"(...) Um dos traços mais marcantes
da atitude revolucionária dominante é a forma como vê em todos os obstáculos
uma oportunidade. A arquitetura do euro dificulta a capacidade competitiva da
economia portuguesa? Pouco importa. A crise da dívida é um pretexto para
enveredar pela desvalorização interna, baixando salários. A Constituição
defende o princípio da igualdade? Ai é? Então, o chumbo do Tribunal
Constitucional é a justificação ideal para desmantelar o Estado social. O
caminho para o Governo é claro: de oportunidade em oportunidade até à revolução
final.
Há, claro, um lado de
profunda irracionalidade nesta estratégia. Só assim se explica a vontade
indómita de aplicar, em doses sempre mais reforçadas, uma estratégia de hiperausteridade
que manifestamente não funcionou, e esperar resultados diferentes. O espírito é
típico do de uma cruzada, uma fé inabalável em amanhãs que cantam. Para os
arautos do “capitalismo científico”, pouco importa a destruição social. Um dia,
sobre as cinzas do desemprego, emergirá uma nova sociedade. Quando? Ninguém
sabe.
Perante o auto-da-fé a que
estamos assistir, no qual revanchismo e irracionalidade se combinam, e quando
há um consenso muito alargado na sociedade portuguesa, da direita à esquerda,
que defende, com razoabilidade, o falhanço da estratégia seguida por este Governo,
e acolitada por uma Europa em desvario, talvez seja altura de lançar um apelo
patriótico: “reformistas de todo o país, uni-vos” para parar já a deriva
revolucionária em curso."
a versão integral do meu artigo do Expresso de 13 de Abril pode ser lida aqui.