"I hope the fences we mended
Fall down beneath their own weight"

John Darnielle

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terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Mea Culpa

Assim que termina um clássico, logo se inicia um jogo de identificação de culpados pelo resultado: o treinador que leu mal a partida; o central que claudicou no momento-chave; as substituições feitas a destempo. Pouco importa: quando se perde há sempre uma responsabilidade individual.

Chegados a terça-feira, as responsabilidades na derrota do Benfica já foram escalpelizadas, mas, desculpem-me o egocentrismo, houve uma que ainda não vi mencionada. A culpa foi minha. Isso mesmo, o Benfica perdeu por minha causa. A razão é simples – não estive no estádio a apoiar a equipa.

Tenho justificações.Numa daquelas excentricidades do futebol português, o jogo foi marcado em cima da hora para uma obtusa sexta-feira à noite. Com bilhetes na mão para um concerto do jovem talento do saxofone Ricardo Toscano, fui impelido a trocar o meu Red Pass pelo jazz. Os resultados são os conhecidos. Enquanto me deixava levar pelo fraseado de pendor clássico de Toscano, o Benfica perdia.

Se me responsabilizo pela derrota, não quero que vejam nisto nenhum misticismo ou superstição. A explicação é outra. Sendo o futebol uma coreografia de solos, ainda que assente no coletivo (lá está, o paralelismo com o jazz), o bom desempenho da equipa depende da audiência. O Benfica existe enquanto prolongamento dos adeptos na bancada e se um de nós falha, é como se toda a organização ruísse. Desta vez, foram a minha voz e o meu sofrimento a faltarem no estádio – o que estou convencido fez toda a diferença. Mas não se apoquentem, hoje estarei na Luz a empurrar a equipa para a frente.

publicado no Record de hoje