existentes. Mas este sucesso relativo aumenta a visibilidade de problemas sociais persistentes. À cabeça a pobreza entre os trabalhadores. Com uma mediana salarial que pouco ultrapassa os 700 euros, há uma classe média literalmente ensanduichada entre as famílias que beneficiam de mínimos sociais e aquelas que têm recursos suficientes. Responder a este grupo é a prioridade do próximo ciclo político.
Acontece que esta resposta já não pode ser dada apenas através da protecção social. Assenta num esforço de densificação dos serviços de apoio às famílias, adequando-os às necessidades de quem está no mercado de trabalho, mas implica, essencialmente, que a política fiscal e a política de emprego assumam maiores responsabilidade sociais. Este movimento requer uma ruptura, desde logo com o património político do PS: a política fiscal não pode continuar acantonada, assumindo escassamente o seu papel redistributivo e solidário. É preciso redistribuir mais e redistribuir mais a favor dos que estão no mercado de trabalho mas vivem uma dupla precariedade: de rendimentos e contratual. Portugal precisa, naturalmente, de modernizar o seu padrão de especialização económico, mas não o pode fazer se não for capaz de fazê-lo solidariamente. Espero por isso que, no programa eleitoral do PS, a política fiscal seja também um instrumento de política social.

publicado no i, como resposta à pergunta: "o que deveria ser o programa de governo?"

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Cum caraças.

Pablito



"Uma vez perguntaram-me quem contratava se tivesse 100 milhões do dólares e respondi Pablito. Tem uma técnica fora do normal e uma visão fenomenal."
Juan Sebastian Verón ao i.

Da onda que se vê no mar



“Um surfista olhando o mar...está vendo ou está sendo?”, pergunta o Pepê César. Raro é o dia que não me cruzo com esta citação, que encabeça a Goiabada do Júlio Adler. Quando a leio, quase fico com a certeza que o modo como se olha o mar é indicador absoluto do nosso temperamento. O surf enviesa esta minha percepção, mas o meu “léxico familiar” é também decisivo.
Contam as “lendas familiares” que o meu Avô paterno tinha por hábito perguntar aos jovens que se apresentavam, se gostavam de pescar. Perante a surpresa e as frequentes respostas negativas, o meu Avô logo atirava, de modo directo: “não é, portanto, dado à contemplação”. O meu Avô nunca pescou, pese embora tentativas frustradas de aprender a arte, nos Verões dos anos cinquenta, com os pescadores de uma Ericeira de praias desertas e de ondas sem surfistas. Mas, sendo ele próprio um contemplativo, sabia que o mar encerrava o espaço adequado para o espírito se absorver. A pesca era um pretexto – como o surf? – para virar as costas ao mundo e fixar-se na natureza essencial das coisas. Olhando. Pescar ou não, seria, para ele, certamente uma irrelevância. O que importava era a disponibilidade para a ideia de pescar.
O escritor italiano Italo Calvino nunca surfou e não sei se alguma vez se dedicou à pesca. Mas Palomar, o seu último livro, publicado um par de anos antes da sua morte (1985), começa com uma leitura de uma onda. Não se trata, é verdade, de uma leitura contemplativa. Afinal, lembra Calvino, para a contemplação é necessário um temperamento, um estado de espírito e um conjunto de circunstâncias externas adequadas e no Senhor Palomar nenhuma destas três condições se verificava. Não por acaso, Palomar enfrenta dificuldades para ler a onda, para a interpretar: “isolar uma onda, separando-a da onda que imediatamente se lhe segue e que parece empurrá-la, e que por vezes a alcança e a arrasta consigo, é muito difícil; assim como separá-la da onda que a precede e que parece arrastá-la atrás de si em direcção à costa, salvo quando depois, eventualmente, se volta contra ela, como que para a deter.”
Ao longo de cinco páginas, a descrição detalhada de Calvino serve para revelar um paradoxo: enquanto ao Senhor Palomar faltavam as competências para ler a onda, o que lhe provocava tensão, para nós, surfistas, é fácil descodificá-la e ao olharmos para uma onda somos apenas envolvidos por um desejo intenso, ainda que de calmaria.
Enquanto o Senhor Palomar sofria com a identificação do percurso visual adequado para seguir uma onda, os surfistas partilham um olhar sequencial quando olham o mar. Contemplamos todos do mesmo modo as ondas: primeiro, as linhas que se aproximam, logo depois o sítio onde a onda começa a quebrar, formando as primeiras espumas; seguimos então o pocket, tentando perceber onde a onda se reforma e abre espaço para reganharmos velocidade através das várias junções, até ao momento em que a onda se desvanece por ter encontrado um excesso de água ou, pelo contrário, fecha, fazendo-nos voltar ao início. Por mais ondas que se ergam no mar, é este invariavelmente o caminho mental que percorremos quando as vemos.
O que para os outros se afigura difícil de “ler” é, para os surfistas, natural, surge com facilidade e quase parece ser parte de nós. O surf provoca um desejo de acção, de remar para as ondas e deslizar na sua superfície. Mas, mesmo que não sejamos dados a pescarias, dá-nos também um entendimento do mar que é feito de uma inescapável inclinação contemplativa. É por isso que, depois de embrenhados no surf, quando olhamos para o mar já não estamos apenas a ver. Estamos também a aproximar-mo-nos de nós mesmos. A ser.

