quarta-feira, 28 de setembro de 2011
terça-feira, 27 de setembro de 2011
segunda-feira, 26 de setembro de 2011
Dívida e castigo
"A história está repleta de eventos estruturais desencadeados por acontecimentos secundários. A da Europa não é exceção. Quando o jovem Gavrilo Princip disparou sobre o arquiduque Francisco Fernando, poucos antecipariam o início de uma ‘era de catástrofe’ que duraria três longas décadas. Há atos que têm o condão de revelar todas as tensões de um momento e com isso colocam a história em movimento. Por vezes para o bem, na maior parte das vezes para o mal.
As declarações do Comissário europeu Guenther Oettinger, afirmando que “as bandeiras dos pecadores da dívida deveriam ser colocadas a meia haste”, podem bem ser um destes eventos. O que o Comissário fez foi dar voz ao pensamento dominante na Alemanha: a crise do euro deve ser lida à luz de um conto moral em que o descontrolo das dívidas soberanas se resolve com atos punitivos. A narrativa é apelativa, os governos endividaram-se excessivamente, têm de pagar um preço e a austeridade é a única resposta. Fica sugerida a necessidade de uma punição moral para responder a uma década de desvario hedonista.
Perante o poder avassalador deste conto moral, os países “pecadores” têm optado por apontar o dedo ao vizinho do lado, convencidos que assim expiam o crime e aliviam o castigo. “Nós não somos a Grécia” é um mantra que tem sido usado à exaustão, procurando criar a ilusão de que não nos acontecerá o que foi acontecendo à Grécia no último ano e meio. Ora de cada vez que os países da periferia da zona Euro se procuram distanciar da Grécia estão, de facto, a colocar as suas bandeiras a meia-haste (...)"
o resto do meu artigo do Expresso da semana passada pode ser lido aqui.
As declarações do Comissário europeu Guenther Oettinger, afirmando que “as bandeiras dos pecadores da dívida deveriam ser colocadas a meia haste”, podem bem ser um destes eventos. O que o Comissário fez foi dar voz ao pensamento dominante na Alemanha: a crise do euro deve ser lida à luz de um conto moral em que o descontrolo das dívidas soberanas se resolve com atos punitivos. A narrativa é apelativa, os governos endividaram-se excessivamente, têm de pagar um preço e a austeridade é a única resposta. Fica sugerida a necessidade de uma punição moral para responder a uma década de desvario hedonista.
Perante o poder avassalador deste conto moral, os países “pecadores” têm optado por apontar o dedo ao vizinho do lado, convencidos que assim expiam o crime e aliviam o castigo. “Nós não somos a Grécia” é um mantra que tem sido usado à exaustão, procurando criar a ilusão de que não nos acontecerá o que foi acontecendo à Grécia no último ano e meio. Ora de cada vez que os países da periferia da zona Euro se procuram distanciar da Grécia estão, de facto, a colocar as suas bandeiras a meia-haste (...)"
o resto do meu artigo do Expresso da semana passada pode ser lido aqui.
sexta-feira, 23 de setembro de 2011
Uma monumental dose de lata
Não deixa de ter a sua ironia assistir a um ex-vereador da Câmara de Mafra a papaguear uma colagem de citações de artigos meus no plenário da Assembleia da República, sem sequer se dar ao trabalho de citar e chegando mesmo a afirmar, a determinada altura, que algumas das opiniões eram dele. Como quem faz surf sabe, foi preciso Peniche para haver Ericeira e a câmara de Mafra sempre se esteve literalmente borrifando para o potencial do surf para o concelho. Com protagonistas destes e colocada a questão deste modo, o surf prestou-se ao ridículo.
quinta-feira, 22 de setembro de 2011
Estávamos empatados com a Grécia e agora fugimos
Lidas estas declarações de Miguel Relvas fico com a dúvida se estamos perante um exercício de novilíngua ou apenas face a um gerador automático de palavras que aparentam soar bem. Em todo o caso, remetendo as declarações para a Grécia, não há dúvida de que se trata de um caso evidente de Húbris. Como ensina a história, atitudes destas tendem a ser devidamente castigadas pelos deuses, numa Nêmesis que terá contornos de tragédia. Infelizmente, mais para nós todos do que para este personagem de ópera-bufa.
