Não há nenhuma racionalidade
nisto: a verdade é que não sou entusiasta do novo Estádio da Luz. É
indiscutível que ganha em conforto e segurança, que se entra e sai com mais facilidade.
Ninguém duvida. Mas tenho nostalgia do banco de pedra corrido, da chuva que nos
apanhava desprevenidos e, claro, do célebre movimento dos “sócios de avançada”,
que ao intervalo se deslocavam de um lado para outro da bancada para acompanhar
os ataques da equipa.
O
velho estádio já não existe, mas guardo um fascínio por essa ruína de um
passado que não volta. Sei bem o que procuro nessa memória: o que lá vi –
caminhadas hegemónicas do Glorioso rumo a títulos – e o que lá vivi. Havia um
miúdo (na verdade éramos muitos) que esperava na ponte que dava acesso à
entrada do 3º anel para entrar no estádio à boleia de um adulto. Quando vou ao
futebol, vou sempre à procura daquela criança que, na velha Catedral, descobriu
uma mão-cheia de super-heróis e se deixou prender para sempre às camisolas
vermelhas.
Hoje,
ninguém me tira o prazer das idas religiosas ao Benfica, mas em nenhum outro
estádio me reencontro com o futebol que descobri na infância como no Jamor.
A Taça tem um encanto
particular por ser o culminar da época, por alimentar os sonhos dos “tomba
gigantes” e pelo prazer de traçar um perímetro na mata e, depois, durante horas,
ficar por ali a antecipar o início do jogo, em patuscadas sem fim. Parte
importante da festa da Taça está nessa inclinação democrática e popular. Mas não
é apenas isso que explica o fascínio que guarda quem já esteve no Jamor e, mais
ainda, viu a sua equipa a trazer o “caneco”.
A Taça é a Taça porque a
final é disputada no Estádio Nacional, um lugar como já não há – memória viva
de um ambiente cénico que, em duas décadas, desapareceu do futebol. É também isso
que me faz levar o meu filho, pela mão, ao Jamor. É a forma que tenho de lhe
mostrar o futebol como o conheci no início da década de oitenta.
publicado no Record hoje.