publicado no Sal na Terra e um pretexto para anunciar que o Senhor Palomar anda pela blogosfera.
(tal como no livro, a foto é do Ricardo Bravo)

terça-feira, 28 de julho de 2009

Gráficos que impõem respeito


ainda a propósito disto.

Prometer Empregos

Para quem está no poder, um novo ciclo assenta na avaliação combinada do que foi feito com o que de novo se propõe.
Não por acaso, o PSD, assim que o PS apresentou as suas linha programáticas, veio chamar a atenção para as promessas não cumpridas nos últimos cinco anos. E, nesta legislatura, promessas não cumpridas é sinónimo de 150 mil postos de trabalho.
Sejamos claros: não fazem sentido promessas quantificadas em torno de objectivos cuja concretização não depende exclusivamente da acção governativa. Este é o caso da criação de emprego. Estando descartada a possibilidade de criar emprego público, o mais que o Estado pode fazer - e está longe de ser pouco - é criar condições que estimulem o emprego privado e intervir nos factores que alteram o padrão de especialização da nossa economia. Ora esta intervenção pública só produz efeitos no médio prazo e a sua avaliação não é compaginável com metas quantificadas.
Dito isto, o que é que aconteceu, de facto, aos 150 mil postos de trabalho?

a resposta está no meu artigo de hoje no Diário Económico.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Não peço desculpa, vou votar PS

Durante muito tempo, o “não merece, mas vote PS” do O’Neill foi a melhor forma de explicar os sucessos eleitorais relativos (literalmente) do PS. Agora já não o é. Depois de uma primeira maioria absoluta, o PS deixou de ser um partido que ocupava uma posição relativamente central e que por isso causava poucos anti-corpos da esquerda à direita para passar a ser um partido que governou, de facto, e com isso passou a centrar todos os descontentamentos. A experiência foi tão intensa que, hoje, sinal dos tempos, a “nacional situacionista” criou uma barragem tal que alguém que diga que vai votar PS tem antes de pedir desculpa. Não me é difícil fazer uma longa lista de coisas que gostava que este Governo tivesse feito diferente. Mas, eu, de facto, não peço desculpa: vou votar PS porque, ao contrário do que pensa o condutor moral Louçã, a política é mesmo uma negociação e só o PS é capaz de negociar um País onde modernização se combine com solidariedade. Ao mesmo tempo, só o PS o pode fazer ancorado na esquerda e envolvendo gente politicamente variada, que vai, a título de exemplo, do Miguel Vale de Almeida ao Luís Amado. Ora se calhar é mesmo isso que deve ser feito nos próximos anos: negociar mais e fazê-lo com gente mais variada.
também publicado no SIMplex.

