O surf está um pouco por todo o lado. Hoje, quer seja numa praia, quer num anúncio televisivo, é difícil não nos cruzarmos quotidianamente com uma prancha, que sugere invariavelmente uma ideia de liberdade.
Esta presença quase hegemónica do surf coexiste com uma desvalorização do papel económico do desporto. Apesar de não haver quem não valorize o papel do mar como alavanca de um novo modelo de desenvolvimento para o país, estamos muito longe de concretizar esse objectivo e de fazer do surf um aspecto central da associação entre ‘mar’ e a ‘marca Portugal’. O que é tanto mais estranho quanto o surf poderia estar para o turismo português como os desportos de neve estão para os Alpes suíços. O turismo de surf não é um turismo de massas, é sustentável e continuado, e um nicho de mercado sólido e em crescimento. E abundam pela Europa casos de desenvolvimento virtuoso de regiões inteiras, literalmente “puxadas” pelo esqui. Portugal tem um clima temperado, ondas de qualidade, surfáveis durante todo o ano, centralidade (quando comparado com outros destinos de surf) combinada com baixa ocupação das praias na época alta do surf (fora do Verão). O surf poderia ser o nosso esqui, mas, também, o novo golf.
Para que isso acontecesse era preciso que o surf fosse olhado não apenas como uma modalidade desportiva ou um estilo de vida, mas, também, como um bem económico com enorme potencial de expansão, de que o conjunto da sociedade beneficiaria. O que está longe de acontecer.
Publicado no i (que hoje dedica duas páginas ao surf)