A culpa tem as costas largas e, como é sabido, as costas do Benfica são
tão largas que, agora, não há responsabilidade pelo fracasso do Porto e
do Sporting que não seja imputada ao Benfica. Percebe-se: quando se
perde, nada como encontrar um responsável imediato pelos insucessos.
Afinal, esta é a melhor forma de ocultar insuficiências próprias – do
planeamento da época às contratações, passando pela forma como se
prepara os jogos.
A sugestão de que o Benfica é, alegadamente,
uma entidade toda poderosa que tudo determina, serve um propósito: os
dirigentes iludem os adeptos, fazendo com que estes esqueçam as causas
profundas para as derrotas.
Mas este jogo de culpas, enquanto
produz um efeito de ocultação, tem consequências desportivas imediatas.
Desresponsabiliza os jogadores e empurra-os para novos fracassos.
De
cada vez que é dito que um clube perde por causa dos árbitros ou, ainda
mais absurdo, por influência de outro clube que nem sequer está em
campo, os jogadores sentem-se ilibados e transferem a responsabilidade
pelos falhanços para outros fatores que não o jogo jogado. Mais, sempre
que tal acontece, a equipa aproxima-se de uma espiral de insucesso,
entrando em campo derrotada – pois, faça o que fizer, os resultados
estão pré-determinados. A instabilidade emocional que Sporting e Porto
têm mostrado nos últimos jogos é prova disso.
Como benfiquista,
faço votos para que insistam nas justificações que têm utilizado. E
confesso, também penso que a culpa é do Benfica. Aliás, é um sentimento
com o qual vivo diariamente. Desde o dia em que nasci.
publicado no Record de 10 de Janeiro