Uma história de sucesso

As nossas sociedades vivem sob o espectro do envelhecimento.
Não deixa de ser paradoxal que o que durante muito tempo foi uma ambição quase utópica, uma vez concretizado, se tenha transformado na questão social dominante.
O efeito conjugado da melhoria dos cuidados de saúde, do ‘baby-boom' do pós-guerra e da actual baixa da natalidade, criou um mundo em que, pela primeira vez, o número de pessoas com mais de 65 anos superará o de crianças com menos de cinco. Esta é uma história de sucesso, mas torná-la sustentável passou a ser um desafio difícil de enfrentar.
Portugal encontra-se, a este como a muitos outros respeitos, numa situação particularmente preocupante: combina traços de modernidade (é um dos países mais envelhecidos) com marcas do passado persistentes. O que faz com que estejamos a envelhecer mais depressa do que a enriquecer, muito por força de taxas de emprego elevadas, mas assentes em baixos salários, o que tem levado a um declínio da fertilidade. Precisamos, por isso, de continuar a aumentar a qualidade de vida dos nossos idosos - libertando-os da pobreza e garantindo melhores cuidados de saúde - mas temos de criar condições para que seja possível compatibilizar trabalho com a possibilidade de ter filhos. A escola a tempo inteiro e a universalização da rede de pré-escolar foram passos decisivos nesse sentido. O desafio agora é, por exemplo, aumentar a taxa de cobertura de creches, dos actuais 30% para um valor que permita de facto compensar o envelhecimento da população com o nascimento de mais crianças.

texto publicado no Diário Económico como comentário a este estudo.

sábado, 25 de julho de 2009

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Os problemas da visibilidade

Uma das reformas eternamente reclamadas pelos partidos na oposição, mas logo abandonada uma vez chegados ao poder, é a do Parlamento. Esta verdade com lastro foi colocada em causa nesta legislatura. Foi aprovado um novo regimento, por vontade de uma maioria absoluta, e São Bento ganhou uma nova centralidade no debate político. Nada disto aconteceu sem que velhos problemas se tornassem mais visíveis e que novos fossem revelados.
Apesar de, por força da maioria absoluta, os equilíbrios parlamentares não terem sido determinantes para a governabilidade, a disputa política no Parlamento foi muito visível. Este contexto expôs o primeiro-ministro a um nível de sindicância que não encontra paralelo na democracia portuguesa, mas revelou que a nossa cultura política não está ainda preparada para debates sistemáticos que vão para além de velhos vícios. Para que os debates plenários combinem visibilidade com eficácia têm de se centrar mais nas políticas e menos na política, o que implicará uma participação mais activa dos ministros.
Mas esta legislatura fica também marcada por um nível de conflitualidade inédito entre Belém e Parlamento. Os 11 vetos de Cavaco Silva – que comparam com 5 de Soares e 4 de Sampaio – foram todos a Leis da Assembleia, muitas delas assentes em maiorias mais amplas do que a governamental. Nunca saberemos se a escolha do Parlamento como objecto de dissensão foi uma forma de enfrentar a maioria governamental através de um elo com pior imagem pública (o Parlamento), ou se foi apenas acaso. Mas em política não costuma haver coincidências.
artigo publicado no DN a propósito dos trabalhos parlamentares durante esta legislatura.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

A alegria do povo



Quem não se emociona com isto, não anda cá a fazer muita coisa.
(roubado ao Manel)
p.s.
espero muito do fruto da jovem rapariga que por ali se vê com o Kun Aguero.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Bons tempos para se estar vivo



"I used to be darker, then I got lighter, then I got dark again
Something to be seen was passing over and over me
Well it seemed like the routine case at first
With the death of the shadow came a lightness of verse
But the darkest of nights, in truth, still dazzles
And I wore myself until I'm frazzled"

