1. Bill
Callahan – Dream River (Drag City)
Pode
alguém cantar a mesma canção anos a fio e surpreender-nos sempre ao revelar um
ângulo (ainda) mais intenso e dramático? Bill Callahan prova que sim e
deixa-nos com Dream River aquele que é o ponto alto da sua longa carreira – o
que não é pouco. Ao ponto de, com suprema ironia, declarar, “I've got limitations like Marvin Gaye”.
2. Vampire
Weekend – Modern Vampires Of The City
(XL)
Com
o seu pop-rock de travo fácil e sofisticado, estes quatro rapazes de nova-iorque,
presos entre o hype global e os
ritmos africanos como interpretados por Paul Simon em Graceland, pareciam
correr o risco de se repetir, tornando-se redundantes. Mas, ao terceiro álbum,
resolveram baralhar (foi-se o imediatismo rock) e voltar a dar (ganhou-se
sofisticação formal). Um disco que, sendo uma evolução na continuidade,
surpreende e que se vai entranhando.
3. Laura
Marling - Once I Was an Eagle (Ribbon Music)
São
aparentemente limitados os caminhos da folk e, por vezes, parece que o espaço
para rupturas já foi todo ocupado. Mas esta jovem aristocrática britânica arrebata
pela sua maturidade e não hesita em dialogar com os grandes. O tom dylanesco é
evidente e um disco descarnado, no osso, pode mesmo voar alto e ser um soco no
estômago.
4. Jim
James - Regions of Light and Sound of God (ATO)
Para
quem está convencido que “nada muda”, a estreia a solo de Jim James, líder dos
míticos My Morning Jacket, funciona como poderoso argumento de sentido
contrário. Por aqui não há resquícios do guitar-hero inspirado em Neil Young,
mas apenas uma soul orquestral, poderosa e empurrada por algumas das canções do
ano. Nunca se ouviu um Jim James tão inspirado.
5. Prefab
Sprout – Crimson/Red (Icebreaker Records)
Dez
anos passados, a pop volta ao lugar onde foi mais feliz. Paddy McAloon,
o “velho mágico” da canção pop, redescobre os seus Prefab Sprout e leva-os de
volta ao sítio onde havíamos ficado: canções trauteáveis, arranjos imaculados e
lampejos de utopias melódicas como as que herdámos de “Steve McQueen” e “From
Langley Park to Memphis”. Um disco irresistivelmente conservador.
6. Julia
Holter – Loud City Song (Domino)
Ao
terceiro disco, Julia Holter encontra a dose certa de vanguardismo formal e
enlevo pop e oferece-nos um álbum que precisa de tempo para ser apreciado. Esta
californiana pega no legado de experimentalismo pop, onde Laurie Andersen e
Kate Bush o deixaram, e devolve-nos canções de filigrana, que refletem uma
ingenuidade de natureza lynchiana. A certa altura Holter canta “I don't understand falling leaves. A tree's a tree", e
por detrás da complexidade da sua música emerge esse mesmo lado essencial.
7. The
National – Trouble Will Find Me (4AD)
Patronos
da legião mundial de auto-depreciativos, capazes de combinar guitarras
abrasivas com cadência melódica e porta-vozes da geração sobre-30
urbano-depressiva, os The National continuam a revelar, álbum após álbum, as
mesmas “canções tristes para amantes sujos”. Trouble Will Find Me não destoa.
Não tem a energia primitiva de Boxer, nem os hinos para cantar de punho erguido
no recato do quarto de Alligator, nem sequer o apelo mainstream de High Violet. Mas é possível resistir ao apelo por conforto
de Matt Berninger quando se descreve (ou nos descreve?) como “a television version of a person with a broken heart”?
8. Alela
Diane – About Farewell (Burnside)
Há
poucos desafios tão difíceis como cantar com contenção o desalento do fim de
uma relação – a linha a separar o bom
gosto da pura lamechice é muito ténue. Alela Diane enfrenta o desafio com
sucesso e About Farewell, sendo um retrato do fim, é também um início, que
combina frustração com uma esperança desalentada, e por isso mesmo realista. A
intimidade que se ouve neste disco é de tal forma vivida que somos capazes de,
ao escutá-la, vivê-la como nossa. Poucos discos soaram tão autênticos este ano.
9. Nick
Cave & the Bad Seeds – Push the Sky Away (Bad Seed Ltd.)
Se
tirarmos Leonard Cohen, ninguém canta de forma tão exata a combinação de amor, religião,
poder e sexo que nos forma como Nick Cave. Mas se, no início da carreira, a
marca do australiano era o negrume e a atração pelo abismo, com a maturidade a
sua música foi-se revelando crescentemente suave, como que para encobrir os
temas de sempre. O disco deste ano, o 15º da banda, marca o fim da parceria de
décadas com Mick Harvey e tem nos loops incessantes de Warren Ellis uma base
sonora que funciona como uma tempestade tranquila e que faz emergir uma
mão-cheia de canções que fará parte do cancioneiro de Cave.
10. Volcano
Choir - Repave (Jagjaguwar)
O
que começou por ser um projecto paralelo e experimentalista de Justin Vernon
(Bon Iver) com membros dos Collections of Colonies of Bees, soa, ao segundo álbum, como uma combinação das duas
dimensões de Bon Iver: o lado mais bucólico e intimista do disco de estreia com
a natureza grandiloquente do segundo álbum. Para os fãs do Bon Iver mais
recente, o disco de Volcano Choir enche as medidas, para os nostálgicos da sua
estreia, sempre serve para matar saudades.
para ouvir aqui.