"I hope the fences we mended
Fall down beneath their own weight"

John Darnielle

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terça-feira, 9 de setembro de 2014

Pensem nisso


A paixão clubística é um dos aspetos mais estáveis da nossa identidade. A vida vai e vem, o clube fica. Sempre. Isso mesmo recordava Eduardo Sacheri. Adepto fanático do Independiente, escritor argentino, vencedor de um Óscar para melhor filme estrangeiro com “O Segredo dos seus Olhos” (a ordem não é aleatória), reconheceu numa entrevista que, por melhor que lhe estivesse a correr a vida, sobre a felicidade do momento pairava sempre um risco: e se o Independiente perde?

O escritor argentino conta mesmo que, na noite em que recebeu o Óscar, enquanto esperava no hotel em Las Vegas, o filho ia-lhe mandando SMS com a marcha do marcador de uma partida com o River. A certa altura, a equipa de Avellaneda perdia por 2-0 com os “milionários”, mas, no fim, deu a volta e venceu. Sacheri confessa que, se o seu clube tem perdido, em algum momento dessa noite de consagração teria esquecido o fervor e a alegria de receber um Óscar e ter-se-ia encostado a um canto a pensar: “Estes filhos da mãe, como é que perderam hoje?”

Podemos tomar esta disponibilidade para nos deixarmos afetar pelos resultados da nossa equipa como sinal de uma inclinação muito masculina para querer ensombrar qualquer lampejo de felicidade absoluta. Talvez, mas não há volta a dar. Por melhor que nos esteja a correr a vida, tudo pode soar a um enorme falhanço se o nosso clube perde. Da mesma forma, que nos momentos de maior angústia, uma vitória surge como um lampejo de esperança, capaz de iluminar tudo.

Hoje já não sou o miúdo que chorava com uma infelicidade absoluta com as derrotas do Benfica, mas, por mais controlo que finja, o meu estado de espírito depende dos resultados do meu clube. Sei bem que se, por absurdo, estivesse a minutos de receber um Óscar, a minha alegria estaria condicionada pelo momento do Benfica. Nisso, julgo não ser diferente de milhões de benfiquistas. É por isso que, como adepto, exijo aos jogadores que, de cada vez que subam ao relvado, não se esqueçam de que o que sentimos depende do que vocês fazem. Pensem nisso.

publicado hoje no Record