Há desejos que não precisam de ser concretizados. Ao contrário do que sugere o título - Sometimes I wish we were an eagle -, o novo álbum de Bill Callahan é mesmo feito por uma águia (se bem que fique a dúvida sobre até onde se estende o plural). A música que nele se ouve paira alta, é contida e, olhando para as coisas à distância, confere-lhes perspectiva. À voz grave e às guitarras no sítio certo, junta-se desta vez o mais coerente conjunto de canções que Callahan alguma vez fez. Canções que ganham uma textura mais rica, agora que definitivamente o ex-Smog optou por arranjos com mais orquestrações e com um naipe de instrumentos mais diverso. John Darnielle, o líder dos Mountain Goats, escreveu no seu blog, a propósito deste disco, que "someday you will brag that you were around when stuff this good was being written". Convém não deixarmos passar muito tempo até esse momento, acrescentaria eu.

terça-feira, 21 de julho de 2009

A classe média portuguesa

Frequentemente, quando se fala de classes médias em Portugal julgamos estar a falar de agregados com rendimentos em redor dos 2 mil euros mensais. Convém, no entanto, ter presente que a mediana salarial no sector privado encontra-se em redor dos 700 euros, ou seja, 50% da população portuguesa ganha até 700 euros (valor que aumenta se considerarmos o emprego no sector público). Ora são estas famílias que compõem o grosso da classe média. Para aliviar a sua situação material não podemos recorrer às políticas de protecção social, ao mesmo tempo que não podemos ficar à espera que o padrão de especialização da economia portuguesa se modernize o suficiente para permitir ganhos salariais significativos. Qual é o caminho que resta? Recorrer a instrumentos fiscais que redistribuam a favor das "famílias sanduíche", naturalmente retirando benefícios a quem tem rendimentos bem acima da mediana. Pode ser impopular dizê-lo, mas se nada for feito, estamos condenados a ter um conjunto crescente de famílias para as quais a ausência de expectativas sociais se transformará inevitavelmente numa desafectação face ao sistema político.
do meu artigo de hoje no Diário Económico.

sábado, 18 de julho de 2009

É fazer as contas

Os 14 redactores do documento provêem de diversas áreas (economia, universidade e cultura) e assumem-se como independentes. São eles: Ana Luísa Amaral, Ana Maria Pereirinha, António Pinto Ribeiro, Clara Macedo Cabral, Isabel Allegro de Magalhães, Isabel Hub Faria, Jean Barrocas, Joana Rigatto, João Ferreira do Amaral, João Sedas Nunes, Laura Ferreira dos Santos, Luís Filipe Rocha, Luís Moita, Luís Mourão, Margarida Gil, Maria do Céu Tostão, Maria Eduarda Gonçalves, Maria Helena Mira Mateus, Maria Manuela Silva, Mário Murteira, Mário Ruivo, Miguel Caetano, Philipp Barnstorf, Teresa Pizarro Beleza e Soromenho Marques.
Do Público online.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Dilemas insuperáveis

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Quem é afinal da classe média?

O Francisco José Viegas insurge-se aqui contra a prioridade que o PS pretende dar às classes médias no próximo programa eleitoral. Para ele, mais do que qualquer tipo de apoio, a classe média caracteriza-se por "querer que a deixem em paz – e que, por favor, não se ocupem dos seus interesses. Basta que não atrapalhem." Quando leio estas afirmações, fico sempre com a sensação de que anda tudo a falar de classes médias diferentes e que a classe média está para as prioridades políticas como o liberalismo para os princípios. Todos se declaram liberais, do mesmo modo que todos querem ajudar a classe média. O problema é quando se tem de passar dos posts à prática. Talvez a melhor forma de definir classe média acabe por ser através dos rendimentos e o problema em Portugal - como aliás mostram os dados do INE publicados ontem - já não são essencialmente (sublinhe-se o essencialmente) as formas mais severas de pobreza, que têm hoje já um conjunto de respostas, mais ou menos eficazes, mas que produzem resultados. O problema é mesmo que o salário mediano no sector privado está em redor dos 700 euros, ou seja, 50% da população portuguesa ganha até 700 euros (suspeito que o emprego no sector público faça subir ligeiramente o valor da mediana). Imagino que seja isto a classe média, a maioria dos portugueses que já não é abrangida por mecanismos de protecção social, mas que trabalha e tem salários muito baixos. Talvez valha a pena perguntar a estes portugueses se foram assolados por uma pandemia liberal e se não querem ser atrapalhados por políticas públicas que perturbem a sua paz. A paz de quem vive, note-se, com 700 euros por mês.
(a propósito do diferencial salarial entre sector privado e público, acabei de encontrar esta notícia de hoje).

