Agosto de
2014, pelas bandas do Estádio da Luz assiste-se a uma debandada. A equipa que
conquistou o triplete com nota artística está a sofrer uma sangria com poucos
paralelos. Depois de perdidos Rodrigo, André Gomes e Garay, em poucos dias
partem Siqueira, Oblak, Markovic, Cardozo e, percebe-se, Enzo acabará por sair.
Entre saídas, a equipa faz uma pré-temporada medíocre, na qual maus resultados
se combinam com a apresentação de uma meia-dúzia de jogadores sofríveis. O campeonato
inicia-se sem uma solução para a baliza, sem um avançado para compensar a saída
de Rodrigo e Cardozo, sem opções para o lugar 6 (posição chave no esquema de
Jorge Jesus) e com uma defesa que parece uma manta de retalhos. Como se não
bastasse, Rúben Amorim lesiona-se gravemente na 2ª jornada e junta-se a Fejsa.
Repetir 2013-14 era uma miragem distante e o campeonato parecia entregue à
partida. Desta feita, tudo dependia mesmo da capacidade de Jesus formar uma
equipa e jogar com muitos “manéis”.
No Dragão
a história era toda outra. Depois de uma época para esquecer, a equipa mantinha
os jogadores de maior qualidade (Jackson, Danilo e Alex Sandro) e contrata
meia-dúzia de talentos indiscutíveis. Dinheiro parece não faltar: para
empréstimos luxuosos (Casemiro e Óliver) e para contratações proibitivas para o
nosso campeonato (Adrián Lopez). Um treinador desconhecido não se limita a ter
um voto de confiança incomum naquelas paragens (um contrato de 3 anos), como
tem um plantel bem distante dos Licás, Carlos Eduardos e Josués que Paulo
Fonseca havia tido ao seu dispor.
Em teoria,
o campeonato iniciava-se com o terreno inclinado a favor do Porto, que não
podia perder, enquanto o Benfica tinha tudo para entregar o ‘caneco’ nas
jornadas iniciais. Como sabemos hoje, não foi assim que as coisas se passaram.
O Benfica assumiu a liderança à 5ª jornada para, contra todas as
probabilidades, nunca mais largar o comando. Já o Porto, habituado a gerir a
sua posição hegemónica com todo o tipo de ajudas fora de campo, não compreende
o que se está a passar, começa a ficar desorientado, e saca do discurso do
“colinho”.
Na
política costuma dizer-se que as eleições não se ganham, perdem-se. Talvez, na
realidade, não seja bem assim e os resultados sejam sempre uma combinação particular
de derrota com vitória. No futebol é um pouco o mesmo que acontece. O Benfica
ganhou porque foi mais forte coletivamente e porque revelou estatura de
campeão, resistindo psicologicamente. Mas o Porto também foi responsável pelo
34º campeonato do Benfica, na medida em que perdeu, quando tinha tudo para
ganhar. Essa é, aliás, a grande novidade deste campeonato, quando comparado com
os das últimas duas décadas.
Publicado no
Expresso no Domingo às 20 horas.