"I hope the fences we mended
Fall down beneath their own weight"

John Darnielle

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quarta-feira, 14 de junho de 2017

Jogadores da PQP

Se não leram ainda o texto de Dani Alves no ‘The Players' Tribune’, não deixem de o fazer – não encontrarão outra explicação tão conseguida para a popularidade do futebol e para o sucesso individual. Num relato sentido, o ex-Barça expressa a sua mágoa sobre a saída dos catalães e revela de onde vem a força que lhe permite, ainda hoje, aos 34 anos, ser dos melhores do mundo. Uma rotina repetida antes de cada jogo: olhar para o espelho e rememorar a sua vida, o lugar de onde veio e aquilo por que passou.

Num texto intenso e que abala o coração dos mais frios, o lateral-direito não esquece a infância de agruras e a vida que lhe foi dando pontapés no destino, até um dia aterrar no Camp Nou. Dani Alves não esquece e afirma, "mano, eu vim da pqp". Um lugar de merda, feito de camas de cimento, de trabalho infantil, de futuros armadilhados e condenados à miséria absoluta. Mas um lugar, também, de uma promessa inicial, que explica tudo: "Você não vai voltar para a fazenda até você deixar seu pai orgulhoso. Você pode ser o número 51 em habilidade. Mas você será o número 1 ou 2 em força de vontade. Você será um lutador".

O futebol é o mais popular dos desportos porque é o mais democrático. Todos podem falar com propriedade de futebol e todos, altos ou baixos, franzinos ou corpulentos, podem jogá-lo. O futebol é de todos, mas, quando o talento existe, o que faz a diferença é a força de vontade. Os maiores são invariavelmente os lutadores, os jogadores que vieram de baixo, da pqp, e que superaram tudo. E nem por um momento se esqueceram.

publicado no Record de 5 de Junho