"I hope the fences we mended
Fall down beneath their own weight"

John Darnielle

padaoesilva@gmail.com

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Um forte abraço, António


Há umas duas, três semanas, o papel afixado na porta do gabinete ao lado do meu retirou-me as ilusões: o António estava pior. O António que ao longo destes dois anos e meio foi um exemplo de coragem e de tenacidade e que ainda há umas semanas dava aulas, tinha deixado um aviso aos alunos, pedindo desculpa por não poder estar presente à hora marcada.
O Paulo já deu conta de muitas das coisas que eu poderia dizer sobre o António – e que ele pode dizer com mais autoridade. Mas há umas quantas que eu quero acrescentar.
Terei conhecido o António por volta de 1997, mas foi em 1999, quando fomos juntos participar numa conferência em que ambos apresentávamos papers, que começámos uma conversa agora interrompida abruptamente. O António já era um sénior, com experiência de vida e profissional, e eu não passava de um recém licenciado, que arriscava falar sobre os mesmos temas que ele. Naqueles dias passados em Boston, iniciámos um diálogo que fomos alimentando ao longo destes anos e através do qual aprendi muito. Não me esqueço da forma como um tipo que sabia (e continua a saber) muito mais do que eu sobre muitos dos assuntos sobre os quais conversámos, sempre revelou total disponibilidade para me ouvir e para discutir. É uma qualidade menos democratizada do que possamos pensar.
A conversa começada em Boston foi continuando. Depois de termos partilhado gabinete durante um curto período, agora éramos vizinhos e sabia que de cada vez que batesse na porta do gabinete dele ficaríamos a falar mais tempo do que os nossos compromissos permitiam. Hoje, tenho a certeza que deveria ter prolongado muito mais essas conversas.
Aprendi muitas coisas com o António. Mas tendo de escolher uma, nunca me esquecerei de lhe agradecer ter-me apresentado ao Ahmad Jamal. Se nada mais posso pedir, espero que continue a poder escutá-lo.