As
promessas eleitorais queimam. No futebol, como na política, o que se promete em
campanha e depois não é cumprido é cobrado com juros. Com as expectativas não
se brinca e de frustração em frustração, as lideranças vão caminhando para um
lento declínio. Quando se dá por ela, já não há nada a fazer.
Recordei-me
disto a propósito de uma promessa que tem sido feita por vários candidatos a
Presidente do Benfica e que fica invariavelmente por concretizar: “o Benfica
será a espinha dorsal da seleção”, terá prometido Luís Filipe Vieira há uns
anos, repetindo uma promessa antes feita por esse personagem de farsa que dá
pelo nome de Vale e Azevedo.
Sabem
que mais? Ora aqui está o caso de uma promessa que podemos agradecer nunca ter
sido cumprida e, aliás, a crer em declarações recentes do Presidente já não faz
parte dos objectivos estratégicos – “o Benfica não irá
ser uma equipa de portugueses no futuro, porque o futebol é global”. Se, por absurdo, o Benfica tivesse
hoje a espinha dorsal da seleção nacional, teríamos uma equipa pouco
competitiva e incapaz de gerar mais valias financeiras.
Ao
contrário do que tem sido dito, a classificação e as exibições de Portugal na
qualificação para o Mundial não surpreendem. O que foi surpreendente foi a
campanha no último Europeu. A seleção é hoje composta por um jogador de eleição
(Ronaldo) acompanhado por dois de classe mundial (Moutinho e Pepe) e dois acima
da média (Coentrão e Patrício); depois sobra uma mão-cheia de jogadores entre o
mediano e o sofrível. Fazer diferente seria surpreendente.
Agora
imagine-se uma equipa do Benfica à imagem da seleção. Tendo em conta que
Ronaldo, Moutinho e Pepe nunca estariam, nesta fase da carreira, ao alcance
financeiro de um clube português, por esta altura, estaríamos condenados a
jogar com João Pereira, Meireles, Miguel, Micael e no ataque divididos entre
Postiga e Hugo Almeida. Penso que estamos conversados quanto à espinha dorsal.
publicado ontem no Record