É escusado lutar contra moinhos de vento. De pouco serve resistir ao mundo
do futebol feito indústria, aos jogadores que naturalmente se movem por
contratos mais generosos; aos clubes transformados em empresas, suspensas em
complexas engenharias financeiras; e aos dirigentes que não padecem de
angústias clubísticas, desde que os resultados operacionais sejam positivos.
Apesar de tudo, há formas organizadas de resistência ao futebol apenas
como negócio racional. Infelizmente, o essencial da oposição está nos adeptos e
não nos dirigentes ou nos jogadores. Há, contudo, exceções.
Francesco Totti. 40 anos, um só
clube na carreira. 764 jogos com a camisola giallorossa e um amor incondicional a uma memória do futebol que se foi perdendo. Totti
é prova material de que, para sobreviverem, os clubes precisam de exemplos de
fidelidade absoluta a uma ideia. De jogadores carismáticos, capazes de
preservar a popularidade de um desporto que se transformou numa indústria.
Jogadores para quem acima do clube do coração não há mais nada.
A
frase poderá ecoar na cabeça de alguns leitores. Foram as palavras de André
Horta na entrevista ao Record. O Horta que vive o Benfica como nós: celebra as
vitórias das modalidades e sofre com as derrotas do Glorioso, em qualquer
campo. Sim, o Horta pode ser o nosso Totti. Por uma vez, um jogador que não nos
abandone, que contrarie a mercadorização do futebol, e que, no balneário, seja
a voz do adepto e revele aos profissionais a “chama imensa”. Para já, não se
esqueçam - tem apenas 19 anos, mesmo que, a espaços, jogue como o adulto que
ainda não é.
publicado no Record de 11 de outubro