É um erro confundir resultados com exibições e,
ainda mais, ver nas vitórias o espelho de uma equipa organizada e com
princípios de jogo enraizados. O Benfica venceu com facilidade um
Boavista medíocre mas revelou uma ideia de jogo frágil e assente em
rasgos individuais. Continua, por exemplo, a ser preocupante a
incapacidade dos dois jogadores de meio-campo para transportar a bola.
Já foram testadas várias duplas de centro campistas e o problema
persiste.
Mas não se pense que a raiz do problema está nos dois jogadores do meio-campo. A questão parece-me mais vasta.
O
que se tem visto é um Benfica crescentemente dependente da capacidade
de Nico Gaitán inventar oportunidades de golo. Isto não seria um
problema caso a equipa estivesse organizada para fazer sobressair Gaitán
e Jonas – os dois jogadores que melhor combinam qualidade com
maturidade no Benfica atual. Não parece que seja assim. Como se viu
contra o Boavista, com um Jonas menos exuberante fisicamente, Gaitán
brilha muito, mas em jogadas individuais capazes de desatar o jogo. Não é
a equipa que arrasta Gaitán, é Gaitán que arrasta a equipa.
A
Nicodependência podia não ser um problema, mas é, na medida em que é
sintoma de uma equipa com poucas ideias no jogo atacante. Mais, o facto
de o Benfica desta época ter menos qualidade individual exigiria que os
processos coletivos fossem mais sólidos do que no passado. Num ano em
que tem sido feita uma aposta sistemática e notável em jovens talentos,
esta exigência é acrescida. Resolver este bloqueio continua a ser o
principal desafio de Rui Vitória.
publicado no Record de terça-feira