“(...) a pairar por cima de tudo isto
continua a mesma incompreensão do Executivo em relação às exigências éticas
associadas à austeridade. Ninguém tinha dúvidas que o que nos esperava era
muito difícil, mas, também, um mínimo de bom senso bastava para se perceber que
todos os cuidados eram poucos para que a aplicação do memorando fosse politicamente
exequível. E também aqui o Governo deitou tudo a perder, delapidando o capital de
que agora necessita, desde logo para garantir a sua sobrevivência. Na última
edição do Expresso, uma fonte governamental afirmava, com uma ligeireza
chocante, “de caras, podemos cortar 50 mil funcionários
públicos”. Ou seja, para este Governo, tudo se resolve, de caras, acrescentando
desempregados aos desempregados, como se se estivessem a somar parcelas
abstractas numa folha de cálculo.
Esta
semana, enquanto acompanhava as eleições norte-americanas, regressei ao
impressionante memorial de Franklin D. Roosevelt. Ao percorrer, entre a pedra
austera, as presidências de FDR, reencontrei uma frase lapidar: “nenhum país,
por mais rico, pode permitir-se desperdiçar os seus recursos humanos. A
desmoralização provocada pelo desemprego em massa é a nossa maior extravagância.
Moralmente, é a maior ameaça à nossa ordem social”.
De
caras que esta era uma frase que devia ser afixada nos gabinetes de todos os
membros do Governo. Talvez depois fosse possível iniciar uma conversa.
o meu artigo do Expresso da semana passada pode ser lido aqui.