Estamos,
contudo, perante um caso em que o poder político, em lugar de contrariar a
tendência para o enclausuramento, optou por se entrincheirar, dando sinais de
fragilidade que funcionam como incentivos para que o descontentamento se
dirija, de forma cada vez mais intensa e violenta, às instituições da
democracia representativa. E nenhuma escapará.
É
evidente que a degradação económica e social, por si só, gera contestação, mas
tal não implica a capitulação política a que, de facto, assistimos das
instituições do regime – que parecem ter abdicado de proteger a sua gravitas. A questão das grades não é por
isso marginal. Se há uma manifestação e é preciso proteger o parlamento, coloquem-se
grades, mas no dia seguinte estas têm de ser retiradas e a dignidade
institucional da Assembleia da República reerguida. A política é também uma
disputa simbólica.
Tem
sido muitas vezes sublinhado, com inteira razão, que o nosso tecido social
tenderá a desfazer-se com a crise económica que temos vivido. Não sabemos
quanto tempo mais as nossas sociedades aguentam a austeridade. Mas, temo, os nossos
regimes políticos aguentarão ainda menos tempo se tivermos as instituições políticas
sitiadas."