Já ficou claro que esta época marcará uma ruptura
face ao Benfica dos anos anteriores. Há um par de dimensões em que os
sinais de mudança são, aliás, visíveis: na forma como o treinador se vai
integrar na organização e no aproveitamento da formação feita no
Seixal. Mas se é preciso que alguma coisa mude para que se mantenha a
dinâmica vencedora, é fundamental que se preserve parte importante do
legado.
Desde logo manter uma ideia de jogo
assertiva. Se olharmos retrospectivamente, a marca deixada por Jesus é a
nota artística, mas a diferença mais duradoura é inequivocamente uma
alteração na atitude com que o Glorioso passou a enfrentar os jogos. Com
consequências: hoje, quem joga com o Benfica joga para não perder. Na
Luz, mas, também, nos jogos fora. Para que o Benfica continue a ser uma
equipa temida, é preciso preservar uma ideia de jogo ofensiva.
Tão
importante como ter um modelo coerente com a natureza ganhadora do
Benfica, é Rui Vitória, à imagem do que aconteceu com Jesus, preservar
uma autonomia total para impor o seu sistema. A questão não é de
somenos. Depois de Jesus ter concentrado muito poder e de ter tido uma
margem de manobra significativa para decidir (quase) tudo (o que teve,
aliás, também custos – vide o não aproveitamento do Bernardo), é
tentador para o novo treinador procurar auscultar as várias
sensibilidades da estrutura antes de decidir. Seria um erro tremendo.
Se, por força das circunstâncias, as decisões de Rui Vitória passarem a
ser uma espécie de federação de opiniões, o Benfica está condenado a
falhar.
Quando se fala da necessidade de Rui
Vitória ter as mesmas condições de Jesus, é bom que se tenha presente
que não basta ter jogadores com igual qualidade. Tem também de lhe ser
garantida a autonomia e a capacidade de decidir a seu belo prazer de que
Jesus gozou.
publicado no Record de terça-feira (a Luz Intensa regressa daqui a 4 semanas, já em Agosto)