(um grupo de jovens garbosos, ainda com as gloriosas camisolas do Sport Lisboa. Encostado ao muro - sem bigode -, um tal de Marcial Freitas e Costa, meu tio-avô)
A “Liga Salazar” é o último exemplo de
uma campanha insidiosa que tenta ligar o Glorioso ao Estado Novo e que é
insultuosa para muitos que edificaram um clube eclético, plural e democrático.
Vale a pena rememorar os que se fazem esquecidos e esclarecer os ignorantes.
O Benfica nasceu da vontade de um grupo
de rapazes lisboetas de origem popular, com poucos recursos. Esse código
genético contrastante deixou marcas: enquanto tivemos vários presidentes de
meios oposicionistas (Félix Bermudes, Manuel Conceição Afonso, Ribeiro da Costa
ou Borges Coutinho), os nossos rivais eram presididos por figuras do regime
fascista (Urgel Horta e Ângelo César no Porto; Casal Ribeiro e Góis Mota no
Sporting, para referir apenas alguns). Não por acaso, após o golpe militar, o
Sporting mudava o nome do Estádio para 28 de Maio, para mais tarde inaugurar
Alvalade a 10 de Junho, e o Porto inaugurava as Antas no âmbito das
comemorações do 28 de Maio; o Benfica, quando se transferiu para a antiga
estância, recuperou o nome Campo Grande e fez questão de inaugurá-lo a 5 de
Outubro. Mais tarde, a velha Luz abriria a 1 de dezembro, apenas porque não
ficara pronta a 5 de outubro. Quem conheça um pouco de história não terá dúvidas quanto ao simbolismo das datas. Sintomaticamente, só em 1971 a Luz albergaria um
jogo da seleção nacional.
Foi também o Benfica que viu o seu hino
- Avante p’lo Benfica, da autoria de Félix Bermudes - proibido pela
censura, numa altura em que os jogadores deixaram de ser vermelhos e passaram a
encarnados. Durante a noite negra do fascismo, enquanto os sócios benfiquistas elegiam
o Presidente em eleições diretas, que enchiam a saudosa sede da Rua Jardim do Regedor,
com filas de gente que chegavam até aos Restauradores, no Porto e no Sporting
as direções eram escolhidas por conselhos de ex-dirigentes e notáveis.
Uma coisa é clara: o Benfica foi o
campeão da democracia durante o Estado Novo. Continuamos fieis a esse espírito,
sem culto de Presidentes nem revisionismos do número de títulos ou data de
fundação.
Versão mais longa de um artigo
publicado no Record de 2 de Maio de 2017