"I sit at my table and wage war on myself"
Os REM acabaram ontem. Uma notícia que chegou com uns dezasseis anos de atraso. Os REM acabaram para mim com o Monster, tendo o funeral decorrido num concerto para esquecer no Pavilhão Atlântico, não sei bem quando. Tudo o que ouvi deles nos últimos tempos foi penoso, o que é estranho. Tenho, na minha relação com eles, um conjunto de memórias afectivas que deviam ter feito com que os meus níveis de tolerância à banda fossem bem superiores. Lembro-me como se fosse hoje de um dia, algures em 1987/88, ter chegado a casa com os vinis todos dos REM, que me haviam emprestado, e ter durante uns quantos dias gravado tudo para K7 e, não menos importante, de ter feito uma compilação longa das melhores músicas. Quando o Green chegou, eu estava devidamente preparado. A capa do LP da Manuela Paraíso, com o Stipe, acabou por resistir algum tempo afixada nas paredes do meu quarto (não sei aliás se não foi um dos primeiros números do jornal). Durante uns tempos, o Green e depois o Out of Time foram a alternativa solar às músicas que então me dominavam. Tudo isto porque me lembrei que de todas as bandas que ouvi muito por essa altura, os REM são a única que nunca tenho vontade de voltar a ouvir. Hoje vou abrir uma excepção.
afinal, por exemplo estas duas músicas continuam a ser do caraças.
adenda: o Ricardo conhece alguém (além de mim) que escolheria a mesma música. No entanto, a versão que ele encontrou é bem melhor do que esta que está aqui. Pelo menos é mais próxima de como ela era quando primeiro a ouvi. Vale a pena ir vê-la.
afinal, por exemplo estas duas músicas continuam a ser do caraças.
adenda: o Ricardo conhece alguém (além de mim) que escolheria a mesma música. No entanto, a versão que ele encontrou é bem melhor do que esta que está aqui. Pelo menos é mais próxima de como ela era quando primeiro a ouvi. Vale a pena ir vê-la.
quarta-feira, 21 de setembro de 2011
O que tenho andado a ler
- A lista das quinze melhores ideias do ano para a Atlantic;
- um brinquedo muito útil, que serve para colocar cada país em perspectiva.
- Brian Eno, um optimista incansável, dá-nos, através do "sonema", mais um exemplo do seu experimentalismo.
- Jon Stewart reconhece na Rolling Stone que o Daily Show, tal como a Fox News, é um produto da insatisfação.
- ainda sobre a "batalha da mãe-tigre" (o livro de Amy Chua que é um best-seller, pelo menos em polémica nos EUA), um artigo que reflecte sobre a rejeição do "facilitismo" na educação dos filhos.
- e dois artigos bem pessimistas sobre o futuro da Europa. Um de Roubini e outro de Bret Stephens.
- um brinquedo muito útil, que serve para colocar cada país em perspectiva.
- Brian Eno, um optimista incansável, dá-nos, através do "sonema", mais um exemplo do seu experimentalismo.
- Jon Stewart reconhece na Rolling Stone que o Daily Show, tal como a Fox News, é um produto da insatisfação.
- ainda sobre a "batalha da mãe-tigre" (o livro de Amy Chua que é um best-seller, pelo menos em polémica nos EUA), um artigo que reflecte sobre a rejeição do "facilitismo" na educação dos filhos.
- e dois artigos bem pessimistas sobre o futuro da Europa. Um de Roubini e outro de Bret Stephens.
terça-feira, 20 de setembro de 2011
E Deus criou Nova Iorque
e eventualmente também as miúdas frescas (talvez excessivamente frescas) e a música cheesy (talvez excessivamente cheesy).
segunda-feira, 19 de setembro de 2011
As tentações do PS
"(...) A combinação de voluntarismo ideológico com a convicção de que a austeridade pode ser expansionista tem empurrado o governo para além da troika. Este contexto cria uma oportunidade: o PS tornar-se no guardião do memorando de entendimento. É evidente que os socialistas não podem, agora, estar na oposição como se não tivessem estado no poder, mas, também, não podem cavar uma trincheira em torno da defesa das propostas da troika. O exercício é difícil, mas seria um erro manter uma atitude defensiva, abdicando da iniciativa, ainda para mais em torno de opções programáticas que violentam o património programático do centro-esquerda.
Ter vida para além da troika implica que o PS recupere a inclinação reformista e não ceda ao conservadorismo da defesa do status quo ou, pior, que descambe para a mitificação de um passado inexistente (seja no Serviço Nacional de Saúde ou na regulação do mercado de trabalho). Não se deve contrapor à narrativa liberal que Passos Coelho utilizou, uma outra, com as mesmas características formais. O mais certo seria essa tentação descambar no mesmo exercício pueril em que resultou o liberalismo de blogosfera do primeiro-ministro.
Desde logo, é necessário saber resistir aos temas populares (à cabeça, a demagogia em torno do combate à corrupção, que empurrará os partidos para um beco sem saída), mas, também, aos que têm a ver com o sistema político (das leis eleitorais ao voto dos deputados, passando pela obsessão rotativista com nomeações de boys). Centrar a iniciativa nos temas económicos e sociais é exigente e implica romper com o vício da politiquice, uma herança do processo formativo nas juventudes partidárias.(...)"
o resto do meu artigo do Expresso de 10 de Setembro pode ser lido aqui.
