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“É
impossível aumentar impostos, desastroso continuar a pedir emprestado, e cortar
despesa é simplesmente desadequado”. As palavras podiam ter sido escritas hoje
e revelam com precisão os dilemas que Portugal enfrenta. Contudo, fazem parte
de um memorando redigido em 1786 por Charles-Alexandre de Calonne, ministro das
Finanças de França, dirigido a Luís XVI. Na sequência deste texto, o monarca
aceitou convocar uma assembleia de notáveis para discutir um plano de reformas.
A assembleia falhou e, por sugestão do Marquês de Lafayette, foram convocados
uns estados gerais (os últimos tinham sido em 1614). Como sabemos, bastaram
três anos para a degradação financeira, económica e social se traduzir no
colapso político do antigo regime.
Se conto
este episódio é porque ele é um bom retrato da situação de Portugal hoje – não
podemos aumentar impostos, é desastroso continuar a pedir emprestado, os
limites para os cortes na despesa já foram ultrapassados e não há apelos aos
consensos que nos salvem. Com uma agravante: os dois caminhos dominantes que
nos têm sido oferecidos para lidar com o beco sem saída em que nos encontramos
têm um lado mimético.(...)"
o resto do meu artigo do Expresso de 23 de Fevereiro está aqui.