domingo, 27 de fevereiro de 2011
Um futuro incerto
"(...) o mais provável é continuarmos incapazes de compreender de modo inteligível o que nos rodeia. Como recordava há semanas António Costa Silva, parecemo-nos com Fabrizio del Dongo (personagem da "Cartuxa de Parma", de Stendhal), quando, nas arrebatadoras cem primeiras páginas do romance, num único dia, atravessa a batalha de Waterloo, é ferido, cruza-se sem saber com o próprio pai, sempre com perceção escassa do contexto que o envolve. Como ele, navegamos movidos por um conjunto de ambições românticas e, em lugar de proclamações definitivas sobre o futuro, assentes em modelos fechados, precisamos de mais factos e menos asserções teóricas. É a única forma de lidarmos com a contingência que nos rodeia e contrariarmos o del Dongo que tem estado demasiadamente presente nos olhos com que olhamos para o mundo. Seja em relação à crise, ao Médio Oriente ou ao PIB português."
o resto do meu artigo publicado na edição do Expresso de 19 de fevereiro pode ser lido aqui.
sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011
Um bom debate
para seguir aqui. muitas explicações convincentes sobre a incapacidade de antecipar acontecimentos como os das últimas semanas.
Ironias da história
A crer no Washington Post (não encontrei a notícia online), Farouk Hosni está proibido de sair do Egipto, no que aparenta ser o início de uma investigação criminal ao ex-ministro. Não sei se estão a ver quem é.
quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011
Os velhos são o futuro
O Martinho aqui, diz tudo o que há a dizer sobre isto (que se aplica a outras parvoíces): "Podemos acreditar em telhados e céus azuis, mas é no chão com o pé a bater que a fricção da juventude se solta, desamparada e livre. Siga."
quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011
O Josh Lyman ganhou
A vida continua a imitar a ficção e Chicago tem um novo Mayor. Rahm Emanuel (ou Josh Lyman) era, por várias idiosincracias, um improvável candidato à vitória numa eleição uninominal. Mas ganhou e, no fundo, tudo se pode resumir às palavras de um empresário que o apoiava que, mantendo o anonimato, dizia sobre Emanuel, numa reportagem neste fim-de-semana no NYT, qualquer coisa como: "do I like him? it's not about liking".
Escolher em quem se vota raramente é uma questão de "gostar". Com optimismo, podemos ter a sorte de uma ou duas vezes votarmos em alguém de quem gostamos. Não podendo votar no Josh, eu gostava de ter votado neste gajo, que tem manifesto mau feitio, que desagradava a gregos e a troianos e que fez serviço militar em Israel durante a guerra do golfo. Um tipo que não era 'likable'.
segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011
A cantiga é uma arma
Os The National deram um concerto surpresa há duas semanas no Webster Hall em NY. A MTV (aparentemente ainda existe como canal de música) filmou e pode ver-se aqui.
sábado, 19 de fevereiro de 2011
A instabilidade endémica
"(...) A corrida para ver quem censura primeiro dá um retrato fiel do país político: os partidos envolvidos num jogo tático confrangedor, em que, de um lado, temos um Governo com um programa que não é o seu e, de outro, uma oposição que escolheu o caminho da fulanização anti-Sócrates como forma de esconder as suas vacuidades programáticas.
Ora, em lugar desta tensão tática primária, com o espectro de ingovernabilidade sempre a pairar, o que o conjunto dos partidos nos poderia oferecer era capacidade negocial de facto, institucionalizando uma prática de diálogo que teimamos em não ter. Os ajustamentos que necessariamente teremos de fazer só são exequíveis com um pacto social alargado, que dê sustentabilidade e previsibilidade às opções - à imagem do que aconteceu em Espanha. O que temos é um jogo de póquer, desfasado da realidade, no qual nem Governo, nem oposições se mostram disponíveis para abandonar a rigidez das suas posições de partida.
No fundo, torna-se claro que, se as dificuldades não forem suficientes, temos sempre uma garantia: o sistema político cá estará para somar problemas. Talvez assim se perceba a especificidade do mal português e o crescente desajustamento entre partidos e país."
o resto do meu texto publicado na edição do Expresso de 12 de fevereiro de 2011, pode ser lido aqui.
