"I hope the fences we mended
Fall down beneath their own weight"

John Darnielle

padaoesilva@gmail.com

domingo, 17 de abril de 2011

Um congresso de silêncios

"(...) As circunstâncias e a convergência táctica vão, mais uma vez, adiar debates nucleares.
Como consequência da opção por apenas governar em maioria absoluta ou isolado, no último ano e meio o PS afastou-se do arco da governabilidade. Como as maiorias absolutas são uma excepção no nosso sistema eleitoral, o PS tem de ter uma estratégia alternativa. Uma coligação com o PSD não é sustentável e coligações à esquerda não são programaticamente viáveis. Resta crescer eleitoralmente à esquerda. O que implica, por um lado, uma estratégia que esvazie o PCP autárquico – a âncora do poder do partido – e, por outro, romper com a ilusão de que é possível a um partido social-democrata viver de costas voltadas para o movimento sindical (um efeito colateral do deslumbramento sistemático com tudo o que é moderno).
Do ponto de vista programático há uma prioridade que se sobrepõe a todas as outras: abandonar a língua de pau em que se transformou o discurso sobre a Europa. Hoje, o consenso europeísta não representa nada. No passado, esse era um ponto de união entre PS e PSD, agora a linha de demarcação depende dos temas europeus. O dilema é simples: ou a social-democracia se reergue através de uma nova política europeia ou não tem futuro. Actualmente, o mantra do europeísmo não passa de uma encenação do fim.
Finalmente, o fechamento partidário. Nos últimos anos, o PS foi alternando entre simulacros de debate e silêncios ensurdecedores. A combinação de centralismo democrático com uma direcção focada na figura do líder é um factor de enfraquecimento. O PS não sabe promover debate orgânico e vive desconfortável com as vozes autónomas. Essa atitude diminui o pluralismo, tem enfraquecido a capacidade do partido para representar a sociedade e, ainda mais grave, reproduz uma volatilidade programática, particularmente notória desde o início da crise. Sem programa estável e sem novos protagonistas, o PS constrói o seu próprio declínio.
Talvez fosse útil ao PS discutir estes ou outros assuntos durante o fim-de-semana. Mas temo bem que seja pedir de mais."

a versão integral do meu artigo publicado no Expresso da semana passada pode ser lida aqui.