Quem são os verdadeiros responsáveis pelas
medidas de austeridade? Estamos melhor ou pior? A austeridade veio para
ficar? E qual é a melhor saída para Portugal no pós-troika? As respostas
que os portugueses dão a estas questões espelham bem os nossos dilemas
políticos e não deixarão de influenciar as decisões políticas que
Portugal terá de tomar nos próximos tempos.
Os portugueses continuam a fazer uma avaliação
esmagadoramente negativa da execução do memorando de entendimento, mas,
na sua maioria, responsabilizam mais a troika do que o Governo português
pela austeridade. Os sacrifícios continuam a estar associados a uma
determinação externa e as escolhas políticas internas parecem ser vistas
como menos relevantes. Se esta avaliação pode dar algum conforto ao
executivo, o mesmo já não é verdade quando olhamos para a resposta à
questão que marcou o último congresso do PSD: Portugal está melhor ou
pior?
Perto de 70% dos portugueses considera que o País está
pior e um valor superior sublinha que a sua situação ou da sua família
se degradou (77%). Aparentemente, as pessoas não concebem que a situação
do país possa estar a melhorar quando sentem a sua vida a piorar.
O pessimismo pelos vistos veio mesmo para ficar. Não
apenas a libertação nacional do Dr. Portas, o novo 1640, um momento a
partir do qual tudo seria diferente, não existe na cabeça dos
portugueses - apenas 6,5% acreditam que as medidas de austeridade vão
diminuir, terminada a execução do memorando - como já há uma maioria a
preferir um programa cautelar (ou seja, a continuação da
condicionalidade) em lugar de uma saída limpa, como aconteceu na
Irlanda.
No fundo, os portugueses interiorizaram uma narrativa
em que é sugerido que nada podemos fazer, que o que tem acontecido é
algo que nos é imposto, que não há qualquer margem política para
reconquistarmos a nossa autonomia e que a austeridade e as suas
consequências sociais e económicas vieram para ficar. Como as sondagens
medem as percepções e a interpretação que é feita da discussão pública,
fica também demonstrado que há um défice de debate político sobre o
passado recente, mas, também, sobre as possibilidades para o futuro.
Enquanto não for claro que as escolhas internas são relevantes, não há,
de facto, grande margem para mudança.
Para já, estamos face ao pleno das más notícias para os
líderes partidários: ao contrário do que diz Passos Coelho, poucos
acreditam que o país esteja melhor; ao contrário do que promete Paulo
Portas, ninguém crê que a situação melhorará no pós-troika; ao contrário
do que sugere Seguro, os portugueses não vislumbram alternativas.
o meu comentário no Expresso à sondagem da Eurosondagem para o Fórum das Políticas Públicas