Poucas coisas geram tanto entusiasmo no adepto como o defeso. O vai-e-vem de jogadores alimenta sonhos de grandeza. Por estes dias, tudo nos é permitido: não há craque que não esteja para ser contratado pelo nosso clube. A comunicação social joga com isso e faz de rumores notícias. Até aqui, nada de novo – os adeptos gostam de ser iludidos. Faz parte do jogo.
Há, contudo, uma realidade paralela em torno das movimentações de mercado que convém ser esquecida, caso queiramos preservar a paixão pelo futebol. Direitos económicos vs. desportivos; fundos e superagentes; clubes detidos por empresários asiáticos que se transformam em veículos para ativos tóxicos; cláusulas de rescisão para além do razoável; prémios de assinatura para o agente amigo; contratações esdrúxulas por valores idênticos às vendas de craques incontestáveis. O futebol a tornar-se um tema que pouco diz à paixão do adepto.
Talvez o negócio Rafa seja o pináculo de toda esta realidade. Com direitos económicos divididos entre Feirense (10%), Braga (40%), Gestifute (40%) e António Araújo (10%), Rafa é a versão século XXI do capitalismo popular, que caraterizou a vaga de privatizações do início dos noventa. Todos sonham lucrar com o negócio.
Ultrapassada esta intrincada rede de proprietários, eis que, numa troca epistolar em público, descobrimos que a administração da ONSOCCER International S.A. e Jussara Correia reivindicam ainda uma parcela pela intermediação da venda. Desconheço a empresa, de nome estrangeiro, mas a minha intuição diz-me que é Jussara Correia que guarda a chave que desvenda todos os mistérios do futebol.
publicado no Record de terça-feira.