Léxico familiar

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Ter quinze anos


A partir das onze horas de Lisboa, vou estar aqui, de novo com quinze anos e pronto para assistir ao desempate. Que ganhem os dois.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Excesso de licenciados?

para quem investiu numa licenciatura, o desemprego ou um emprego desajustado às suas qualificações gere um sério problema de gestão de expectativas. Ainda assim, por muito que isso frustre as expectativas dos próprios, colectivamente temos a ganhar se mesmo profissões que tradicionalmente não requerem licenciaturas forem desempenhadas por licenciados. É uma situação difícil de gerir para quem a vive, mas, por exemplo, um taxista licenciado em direito desempenhará melhor a sua profissão do que um taxista com problemas de literacia ou incapacidade de falar línguas estrangeiras e ter uma licenciatura ajudará, certamente, a que tenha expectativas realistas de mobilidade profissional. O problema não é haver muitos juristas, é continuarmos a pensar que todos os juristas vão ser advogados ou juízes.

do meu artigo de hoje no Diário Económico.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

O exemplo da Fiorentina



Há uns anos, assisti ao que pensava ser um processo improvável. A Fiorentina acabou como clube de futebol, entrou em insolvência e foi afastada dos campeonatos profissionais. Ao mesmo tempo, era criado um novo clube, com outro nome, mas que começava a competir desde as primeiras divisões regionais. Uns anos passados, a Fiorentina refundada está de regresso à série A e voltou a ser uma das “sette sorelle” que dominam o futebol italiano. Ou seja, há certas alturas em que o melhor que as instituições podem fazer mesmo é refundarem-se. Começarem tudo de novo. Quando leio notícias sobre o triângulo entre o PS nacional, o PS Porto e a candidata Elisa Ferreira, fico sempre com a sensação que o melhor que havia a fazer era reconhecer a situação de insolvência e começar de novo. Todos, militantes e independentes.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Prioridades


Ricardo, falar com o Amarante? Para cumprir a profecia do poeta que citas, não teria sido mais compreensível se tivesses ido ter com esta rapariga?

terça-feira, 7 de julho de 2009

A telescola ao contrário

Hoje o i tem uma entrevista onde Filomena Mónica revela as preciosidades do costume. A Ler deste mês tem uma excelente entrevista a Vasco Pulido Valente, que está naturalmente a anos luz da de Filomena Mónica. Contudo, ficamos a saber que ambos partilham uma característica: não saem de casa e não escondem a misantropia, que só pode coexistir com um desconhecimento profundo da vida das pessoas que existem mesmo, fora do saber livresco. Para quem gosta tanto de glosar, de modo aparentemente sofisticado, a expressão “isto só em Portugal”, é caso para dizer mesmo: só em Portugal é que é possível fazer carreira académica e, mais relevante, surgir como eminência intelectual, ao mesmo tempo que se faz gala em afirmar que se desconhece a realidade. Não há mal nenhum na misantropia, e até há boas razões para a atitude, mas a misantropia limita também a possibilidade de falar com propriedade do que de facto se passa e existe “à volta”. Depois, fico sempre com uma dúvida: não é no mínimo estranho que quem tem responsabilidades académicas em instituições públicas se vanglorie de estar sempre em casa? Estamos perante uma telescola ao contrário, onde são os alunos que estão na escola e os professores em casa? Ou contactar com alunos, orientá-los e dar aulas deixou de fazer parte das exigências de uma carreira académica, mesmo que de investigador emérito?

