Como gostam de dizer os líderes partidários nas noites eleitorais, o resultado das europeias tem um significado político claro - os portugueses já deixaram de apoiar a dupla Passos/Portas e não acreditam na mudança prometida por Seguro. No fundo, os portugueses revelam um enorme bom senso.
Um resultado tão expressivo, combinado com apelos para que o Presidente tire as devidas ilações, tem, para já, apenas uma consequência, aliás igual para PSD/CDS e para PS. Quer ao líder do Governo, quer ao líder da oposição, resta fazer uma coisa nos próximos tempos: resistir.
A derrota colossal dos partidos da coligação - com um resultado bem mais lisonjeiro, Barroso emigrou para Bruxelas - não correspondeu a ganhos significativos do PS. Se excluirmos as eleições atípicas de 1985 (as do PRD), nunca tão poucos portugueses escolheram votar nos três partidos que tiveram responsabilidades governativas (60%). Imaginemos, por absurdo, um governo de bloco central (alargado ao CDS) mas com menos de 2/3 dos votos. Afinal, a resiliência do sistema partidário português revelou-se bem menor do que sugeriam as últimas sondagens. A trajectória de erosão do centro - que já vai bem avançada nos outros países da Europa do sul - não marcou passo em Portugal. Pelo contrário, consolidou-se uma tendência que já se tinha feito sentir nas autárquicas e até nas presidenciais. O descontentamento face aos três partidos escolheu a via da fragmentação. Os eleitores dividiram-se entre Marinho Pinto, o Livre, o PAN e os 250 mil brancos e nulos.
Se a Dona Inércia se tem candidatado, teria tido um resultado estrondoso. No fundo, a Dona Inércia ganhou.
Mas quem resumiu bem a noite eleitoral foi o nosso José Manuel Barroso quando anunciou à Europa ser "extremamente importante que as forças políticas que lideraram e apoiaram os passos fundamentais da resposta europeia à crise, na globalidade, venceram uma vez mais". Numa noite com tantos, em Portugal e na Europa, em estado de negação, deve ser difícil encontrar uma declaração mais delirante.