Há golos que valem mais do que outros. Estatisticamente é mesmo
assim: numa análise ao campeonato inglês, em ‘The Numbers Game’, Chris
Anderson e David Sally concluem que, quando uma equipa marca três golos,
os adeptos podem abandonar o estádio com alguma segurança. A
probabilidade de vitória é altíssima, 85%. Já a de derrota para quem
está a perder por três a zero é ainda mais elevada, 95%.
Está-se mesmo a ver do que estou a falar. O Boavista marcou três
golos, empatou e fugiu às probabilidades. Porquê? Lá está, porque depois
disso o Benfica marcou três vezes, o que é ainda mais improvável.
Ora o problema esteve mesmo aí. A perder por três, o Benfica passou a
ter as estatísticas a jogar contra si. Esqueçamos por um momento a
arbitragem lastimável – sei que não é fácil – e concentremo-nos no
desafio psicológico. A sofrer três golos em casa contra um adversário
bem mais fraco, o principal risco do Benfica era o descontrolo
emocional. Não aconteceu, até porque essa tem sido uma das virtudes da
equipa com Rui Vitória.
Paradoxalmente, foi quando empatou o jogo que o Benfica deixou de ser
dominador. Estranho? Nem por isso. A perder por três, Vitória inovou
taticamente e o Benfica recuperou a desvantagem. Aquando do empate, era
necessário regressar ao sistema tradicional e reequilibrar a equipa.
Mas, a partir de então, o Benfica não mais se reencontrou: emocional,
física e, acima de tudo, taticamente. Sem substituições disponíveis, com
um engarrafamento de jogadores nas alas e falta de presença no
meio-campo, o Benfica deixou de ameaçar o Boavista. As estatísticas
adversas fizeram o resto.
publicado no Record de 17 de janeiro