Aumentar impostos

Em Portugal, estamos abaixo da média europeia em carga fiscal, no entanto, temos um nível de desigualdades que nos envergonha colectivamente. E a verdade é que são os países com uma maior carga fiscal, mas, também, com maior progressividade nos seus sistemas fiscais, aqueles onde as desigualdades são menores. Seremos capazes de romper este bloqueio? Aparentemente não, já que vivemos armadilhados numa teia onde os políticos temem falar dos impostos como instrumento de promoção de justiça social. Ora, conjuntamente com as políticas de mínimos sociais, a utilização do sistema fiscal é uma das formas mais eficazes de compensar desigualdades de rendimentos excessivas, formadas no mercado.

do meu artigo de hoje no Diário Económico.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

I've a dream



Tenho uma secreta esperança que esta malta do Crawdaddy reúna todos estes vídeos do concerto dos Mountain Goats e os edite num DVD que depois encimará as tabelas de vendas da Amazon.

O calendário

Com eleições separadas apenas por duas semanas, seria difícil de compreender que os partidos apresentassem o mesmo candidato a dois cargos. Se assim acontecesse, seria a própria possibilidade de vitória dos “candidatos-duplos” que estaria posta em causa. Mas esta decisão do PS é duplamente tardia: em primeiro lugar porque, efectivamente, muda as regras a meio do jogo (apesar de a nova regra fazer todo o sentido); depois porque revela, mais uma vez, que os partidos ou desconheciam os calendários eleitorais ou não são capazes de antecipar problemas. Este episódio das duplas candidaturas é apenas mais um, a somar por exemplo ao facto de se prepararem para apresentar os programas eleitorais no final de Julho (neste aspecto o caso do PSD é manifestamente mais gritante, pois nada se sabe quanto ao programa, o que não sucede no do PS – onde pelo menos desde o último congresso são conhecidas algumas prioridades programáticas).

O provedor

"O provedor interroga-se sobre se a falha relatada por José Manuel Fernandes não terá sido potenciada por falta de “vontade política”, isto é, aconteceu com o manifesto dos 51 mas nunca aconteceria com o dos 28. E isso diz do grau de empenho do jornal numa notícia e na outra, ou seja, da opinião que, sem o declarar, o PÚBLICO expressa sobre os manifestos."
vale mesmo a pena ler o texto de Joaquim Vieira, provedor do Público.

Contraditório


ponto


e contraponto.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

dying is fine, but Death o baby.



No campeonato de bandas de betos com inclinação freak do estado de Nova Iorque, os Ra Ra Riot não perdem por muito para os seus primos chegados Vampire Weekend (aliás, se pensarmos na importância do violoncelo, até ficam manifestamente a ganhar). Aliás, uma das coisas que me ultrapassou no ano passado, foi o hype em torno dos segundos quando comparado com a clandestinidade em que viveu Rhumb Line, dos primeiros. Este Dying is fine - que parte de um poema do e.e. cummings - é uma música do caraças, boa para ouvir no Ipod em viagens de metro.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Maizena

Apesar dos estragos já estarem feitos, espero que o dr. Manuel Pinho tenha o bom senso de se demitir.


A hora da partida soa quando
Escurece o jardim e o vento passa,
Estala o chão e as portas batem, quando
A noite cada nó em si deslaça.

A hora da partida soa quando
as árvores parecem inspiradas
Como se tudo nelas germinasse.

Soa quando no fundo dos espelhos
Me é estranha e longínqua a minha face
E de mim se desprende a minha vida.


Sophia de Mello Breyner Andersen (6 de Novembro de 1919 — Lisboa, 2 de Julho de 2004)