Muitos
já terão visto o momento do França-Alemanha em que uma das bombas explode à
porta do Stade de France. Patrice Evra, que conduz a bola no seu meio-campo
defensivo, faz um ar de espanto, que se transforma numa expressão de um certo
desdém, para logo depois atrasar a bola. O jogo prossegue e a França acaba por
sair vitoriosa. Hoje, o resultado não importa, o que não quer dizer que o jogo
não tenha sido relevante. Pelo contrário.
Tendo
em conta o que se sabia estar a acontecer em Paris, pode ter sido tentador
interromper a partida ou até cancelar os vários jogos previstos entre seleções
para o dia seguinte. Teria sido um erro.
Se
houve uma intenção clara nos atentados de sexta-feira foi impedir que
desfrutemos em conjunto do prazer de ver um jogo de futebol num estádio, de
assistir a um concerto de rock numa sala irrespirável ou, apenas, que nos
juntemos, homens e mulheres, para beber uns copos.
É
um daqueles casos em que a vida, aliás, pode aprender com o desporto. No futebol,
o melhor que uma equipa pode fazer se quiser ajudar o adversário é adaptar o seu
sistema de jogo. Com o terrorismo não é diferente: não há pior sinal do que
ceder a quem se rege pelo culto bárbaro da morte.
Podemos,
como Evra, por momentos atrasar a bola; só que, logo depois, com a mesma
expressão do francês, resta-nos voltar a atacar e impor a superioridade do
nosso modelo de jogo: encher estádios, beber álcool e gostar de rock’n’roll.
Prazeres que o fanatismo religioso veda a alguns, mas que, nunca devemos
esquecer, fazem parte do culto da alegria, um dos alicerces da nossa
civilização.
publicado no Record de terça-feira