“O
futebol são 22 homens atrás de uma bola e no fim ganha a Alemanha”, disse um
dia Gary Lineker, descrevendo com exatidão a superioridade teutónica. O que
provavelmente o avançado britânico desconhecia é que os alemães, para além de
vencerem demasiado, são os únicos que têm uma palavra que dá corpo ao prazer
que sentimos com o falhanço e a derrota dos outros – schadenfreude.
O
futebol é o espaço por excelência para a schadenfreude, para o
entusiasmo com a desgraça alheia. O
prazer que retiramos do jogo depende tanto das alegrias oferecidas pelo nosso clube, como dos
desaires infligidos aos adversários. Vibramos com as nossas vitórias, mas
vibramos igualmente com as derrotas dos outros. Aliás, há uns meses, a Revista
Líbero citava um estudo científico, realizado no Mundial98 e no Euro2000, que
provava que os mais fanáticos dos adeptos holandeses desfrutavam mais com os
insucessos da Alemanha do que com as conquistas da Laranja Mecânica.
Já
o filósofo Nietzsche defendia mesmo que a Schadenfreude era uma emoção
social vital, pois unia as pessoas e criava identidades partilhadas. Ou seja, somos
de um clube também porque somos anti outro clube. Sem rivalidade e sem prazer
com o infortúnio dos outros, o futebol perdia o sentido. Humano, demasiado
humano, este sentimento de vingança que é tanto mais forte quanto mais nos
sentimos em desvantagem.
Schadenfreude,
meus caros amigos: foi um lindo fim-de-semana de futebol este que passou.
publicado no Record de terça-feira