Sei bem qual é o sonho de quem
assiste ao jogo desde a bancada: ver em cada jogador um reflexo de si próprio.
O jogador ideal é um adepto como nós, mas com uma grande diferença – tem
talento. É por isso que sonhamos todos com jogadores com amor à camisola,
disponíveis para dar tudo pelo clube e que na derrota derramam lágrimas de
tristeza, da mesma forma que não escondem a emoção (e as lágrimas) na vitória.
Aqueles que pisaram os relvados de
Turim, numa noite heroica que nos acompanhará por muitos anos, revelaram o
perfil ideal para o adepto fervoroso. Quando regressarmos àquela jornada, que já
está guardada ao lado de outros empates míticos (sim, estou a pensar nos 4 a 4
de Leverkusen há 20 anos), o que recordaremos é a resistência daqueles bravos,
a forma como se mantiveram unidos e honraram as camisolas do Benfica.
Mas será que o que explica o
sucesso do Glorioso este ano é a atitude combativa que vimos na quinta-feira? Não.
A atitude combativa é, ela própria, consequência de outros fatores e não a
causa explicativa do sucesso. Depois do falhanço traumático de Maio passado, e
das hesitações do início de temporada, a equipa está hoje unida, mas a coesão é
fruto de um contexto que faz sobressair talentos individuais e que aumenta a
intensidade com que jogamos.
O Benfica que pode ganhar tudo não
é apenas uma equipa forte nas transições, mas com problemas para gerir a posse
de bola ou que apresenta fragilidades quando chamada a defender. Pelo
contrário, chegamos ao final de época muito organizados em todas as fases do
jogo, exibindo um notável trabalho de treino. Ao contrário do que acontecia, este ano somos muito competentes a defender e a controlar o jogo a
meio-campo, mesmo que já não revelemos o carrossel atacante do passado. Somos
por isso uma equipa melhor. Uma equipa preparada para vencer e,
sintomaticamente, capaz de jogar com 10, 9 ou até, se for caso disso, na feliz
expressão do treinador, com o “Manel” a titular.