A principal preocupação que me acompanha, agora como antes, é a da governabilidade. Portugal é um país pobre, com falta de qualificação das pessoas e das organizações, com um Estado fraco e insuficiente, em que a falta de sentido da responsabilidade é larvar - e não sairemos desse estado se cedermos por sistema a toda a colecção de egoísmos de grupo que continuam a ser a matriz básica da nossa vida colectiva. E há uma fatia grande do “povo de esquerda” que não compreende isso. E não será possível dar uma resposta política a essa situação se não se compreender o fenómeno de fragmentação da esquerda que levou ao estado lastimoso (por exemplo) da esquerda francesa. Aqueles que pensam que sairão vencedores desta situação varrendo os socialistas da cena - serão os arquitectos de uma paisagem política à francesa, com uma direita instalada e sem verdadeiro contraponto.
Porfírio Silva, no Outubro.