Estranha-se esta sensação de estar em celebração
interior e ser atacado pela perda de peças que foram “chave” no
bicampeonato e, pior, perceber que tenho de me preparar para mais
baixas. Por mais apelos à razão, não é fácil. Podem dizer-me que no
futebol moderno a fidelidade clubística é território exclusivo dos
adeptos. Sei de tudo isso, mas custa saber que o jogador que vi fazer
juras de amor eterno à camisola do Glorioso será o primeiro a trocar
essa paixão por um compreensível conforto material.
Não
se trata apenas do desejo sempre adiado de um defeso tranquilo, sem
vendas, trocas ou empréstimos. É mais do que isso. É também a
necessidade de resistir a uma captura do futebol pelas forças da razão.
Chegará
um novo ponta-de-lança entusiasmante para substituir o ídolo de hoje e a
admiração pelo centro campista de toque subtil que nos abandonou
revelar-se-á efémera assim que o jovem talento tiver espaço para se
afirmar. Pouco importa: se deixarmos que se transforme num território
onde a irracionalidade e as paixões absolutas perdem todo o espaço para a
gestão rigorosa e a sustentabilidade financeira, para que é que servirá
exatamente o futebol?
Que
fazer, então? Encontrar um equilíbrio entre racionalidade e paixão na
forma como se gere um clube, até porque no Benfica os principais
dividendos a distribuir são as vitórias.
Basta
ver o futebol poético do Bernardo no Europeu sub-21 para se ter a
certeza que nenhuma análise custo-benefício é capaz de calcular o valor
patrimonial da paixão benfiquista daquele miúdo. Nunca, em circunstância
alguma, podia ter sido vendido.
Já Maxi,
depois de todas as exigências e das ameaças de sair para um rival,
delapidou o capital que tinha e perdeu a mística de outros tempos. Faço
minhas as palavras do grande Toni: “Por mim, já tinha marchado”.
publicado no Record de terça-feira.