"I hope the fences we mended
Fall down beneath their own weight"

John Darnielle

padaoesilva@gmail.com

quarta-feira, 9 de julho de 2014

Um quotidiano previsível



Adepto que se preze gosta do defeso. É por esta altura que todos os sonhos são possíveis: que vislumbramos no “8” que vimos no YouTube o craque que, lá para abril, vai decidir o título; que fantasiamos com o ponta-de-lança letal, mas de técnica apurada, que finalmente chegará; e que temos a certeza de que vamos descobrir a próxima pérola africana, um avançado explosivo, de remate potente. Este presente de ilusões artificiais alimenta, como poucas outras coisas, a paixão pelo futebol. Por esta altura, deixamos que as manchetes de jornais nos mintam, como que para prolongar um sonho que sabemos que nos afasta da realidade. 
Eu quero acreditar em todas as contratações do Benfica, mover-me por uma fé que anuncia um futuro de novas glórias e de novos talentos. Mas é também chegado o momento de reclamar por uma pré-temporada que se inicie com uma estrutura estável, com os mesmos jogadores do ano anterior. Como benfiquista tenho direito a, exijo mesmo, um quotidiano previsível.
Reparem, não estou a dizer que gostava que os jornais desportivos parassem de me iludir. Quanto a isso, a minha disposição é a de sempre: prefiro ser o último a descobrir a verdade. Para que vejam, ainda acredito que o Klinsmann vai jogar no Benfica e que é desta que o Ulf Kirsten assina. A questão é outra. Podem entrar jogadores e, com alguma razoabilidade, até estou disponível para aceitar algumas vendas – desde que, claro está, acima dos 20 milhões. O que não aceito é que se desmantele uma equipa de um momento para outro.
O assunto é bem sério. Como muitos outros pais, tenho responsabilidades acrescidas. Estou a educar duas crianças no benfiquismo e preciso de referências estáveis, que lhes transmitam valores seguros. Não posso garantir aos meus filhos que o Oblak vai ser o melhor guarda-redes do Mundo, explicar-lhe que devemos confiar sempre nas decisões do Enzo e anunciar-lhes que este vai ser o ano da afirmação do Markovic e, subitamente, a minha palavra perder valor, porque nada do que lhes prometi se vai confirmar.
Senhor presidente, pense também nisto.

publicado ontem no Record