terça-feira, 23 de setembro de 2014
Eu estive lá
Tenho mais de 30 anos de Estádio da Luz. Tempo suficiente para já ter visto de tudo: conquistas gloriosas, derrotas formativas e jogadas mágicas. De todas guardo igual memória. Aprendi a gostar do Benfica com vitórias como as da caminhada rumo à final da UEFA com Eriksson; com derrocadas como a sofrida com o Liverpool, em meados dos oitenta, às mãos de Bento, que era um gigante; ou com dribles como os do Diamantino, que num jogo contra o Porto, de tanto fintar o Laureta, acabou por deixá-lo sentado.
O futebol é uma ficção que podemos viver, sentados na bancada. Mas não há nisto nada de contemplativo. Quem vê futebol com paixão no estádio, participa do jogo. Sei que é assim. Os medos dos adeptos (a ansiedade que sentimos numa bola mal atrasada para o guarda-redes, as dúvidas em relação a um defesa que teima em deixar-nos mal), bem como a nossa confiança (traduzida na alegria que vislumbramos no extremo a quem as fintas saem sempre), ligam-nos ao jogo, mas transmitem-se também ao jogo. O Benfica é a continuação do que se passa nas bancadas da Luz.
De tudo o que vivi, não me recordo de uma noite como a de 16 de setembro de 2014. Escrevo por extenso a data dessa terça-feira, em que perdemos com o Zenit, pois passará a estar inscrita na minha memória, lado a lado com outros momentos formativos de benfiquismo.
Para trás vai ficar a sonolência coletiva do início da partida e a história esquecerá o resultado. Quando olharmos para este dia, recordar-nos-emos, todos os que lá estiveram, do cântico espontâneo e prolongado. Sei de certeza firme que o que se passou naquela noite vai ser o suplemento de alma para grandes conquistas e que, no fim da época, quando o Luisão levantar a taça, o fará com a força de todos nós, que empurramos o Benfica para as vitórias. A cantar.
publicado no Record