E não é que, contra as expectativas dos mais céticos (entre eles o autor
destas linhas), a geringonça não só está a funcionar, como revela uma
atitude vencedora, dá espetáculo e põe os adversários sob pressão. Quem
diria que o que nasceu errático e a oferecer uma vantagem aos
adversários que parecia irrecuperável é, agora, candidato à revalidação
do título?
Poucos, certamente. Mas seja por força do efeito
Renato – que, com uma vitalidade juvenil, joga por dois ou três e
empurra a equipa para a frente; seja pela estabilização do onze titular
ou porque o trabalho de Rui Vitória começou a frutificar, a verdade é
que se o Benfica vencer o Porto na Luz passará a ser o principal
candidato ao título.
A razão é simples: no terço final do
campeonato, o que conta não é apenas a qualidade do futebol ou a
disponibilidade física dos jogadores (duas dimensões em que, agora, o
Benfica leva vantagem), é, também, a capacidade para gerir
emocionalmente a equipa. Quanto a isso, o excesso de confiança (e a
fanfarronice) do Sporting serão adversários temíveis do próprio
Sporting. Já o Benfica, que começou como uma equipa frágil e
desequilibrada, derrotada sucessivamente pelos de Alvalade, tem, por
contraste, a seu favor as baixas expectativas com que iniciou o
campeonato, a cultura de vitória dos jogadores, a estabilidade emocional
da direção e a sensatez do treinador.
Pode bem dar-se o caso de,
no futebol como na política, o que nasceu como uma geringonça, afinal,
revelar pernas para andar e durar mais tempo e ter mais qualidade do que
o inicialmente aventado.
publicado no Record de terça-feira