Ora, em lugar desta tensão tática primária, com o espectro de ingovernabilidade sempre a pairar, o que o conjunto dos partidos nos poderia oferecer era capacidade negocial de facto, institucionalizando uma prática de diálogo que teimamos em não ter. Os ajustamentos que necessariamente teremos de fazer só são exequíveis com um pacto social alargado, que dê sustentabilidade e previsibilidade às opções - à imagem do que aconteceu em Espanha. O que temos é um jogo de póquer, desfasado da realidade, no qual nem Governo, nem oposições se mostram disponíveis para abandonar a rigidez das suas posições de partida.
No fundo, torna-se claro que, se as dificuldades não forem suficientes, temos sempre uma garantia: o sistema político cá estará para somar problemas. Talvez assim se perceba a especificidade do mal português e o crescente desajustamento entre partidos e país."
o resto do meu texto publicado na edição do Expresso de 12 de fevereiro de 2011, pode ser lido aqui.
A cantiga também é uma arma
Chico, não sei se o teu argumento resiste a muitos testes empíricos. Até porque o problema é simples e resume-se assim: a canção dos Deolinda é uma merda. Escreverias o mesmo a propósito deste gajo? (aqui, em pleno colaboracionismo, a cantar na DDR em 1986)
e aqui já rendido aos encantos das pequenas burguesas
e aqui já rendido aos encantos das pequenas burguesas
segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011
Fazer implodir as escolas
"(...) se a aprendizagem for feita através dos instrumentos que, de facto, motivam e concentram, a aprendizagem é garantida. Substituamos, portanto, a escola por jogos de computador e atribuamos à indústria do entretenimento a responsabilidade por adequar os conteúdos programáticos aos interesses das crianças.
Quem quer que tenha visto uma criança a resolver dilemas complexos num jogo de estratégia percebe bem que dificilmente se encontraria melhor forma de ensinar História, Literatura ou Matemática. A indústria do entretenimento é o novo sistema educativo.
Mas, estranhamente, enquanto os Ministérios da Educação gerem com mão de ferro escolas e currículos, têm escassa intervenção nos meios que, hoje, de facto, educam. Ora, com maior regulação, as empresas que produzem jogos ver-se-ão obrigadas a contratar os melhores filósofos e matemáticos para enriquecer os seus conteúdos.
Como conclui Gough, a escola é uma chatice porque é muito aborrecida, não porque seja muito desafiante. Logo, o objetivo não passa por tornar a aprendizagem mais fácil, mas, sim, mais difícil. Coloquem um cronómetro em contagem decrescente e façam um aluno perder vidas de cada vez que falhar e vão ver uma criança motivada. Depois, resta acrescentar bons conteúdos. Uma tarefa que pode bem ser feita sem escola, mas que precisa de um Ministério da Educação que lhe confira sentido."
o resto do meu texto publicado na edição do Expresso de 5 de fevereiro de 2011, pode ser lido aqui e o artigo de Nigel Gough que cito, aqui.
sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011
quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011
Moções e fogachos
"(...) A moção de censura que o PCP queria preparar para a Primavera visava condicionar toda a gente. A que o BE vai apresentar no Carnaval é um fogacho de circunstância. Entre uma e outra há toda a diferença que resulta de o PCP sonhar com o derrube de um regime e o BE querer apenas a crista da onda. O hino da moção do PCP seria a centenária Internacional, o da do BE será a instantânea "parva que sou"
como sempre, o que o Paulo escreve vale a pena ser lido (integralmente aqui).
como sempre, o que o Paulo escreve vale a pena ser lido (integralmente aqui).
