"I hope the fences we mended
Fall down beneath their own weight"

John Darnielle

padaoesilva@gmail.com

terça-feira, 18 de março de 2014

A Glória do Benfica




Se tivesse de identificar o aspecto mais positivo da atual direção do Benfica, escolheria a forma como tem sabido preservar a memória do clube. A recuperação do estatuto das velhas glórias, a construção do museu e as homenagens a Eusébio e a Coluna fazem parte de um processo mais longo, assente num princípio correto: as instituições só têm futuro quando sabem cuidar da sua história. Depois de demasiado tempo em que as glórias do passado eram figuras secundárias, nos últimos anos passaram a ter um estatuto mais condizente com a identidade do Glorioso.
Lembrei-me disto quando vi o treinador do Benfica a empurrar de forma descabelada o Shéu Han – depois de um episódio a todos os títulos lamentável com Tim Sherwood.
Quando comecei a ver o Benfica a jogar, já o Shéu era uma figura da equipa, com muitos anos de clube. Por essa altura, Jorge Jesus era um obscuro jogador, formado no Sporting. Agora que o Eusébio nos deixou, e como Shéu está há 44 anos no clube, provavelmente não resta ninguém ligado há tanto tempo ao Benfica como ele. Não é uma questão menor. O Benfica foi construído e constrói-se com o cavalheirismo do Senhor Mário Coluna; o desportivismo do Eusébio; a bonomia do Toni; a paixão do Rui Costa e, claro, a sobriedade do Shéu.
E uma coisa eu sei: o clube ao qual devoto toda a minha admiração não pode fazer das vitórias momentos de arrogância, nem exibir altivez perante os adversários. Muito menos pode fazer das provocações ordinárias e do descontrolo emocional a sua marca. A nossa grandeza fez-se com gente de outra estirpe e podemos bem deixar para os nossos adversários a incapacidade de revelar humildade na vitória.
Por mais qualidades técnico-tácticas que um treinador tenha, nunca no Benfica um funcionário transitório pode desrespeitar a nossa memória coletiva: feita de jogadores que honraram as camisolas vermelhas com elevação. Há valores que se sobrepõem a todos os outros – à cabeça, o respeito reverencial perante aqueles que tornaram o Benfica no Glorioso.

A Luz Intensa, no Record de hoje.