"I hope the fences we mended
Fall down beneath their own weight"

John Darnielle

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quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Talisca, o facilitador

Desde que chegou ao Benfica, Talisca já foi testado em várias posições: começou por jogar no lugar de Enzo, depois ainda houve tentativas de fazer dele um 6 e, mais tarde, viria a jogar entre o 9,5 e o “meia”, acompanhando Lima no ataque.

A indefinição quanto à posição do baiano faz sentido. Qualquer que seja o lugar onde joga, Talisca aparenta ser um corpo estranho à organização tática da equipa. Não tem cultura defensiva e, apesar da altura, revela fragilidades nas bolas aéreas; falta-lhe a intensidade de jogo de Enzo e não sabe pautar o jogo como um 8; e apresenta lacunas técnicas para jogar de costas para a baliza. Tudo isso é verdade, mas Talisca é um verdadeiro facilitador. Num jeito meio desengonçado, toma sempre a opção mais inesperada para, com eficácia, desbloquear os impasses dos jogos.


Se o futebol precisa de jogadores capazes de interpretar rigorosamente uma determinada gramática tática, necessita também de quem seja capaz de desformatar o jogo. Talisca é um desses jogadores: não interpreta na perfeição as características de nenhuma posição, mas, onde quer que jogue, revela um rasgo individual que lhe permite surpreender sempre. Quer em arrancadas serpenteantes, onde parece que vai perder a bola a qualquer momento mas acaba por marcar, quer em passes de rutura, com a bola a sair vertical, como se pontapeada por um taco de bilhar, como sucedeu na jogada do golo de Salvio contra o Arouca. As suas características fazem, por vezes, recordar um colosso do futebol brasileiro, também ele um jogador incaracterístico: Rivaldo.

Claro que Talisca precisa de limar muito o seu futebol e espera-o, ainda, uma longa aprendizagem, mas, convenhamos, com o brasileiro o risco não é tanto não aprender, mas aprender de mais, tornando-se um jogador burocrático.

publicado no Record