terça-feira, 10 de janeiro de 2012
A tragédia portuguesa
"(...) Na tragédia grega, dava-se um nome a esta tentativa arrogante de tudo querer compreender e tudo explicar – a húbris. A tragédia portuguesa é também essa: a dos que vivem a ilusão de que há um só culpado para a crise e que é possível cristalizar as suas causas em dois ou três bordões de belo efeito e com resultados imediatos. Vale a pena recordar que, na tragédia grega, o protagonista era invariavelmente vítima da húbris, da sua inclinação para desprezar a realidade e deixar-se levar pelo excesso de confiança nas suas capacidades. Os deuses castigavam o protagonista com um pathos de sofrimento, numa nêmesis que castigava a insolência, e que tinha como efeito fazer o indivíduo regressar aos limites que transgrediu.
A tragédia portuguesa vai ser mesmo essa: daqui a um ano estaremos bem pior do que hoje e já não teremos à mão as desculpas que hoje são usadas e que têm tanto de fácil como de ilusórias. Talvez então, sejamos capazes de olhar para a nossa ‘tragédia’ em todas as suas matizes. Nessa altura, vamos descobrir que a ilusão da culpa e dos culpados é apenas isso: uma ilusão."
o resto do meu artigo do Expresso de 30 de Dezembro está aqui.