O regresso do excepcionalismo português
Pode bem dar-se o caso de, daqui a uns meses, termos a aterrar no aeroporto da Portela dezenas de cientistas políticos, interessados em saber como é que um primeiro-ministro que enfrentava uma tempestade perfeita (desemprego nos 10%, dificuldades de financiamento da economia, défice de credibilidade e falta de confiança), reconquistou a maioria em eleições antecipadas, sendo eleito para um terceiro mandato. As explicações podem, naturalmente, ser procuradas em dias como os de hoje.
quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011
Explicar o Tony Wilson e os Joy Division às crianças
Um video que vai fazer muito pela pedagogia doméstica.
terça-feira, 8 de fevereiro de 2011
sábado, 5 de fevereiro de 2011
Pensem Nisto
"(...) Carlos Silvino, uma das testemunhas centrais do 'caso Casa Pia' e a quem no passado foi atribuída uma inusitada credibilidade, deu uma entrevista, após ter deixado de ter como advogado um ex-inspetor da Judiciária, em que, no essencial, afirma que a prova foi fabricada e que não só não conhecia os locais onde teriam sido praticados os crimes, como o reconhecimento que fez foi todo realizado previamente com inspetores da Judiciária. Independentemente das nossas convicções subjetivas sobre os vários protagonistas, o mínimo que podemos exigir é que seja, finalmente, feita uma investigação à investigação. Desde o seu início, o 'caso Casa Pia' tem demasiadas semelhanças com o que envolveu Elio di Rupo e com o 'affaire d'Outreau'. Com uma diferença assinalável: na Bélgica e em França, o sistema foi capaz de se questionar a si próprio, procurando a verdade, mesmo que isso implicasse perder a face. Pensem nisto."
o resto do meu artigo publicado na edição do Expresso de 29 de janeiro de 2011 pode ser lido aqui
o resto do meu artigo publicado na edição do Expresso de 29 de janeiro de 2011 pode ser lido aqui
sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011
Libertem o Andy Bell
Faz por esta altura vinte anos que os Ride lançaram o Nowhere - o disco que, entre outros atributos, tem porventura a melhor capa da década de noventa. O essencial da história está resumida aqui. Desfizeram-se rapidamente e enquanto se perdeu o rasto do Mark Gardener, o Andy Bell passou a coadjuvar os irmãos Gallagher em sucessivas aventuras. É um enigma sem resposta: Andy Bell fez dois discos que deixam tudo o que os Oasis fizeram a milhas e depois entreteve-se a tocar baixo na banda. Acho que se podia lançar um movimento a apelar à sua libertação. E já que andamos numa de hinos geracionais, aqui fica mais um.
quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011
Losing my edge
Já não é a primeira vez, nem será a última, que se tenta encontrar um hino geracional cantado em português. Se bem interpretei o que o Rui Tavares escreveu no Público há um par de dias, o hino agora encontrado é feito à medida da geração imediatamente a seguir à minha - que é também a dele. Retomando a formulação que o Ivan Nunes (ou ex-Ivan) encontrou no início da década de noventa, desta feita é que estamos perante uma "geração à rasca" e os Deolinda deram voz aos problemas de quem tem entre vinte e trinta anos (ou talvez um pouco mais). Os problemas, não vale a pena iludir, não são poucos, bem pelo contrário, e são também de uma natureza diferente dos que enfrentávamos no passado. Tudo isto porque fui espreitar a tal música dos Deolinda e só me veio à cabeça a frase do Caetano, há quatro décadas quando foi vaiado enquanto cantava o "é proibido proibir", perante uma plateia que esperava mais um cantor de protesto: "se vocês em política forem como são em estética, estamos feitos".
O problema deve ser meu, que já estou a perder o passo, mas a única coisa que me imagino a cantar de punho erguido, como hino geracional, é mesmo isto.
O problema deve ser meu, que já estou a perder o passo, mas a única coisa que me imagino a cantar de punho erguido, como hino geracional, é mesmo isto.
quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011
Vitória
Poucas decisões estratégicas se revelaram tão acertadas na história recente do Benfica como a de descartar a águia Vitória. O Benfica não pode depender de amuletos e superstições. Bem pelo contrário. Depois da má experiência da capela da senhora Prieto, estávamos agora nas mãos de uma águia amestrada, ainda mais por um espanhol. E factos são factos: desde que nos vimos livres da águia só conhecemos um resultado.
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