"Não é tarefa fácil, mas se procurarmos
fazer um exercício de exegese da confusão que grassa no discurso de Passos
Coelho, acabaremos por intuir algum significado no que nos é dito.
A preocupação com a linguagem na
política não é novidade. George Orwell, num ensaio de 1946, “politics and the English language”, sublinhava que perante a decadência da civilização, a
linguagem teria inevitavelmente de partilhar o colapso geral. Mais,
acrescentava que sendo a decadência da linguagem causada por factores
económicos e políticos, com o tempo, aquela tornava-se, ela própria, causa de
degradação. “A linguagem torna-se feia e imprecisa porque as nossas ideias são
idiotas, mas a natureza negligente da nossa linguagem faz com que seja mais
fácil ter ideias idiotas”, acrescentava Orwell.
Talvez seja adequado tomar a forma como
o primeiro-ministro se expressa como um sinal mais vasto de colapso político e
social. O que, sendo, em si, relevante, não nos deve impedir de olhar para o
que nos é dito.
Se considerarmos que a linguagem
importa, a forma como o termo “refundação” emergiu no debate público português
é, politicamente, muito relevante. Não é indiferente que se inicie um debate
sobre as funções do Estado, sobre o conjunto das políticas públicas, com uma
expressão que remete para um repensar das fundações e que sugere ruptura com o
passado. De facto, refundação é, do ponto de vista etimológico, um termo que
nos aproxima mais de “revolução” do que de “reforma”. (...)"
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