Talvez seja a posição onde a oferta de jogadores de
qualidade é mais escassa. Falo de laterais-esquerdos: rareiam os
jogadores que juntem competências defensivas com capacidade de oferecer
profundidade ao jogo atacante e que combinem esses atributos com as
características morfológicas exigidas, hoje, a um defesa (nomeadamente a
altura) e, claro está, que sejam canhotos. É isso que explica que o
valor de mercado dos laterais-esquerdos seja comparativamente elevado.
Não por acaso, muitos dos grandes laterais-esquerdos são jogadores adaptados: alguns nem sequer são canhotos e muitos fizeram a formação noutras posições. O Benfica tem sido particularmente afetado por esta crise crónica de laterais-esquerdos. Tirando o já distante Léo, as duas épocas com Coentrão e a passagem efémera de Siqueira, a posição de lateral-esquerdo tem sido o ponto fraco do Benfica.
Lembrei-me
disto poque, contra o Vianense, causou alguma surpresa que, a certa
altura, Rui Vitória tivesse recuado o extremo-esquerdo Nuno Santos para a
posição de lateral-esquerdo. À primeira vista, a equipa não ganhou nada
com a alteração. Talvez não seja assim.
Nuno Santos é um jogador com um talento notável, de drible simples e com uma velocidade única que lhe permite verticalizar o jogo com muita facilidade. Não engana: vai dar craque. Fez, é certo, toda a sua formação como atacante. Mas a ideia de Nuno Santos como lateral-esquerdo pode bem ter pernas (e altura) para andar. Tem muitíssimo para aprender em termos de posicionamento defensivo, mas o seu futebol de profundidade e velocidade só pode ganhar se partir de posições mais recuadas.
publicado no Record de terça-feira