"I hope the fences we mended
Fall down beneath their own weight"

John Darnielle

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terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Nunca te esqueças, Renato



O dramaturgo Nélson Rodrigues deixou um conselho aos jovens, "envelheçam depressa!". Sérgio Rodrigues em ‘O Drible’, notável romance com o futebol como pretexto, ficcionou Nélson em pleno Maracanã, a vociferar na bancada de um Fla-Flu, esse mesmo apelo à maturidade, "envelheçam!". Um apelo que o autor de ‘À Sombra das Chuteiras Imortais’ sabia ser dirigido a si próprio, imerso na incapacidade pueril para se libertar do prazer do futebol. Afinal, "o adulto não existe".

De cada vez que emerge um jovem talento no futebol, de imediato forma-se um coro que afirma: o jogador tem de amadurecer. Com Renato Sanches não tem sido diferente. É-nos dito que é um projeto de jogador, tem de temperar a energia, aprender a ocupar os espaços defensivos, dosear a impetuosidade.
O meu apelo é outro: Renato, não envelheças. Continua a jogar de forma imprudente, a arriscar nos passes verticais, a avançar de forma destemperada com a bola nos pés pelo meio-campo adversário acima. "O problema não é crescer, é esquecer". Não te esqueças do futebol que aprendeste na rua e, mesmo naquela partida decisiva da Champions ou no jogo do título contra o Porto, entra em campo como se ao teu lado estivessem os putos do Águias da Musgueira ou fecha os olhos e imagina que os teus colegas são sempre os teus amigos das camadas jovens do Benfica.

Desobedece ao rigor tático e não ouças os ensinamentos dos treinadores. Faz isso por nós que, na bancada, não queremos envelhecer e buscamos no futebol uma representação suspensa da infância. Feita de jogadores como tu.

publicado no Record