sexta-feira, 25 de novembro de 2016
A alegria do povo
Desde sábado que ando com uma sensação estranha: tenho a impressão de que, para onde quer que me vire, me arrisco a ver o Guedes e o Nelsinho a passarem por mim a correr, imparáveis, a alta velocidade. Digo-o agora em público sem reserva, pois, em privado, já partilhei a sensação com um par de amigos que me confidenciaram sentir o mesmo.
Não sou o único, mas isso não me impede de saber que o primeiro passo para ultrapassarmos um estado de perturbação psicológica é reconhecer que alguma coisa está errada. Tenho feito um esforço nesse sentido e consultei os melhores especialistas. O António Tadeia diagnostica a facilidade do Benfica em "meter as mudanças de velocidade à entrada dos últimos 30 metros". O Pedro Bouças, que dá consultas ao grande público no Lateral Esquerdo, afiança que o segredo do Guedes está na mobilidade em aceleração que garante opções de passe e nos desequilíbrios em condução. Já o Nelsinho é um caso à parte de critério e dinâmica: notável na forma como vai superando situações de inferioridade em espaços curtos. Até o Carlos Daniel, pese embora o seu espírito hipercrítico, me confidenciou: vejo muita evolução. Os dois mais competentes, o Nelsinho a defender melhor e a temporizar com propósito e o Guedes muito bem por dentro, com espaço para explodir e cada vez melhor na decisão.
Pois eu, que sempre que o tema é o Benfica sou estruturalmente dado a devaneios pueris, limito-me a constatar o óbvio: temos de aproveitar os poucos meses em que o Guedes e o Nelsinho vão estar por cá, vestidos com as camisolas berrantes, a encher-nos de alegria.
publicado no Record de 22 de novembro