Ter vida para além da troika implica que o PS recupere a inclinação reformista e não ceda ao conservadorismo da defesa do status quo ou, pior, que descambe para a mitificação de um passado inexistente (seja no Serviço Nacional de Saúde ou na regulação do mercado de trabalho). Não se deve contrapor à narrativa liberal que Passos Coelho utilizou, uma outra, com as mesmas características formais. O mais certo seria essa tentação descambar no mesmo exercício pueril em que resultou o liberalismo de blogosfera do primeiro-ministro.
Desde logo, é necessário saber resistir aos temas populares (à cabeça, a demagogia em torno do combate à corrupção, que empurrará os partidos para um beco sem saída), mas, também, aos que têm a ver com o sistema político (das leis eleitorais ao voto dos deputados, passando pela obsessão rotativista com nomeações de boys). Centrar a iniciativa nos temas económicos e sociais é exigente e implica romper com o vício da politiquice, uma herança do processo formativo nas juventudes partidárias.(...)"
o resto do meu artigo do Expresso de 10 de Setembro pode ser lido aqui.
sexta-feira, 16 de setembro de 2011
O Sócrates expiatório
Foi, de facto, muito importante termo-nos visto livres de José Sócrates. De repente, em lugar de gorduras do Estado e de moralismo masoquista, passámos a ter um debate normalizado no espaço público sobre a crise e a Europa. Com Sócrates, quem arriscasse afirmar duas ou três coisas simples e insofismáveis sobre o que se está a passar na Europa e em Portugal era tratado como um delinquente mental. Não por acaso, o espaço público estava inundado de mentes sofisticadas. As mesmas que entretanto ou deixaram de aparecer ou balbuciam um raciocínio errático e escassamente coerente.
(lembrei-me disto ao assistir ao expresso da meia-noite, um debate que suspeito era impensável há seis meses atrás)
(lembrei-me disto ao assistir ao expresso da meia-noite, um debate que suspeito era impensável há seis meses atrás)
Agora sim, é possível falar com propriedade do "modelo escandinavo"
A social democrata Helle Thorning-Schmidt, de 44 anos, torna-se a primeira mulher a governar a Dinamarca.
quinta-feira, 15 de setembro de 2011
quarta-feira, 14 de setembro de 2011
Ainda há coisas que não vêm no google
"I caught you streaking in your birkenstocks" são as primeiras palavras do Stephen Malkmus no novo Mirror Trafic. A imagem é suficientemente sugestiva, mas felizmente não encontra correspondência no google images. Há muitos streakers, mas há poucas mulheres streakers e aparentemente nenhuma vestida apenas com umas birkenstocks. Por mais ambição que tenham o Larry Page e o Sergey Brin, o google ainda não nos domina.
terça-feira, 13 de setembro de 2011
segunda-feira, 12 de setembro de 2011
Uma grande transformação
"(...) Uma coisa é o necessário controlo da despesa, outra, bem diferente, é, com esse pretexto, brincar com o fogo, promovendo um enfraquecimento da comunidade e uma diminuição da soberania. Como lembrava Helena Garrido esta semana no Jornal de Negócios, “Portugal tem de existir”.
Eis dois exemplos que vão ter efeitos irreversíveis e que são, de facto, ameaças à existência de um país soberano, assente numa comunidade de pertença.
O primeiro é a construção de um Estado Social de mínimos, dirigido aos mais pobres. Desde o ‘passe social’ com descontos ultra-exclusivos à ASAE ter deixado de inspeccionar lares e creches, passando pelo que se anuncia no acesso à saúde, abundam os exemplos em que do excesso de gratuitidade se evoluiu para uma retirada de benefícios às classes médias baixas. Esta opção esquece que os direitos sociais fazem parte do código genético da nossa democracia e que são um mecanismo de legitimação política. Pura e simplesmente não existem democracias sem integração das classes médias.
O segundo é um programa de privatizações que aliena uma fatia importante do que resta da soberania. Vender ao desbarato empresas do sector energético ou das águas não é comparável com o processo de privatizações que ocorreu nos anos oitenta – e que obedeceu a uma necessária liberalização – é, sim, uma ameaça à independência do país, sem que se vislumbrem vantagens.
Se este Governo fizer o que, levado pelas suas ilusões ideológicas pueris, ameaça, daqui a uns anos saberemos qual é a diferença entre ter uma comunidade que forma um país ou termos um conjunto de indivíduos e famílias."
o resto do meu artigo do Expresso da semana passada pode ser lido aqui.
segunda-feira, 5 de setembro de 2011
Um colossal embuste
"(...) Dois meses passados, só restam duas hipóteses para explicar a diferença entre o que Passos Coelho candidato disse e o que tem feito enquanto primeiro-ministro: ou estávamos perante um colossal embuste ou um problema sério de dissonância com a realidade. Convenhamos que não é fácil perceber qual das duas hipóteses é verdadeira. O governo tem dados sinais contraditórios.
