"I hope the fences we mended
Fall down beneath their own weight"

John Darnielle

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sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Os melhores discos de 2013


1. Bill Callahan – Dream River (Drag City)

Pode alguém cantar a mesma canção anos a fio e surpreender-nos sempre ao revelar um ângulo (ainda) mais intenso e dramático? Bill Callahan prova que sim e deixa-nos com Dream River aquele que é o ponto alto da sua longa carreira – o que não é pouco. Ao ponto de, com suprema ironia, declarar, “I've got limitations like Marvin Gaye”.

2. Vampire Weekend – Modern Vampires Of The City (XL)

Com o seu pop-rock de travo fácil e sofisticado, estes quatro rapazes de nova-iorque, presos entre o hype global e os ritmos africanos como interpretados por Paul Simon em Graceland, pareciam correr o risco de se repetir, tornando-se redundantes. Mas, ao terceiro álbum, resolveram baralhar (foi-se o imediatismo rock) e voltar a dar (ganhou-se sofisticação formal). Um disco que, sendo uma evolução na continuidade, surpreende e que se vai entranhando.

3. Laura Marling - Once I Was an Eagle (Ribbon Music)

São aparentemente limitados os caminhos da folk e, por vezes, parece que o espaço para rupturas já foi todo ocupado. Mas esta jovem aristocrática britânica arrebata pela sua maturidade e não hesita em dialogar com os grandes. O tom dylanesco é evidente e um disco descarnado, no osso, pode mesmo voar alto e ser um soco no estômago.

4. Jim James - Regions of Light and Sound of God (ATO)

Para quem está convencido que “nada muda”, a estreia a solo de Jim James, líder dos míticos My Morning Jacket, funciona como poderoso argumento de sentido contrário. Por aqui não há resquícios do guitar-hero inspirado em Neil Young, mas apenas uma soul orquestral, poderosa e empurrada por algumas das canções do ano. Nunca se ouviu um Jim James tão inspirado.

5. Prefab Sprout – Crimson/Red (Icebreaker Records)

Dez anos passados, a pop volta ao lugar onde foi mais feliz. Paddy McAloon, o “velho mágico” da canção pop, redescobre os seus Prefab Sprout e leva-os de volta ao sítio onde havíamos ficado: canções trauteáveis, arranjos imaculados e lampejos de utopias melódicas como as que herdámos de “Steve McQueen” e “From Langley Park to Memphis”. Um disco irresistivelmente conservador.

6. Julia Holter – Loud City Song (Domino)

Ao terceiro disco, Julia Holter encontra a dose certa de vanguardismo formal e enlevo pop e oferece-nos um álbum que precisa de tempo para ser apreciado. Esta californiana pega no legado de experimentalismo pop, onde Laurie Andersen e Kate Bush o deixaram, e devolve-nos canções de filigrana, que refletem uma ingenuidade de natureza lynchiana. A certa altura Holter canta “I don't understand falling leaves. A tree's a tree", e por detrás da complexidade da sua música emerge esse mesmo lado essencial.

7. The National – Trouble Will Find Me (4AD)

Patronos da legião mundial de auto-depreciativos, capazes de combinar guitarras abrasivas com cadência melódica e porta-vozes da geração sobre-30 urbano-depressiva, os The National continuam a revelar, álbum após álbum, as mesmas “canções tristes para amantes sujos”. Trouble Will Find Me não destoa. Não tem a energia primitiva de Boxer, nem os hinos para cantar de punho erguido no recato do quarto de Alligator, nem sequer o apelo mainstream de High Violet. Mas é possível resistir ao apelo por conforto de Matt Berninger quando se descreve (ou nos descreve?) como “a television version of a person with a broken heart”?

8. Alela Diane – About Farewell (Burnside)

Há poucos desafios tão difíceis como cantar com contenção o desalento do fim de uma relação – a  linha a separar o bom gosto da pura lamechice é muito ténue. Alela Diane enfrenta o desafio com sucesso e About Farewell, sendo um retrato do fim, é também um início, que combina frustração com uma esperança desalentada, e por isso mesmo realista. A intimidade que se ouve neste disco é de tal forma vivida que somos capazes de, ao escutá-la, vivê-la como nossa. Poucos discos soaram tão autênticos este ano.

9. Nick Cave & the Bad Seeds – Push the Sky Away (Bad Seed Ltd.)

Se tirarmos Leonard Cohen, ninguém canta de forma tão exata a combinação de amor, religião, poder e sexo que nos forma como Nick Cave. Mas se, no início da carreira, a marca do australiano era o negrume e a atração pelo abismo, com a maturidade a sua música foi-se revelando crescentemente suave, como que para encobrir os temas de sempre. O disco deste ano, o 15º da banda, marca o fim da parceria de décadas com Mick Harvey e tem nos loops incessantes de Warren Ellis uma base sonora que funciona como uma tempestade tranquila e que faz emergir uma mão-cheia de canções que fará parte do cancioneiro de Cave.

10. Volcano Choir - Repave (Jagjaguwar)

O que começou por ser um projecto paralelo e experimentalista de Justin Vernon (Bon Iver) com membros dos Collections of Colonies of Bees, soa, ao segundo álbum, como uma combinação das duas dimensões de Bon Iver: o lado mais bucólico e intimista do disco de estreia com a natureza grandiloquente do segundo álbum. Para os fãs do Bon Iver mais recente, o disco de Volcano Choir enche as medidas, para os nostálgicos da sua estreia, sempre serve para matar saudades.

para ouvir aqui.