No Domingo, na ressaca de
horas de tensão emocional, telefonaram-me da TSF para reagir ao regresso do
campeão. Não tenho bem presente a pergunta do Mário Fernando, mas terá sido
qualquer coisa como: “o que é que destacas no título deste ano?”
Se
não sei bem o que me foi perguntado, sei o que respondi: “foi o primeiro
campeonato que celebrei no estádio com o meu filho”. Quando chamado a fazer uma
análise ponderada sobre o percurso atribulado que trouxe o Benfica de novo às
vitórias, o que me veio à cabeça foi, de forma imparável, a minha relação com o
futebol.
Podemos
bem enredar-nos em análises do sistema de jogo, olhar para as estatísticas,
avaliar se é mais eficaz jogar em 4x4x2 ou 4x3x2x1; no fim, quando o tema é
futebol, somos remetidos para um território de suspensão da razão. Fechados num
estádio para ver um jogo e, depois, para contemplar a felicidade infantil dos
jogadores que correm sem sentido em volta do relvado, num momento de partilha
com todos os sofredores de bancada, estamos numa espécie de reserva emocional, ausente
no resto da vida.
Há
muito que sei quão fascinante é poder participar daquela alegria. Julgo que o
intuí primeiro quando, ainda bem miúdo, via, desde a janela, as filas de carros
estacionados à porta de casa, com adeptos que se dirigiam para a Luz. Não sei
se por ter sido vizinho do estádio, mas quando comecei a assistir aos jogos
desde a bancada tive a confirmação do prazer que se encontra vitórias do nosso
clube. Mas, devo dizer-vos, uma coisa é sermos nós a ver a partida; outra, bem
distinta, é olhá-la desde os olhos dos nossos filhos e, naquele momento de
exaltação absoluta – a celebração do golo, os cânticos da glória do título – podermos
abraçar-nos e sentirmos neles a alegria que é também a nossa.
Este
campeonato é do nosso capitão, o Luisão; do Presidente; do Jesus; do Enzo – que
põe a equipa toda a pensar futebol. É também de todos os adeptos que sofreram
em maio. Mas, para mim, este é o campeonato em que celebrei os golos do Lima
abraçado ao Vicente, depois de ter ganho por 10 a zero ao Sporting numa
peladinha imaginada pela Leonor, que fazia de Cardozo.
publicado no Record de ontem.