Imagine que tem 35 anos, foi titular indiscutível durante mais de uma dezena de temporadas, acaba de terminar um ano em que jogou pouco e a sua equipa sagrou-se campeã nacional com um jogador dez anos mais novo na sua posição. Agora acrescente que, durante o defeso, foi visto como sendo dispensável, empurrado para um colosso das West Midlands, de nome curioso, que se arrasta por um campeonato secundário, mas que estava disponível para lhe pagar um salário exorbitante. Contra a vontade de muitos, que olhavam para a sua saída com alívio, ficou. Mas a história não termina assim. Como se não fosse suficiente, no início da época as lesões arreliadoras não o abandonavam e perdeu a titularidade. A custo, aproveitou a oportunidade e regressou ao seu posto na defesa e na equipa.
Em catorze temporadas de águia ao peito, poucas coisas dão tão bem conta da fibra de que é feito Luisão como o que se passou nos últimos meses. De jogador proscrito por muitos a titular aos 36 anos e à beira de completar, hoje, 500 jogos oficiais pelo Glorioso. Os números são de outro tempo, quando os jogadores estavam amarrados a um só clube, mas o que mais destoa é a força mental para recusar o fim da relação com o Benfica.
É este o nosso capitão. Um Luisão que já não terá as qualidades do passado, mas dá outras coisas fundamentais à equipa. Se hoje o Benfica está sempre mais próximo das vitórias, deve-o também a um jogador que, num plantel repleto de talento, mas, também, muito jovem, oferece um suplemento de maturidade e liderança para compensar a inexperiência.
"Gratidão" é de facto a palavra exata.
publicado no Record de 14 de fevereiro