Tem sido dito que o Benfica deste ano tem duas faces: uma para consumo interno e outra para as competições europeias. A primeira face mantém a capacidade ganhadora da temporada passada; enquanto a segunda, a dos jogos da Champions, revela-se bem mais frágil. Julgo que esta análise assenta num equívoco.
Na verdade, o Benfica de 2014/15 tem apenas uma face. Uma equipa que contra adversários inferiores oculta as suas fragilidades individuais com uma organização coletiva muito forte e com a capacidade, por vezes exuberante, de criar desequilíbrios no ataque, e uma equipa que contra equipas mais fortes é curta e expõe mais as suas debilidades.
Paradoxalmente,
no jogo de Braga tivemos um retrato de corpo inteiro do Benfica desta
temporada. A primeira meia hora mostrou o melhor Benfica da época
(transições ofensivas rápidas, assentes num jogo interior entusiasmante,
muito por força das combinações entre Gaitán e Talisca); depois disso,
tivemos os problemas que surgem na Champions (dificuldade em fechar
espaço do lado esquerdo da defesa, entre central e lateral; a posição 6
muito longe de oferecer o equilíbrio que o sistema de Jesus requer e um
meio-campo com pouca intensidade). Reparem, não nomeei nenhum jogador
porque os problemas persistem, independentemente de quem joga.
Será que os altos e baixos do Benfica esta temporada terão solução? Ou estará o Benfica condenado a tornar as suas debilidades mais visíveis quando joga contra os mais fortes?
Há bons motivos para alguma prudência. Com um plantel mais curto, que torna a rotatividade difícil, o segredo para o sucesso do Benfica este ano vai estar na forma como souber esconder as debilidades e evidenciar os pontos fortes. O mais provável é que esse sucesso vá depender, no essencial, da capacidade de gerir forças, focando-se no campeonato nacional.
publicado no Record de hoje.