A entrevista do Ministro das Finanças à TVI indicia que tudo o que nos foi sendo dito não era para ser levado a sério. Em vinte minutos, Vítor Gaspar, em alguns momentos com enorme candura, encarregou-se de renunciar a toda a narrativa política do PSD/CDS e não se cansou de sublinhar que os vários documentos de execução orçamental são “extraordinariamente exigentes do lado da receita e do lado da despesa”. Tendo em conta que foi o PECIV que provocou eleições, não deixa de ser irónico ver o Ministro das Finanças a defendê-lo como nem Sócrates, nem Teixeira dos Santos ousavam fazer. Pode dar-se o caso de, com benefício para a sanidade mental do próprio, Vítor Gaspar não ter acompanhado a política portuguesa no último par de anos, mas, de facto, expôs o colossal embuste em que assentou a vitória eleitoral de Passos Coelho. (...)"
o resto do meu artigo do Expresso da semana passada pode ser lido aqui (bem como todos os artigos publicados durante Agosto).
A entrevista do Ministro das Finanças à TVI indicia que tudo o que nos foi sendo dito não era para ser levado a sério. Em vinte minutos, Vítor Gaspar, em alguns momentos com enorme candura, encarregou-se de renunciar a toda a narrativa política do PSD/CDS e não se cansou de sublinhar que os vários documentos de execução orçamental são “extraordinariamente exigentes do lado da receita e do lado da despesa”. Tendo em conta que foi o PECIV que provocou eleições, não deixa de ser irónico ver o Ministro das Finanças a defendê-lo como nem Sócrates, nem Teixeira dos Santos ousavam fazer. Pode dar-se o caso de, com benefício para a sanidade mental do próprio, Vítor Gaspar não ter acompanhado a política portuguesa no último par de anos, mas, de facto, expôs o colossal embuste em que assentou a vitória eleitoral de Passos Coelho. (...)"
o resto do meu artigo do Expresso da semana passada pode ser lido aqui (bem como todos os artigos publicados durante Agosto).
sexta-feira, 2 de setembro de 2011
Ela sobre Ele
"His face was so much more interesting than any other face I’d ever seen, with extraordinarily sad eyes and a beautiful mouth."
Jane Birkin sobre Serge Gainsbourg (via JMF)
quinta-feira, 1 de setembro de 2011
Agarrem-me se não eu corto
Ao contrário do que prometeu, o Governo só tem aumentado a receita, retomando a habitual trajectória de "perseguição fiscal". Mas, de cada vez que isto é dito, lá aparece alguma voz autorizada do Governo a acenar com cortes históricos já a seguir. Agora foi o primeiro-ministro, devolvido das férias que não ia fazer, a declarar que para o ano vêm "cortes históricos" ou, na nova fórmula, "os maiores de que há memória". Talvez não seja má ideia ter memória e recordar que o que nos foi dito é que os cortes seriam indolores, não implicariam mais sacrifícios, pois seriam nas gorduras do Estado. Face ao que temos de fazer, era evidente que se tratava de uma mentira descarada. Enquanto não chega o pedido de desculpas, são esses os cortes que continuo a aguardar.
Ele é o Benfica
Se tivesse de escolher a notícia que mais me marcou durante as férias, não hesitaria. O AVC do Ricardo Gomes. As coisas são como são e são simples. O Ricardo Gomes era o Benfica. Ainda vi o Humberto e o Néné a jogarem, gostei do Mozer, do Valdo e do Mats. Mas, para mim, o melhor do Benfica era o Ricardo na defesa e o Diamantino no ataque. Dos que vi, foi de longe o melhor central que tivemos (sim, nunca vi o Germano). Mas, para além disso, na discrição com que jogava, na elegância com que marcava golos atrás de golos (numa altura em que insistíamos em ganhar sempre, mas sempre por um a zero), ele ajudou a construir a ideia que hoje faço do Benfica. É naturalmente o facto de ter gostado do Ricardo já lá vão vinte anos que faz com que, para mim, hoje, o Benfica seja o Aimar e mais dez.
(tudo isto serve para mostrar quão irrelevante é a conversa sobre quantos portugueses é que jogam. o Ricardo transportava mais mística do que quase todos os portugueses que entretanto lá jogaram).
(tudo isto serve para mostrar quão irrelevante é a conversa sobre quantos portugueses é que jogam. o Ricardo transportava mais mística do que quase todos os portugueses que entretanto lá jogaram).
Há coisas muito boas
e depois há o minuto e cinquenta segundos deste cover do "tango till they're sore"
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