No início do Sporting-Benfica, a claque leonina exibiu uma tarja 
exemplar: num desenho tosco, Bruno Carvalho e Jorge Jesus, vestidos como
 guerreiros medievais, de espada desembainhada e escudos ao alto, a 
deitar por terra Luís Filipe Vieira. Por cima, podia ler-se – "isto é o 
Sporting". Tal e qual.
O simbolismo da tarja é todo um programa. 
Não falo sequer do mau gosto do exercício ou a cobardia em que assenta 
uma contenda de dois guerreiros armados contra um peão indefeso. Quando o
 tema é deslealdade, não alimento ilusões. Por natureza, 
independentemente dos clubes, as claques são dadas a exercícios 
grotescos. A questão é outra.
Há, é um facto, um lado irónico na 
resposta dada em campo aos rugidos de campeão precoces, mas o 
fundamental nem sequer é isso. O que é revelador são as personagens 
escolhidas para serem exibidas pelas claques: presidente e treinador. A 
opção esquece quem são os verdadeiros protagonistas do futebol e promove
 um culto do presidente que é invariavelmente contraproducente. Num 
clube, o que conta somos nós, adeptos, e os jogadores. Tudo o resto é 
secundário. Não por acaso, na Luz, canta-se a glória de Cosme Damião, 
Eusébio e Coluna, mas a ninguém ocorreria celebrar presidentes.Esta 
atitude serve, agora, para recordar o essencial. Como bem disse Rui 
Vitória no final do jogo, "uma das coisas que caracteriza a nação 
benfiquista é a humildade. E sabermos que ainda há muito campeonato pela
 frente". 
Lembram-se do "bailando"? Uma vez mais, ao Benfica 
compete fazer diferente do que o Sporting tem feito. Humildade e zero 
bazófia. Combinado?
publicado no Record de terça-feira 
