"I hope the fences we mended
Fall down beneath their own weight"

John Darnielle

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quinta-feira, 19 de novembro de 2015

O sentimento de um Ocidental



Muitos já terão visto o momento do França-Alemanha em que uma das bombas explode à porta do Stade de France. Patrice Evra, que conduz a bola no seu meio-campo defensivo, faz um ar de espanto, que se transforma numa expressão de um certo desdém, para logo depois atrasar a bola. O jogo prossegue e a França acaba por sair vitoriosa. Hoje, o resultado não importa, o que não quer dizer que o jogo não tenha sido relevante. Pelo contrário.

Tendo em conta o que se sabia estar a acontecer em Paris, pode ter sido tentador interromper a partida ou até cancelar os vários jogos previstos entre seleções para o dia seguinte. Teria sido um erro.

Se houve uma intenção clara nos atentados de sexta-feira foi impedir que desfrutemos em conjunto do prazer de ver um jogo de futebol num estádio, de assistir a um concerto de rock numa sala irrespirável ou, apenas, que nos juntemos, homens e mulheres, para beber uns copos.

É um daqueles casos em que a vida, aliás, pode aprender com o desporto. No futebol, o melhor que uma equipa pode fazer se quiser ajudar o adversário é adaptar o seu sistema de jogo. Com o terrorismo não é diferente: não há pior sinal do que ceder a quem se rege pelo culto bárbaro da morte.

Podemos, como Evra, por momentos atrasar a bola; só que, logo depois, com a mesma expressão do francês, resta-nos voltar a atacar e impor a superioridade do nosso modelo de jogo: encher estádios, beber álcool e gostar de rock’n’roll. Prazeres que o fanatismo religioso veda a alguns, mas que, nunca devemos esquecer, fazem parte do culto da alegria, um dos alicerces da nossa civilização.

publicado no Record de terça-feira