Há umas duas, três
semanas, o papel afixado na porta do gabinete ao lado do meu retirou-me as
ilusões: o António estava pior. O António que ao longo destes dois anos e meio
foi um exemplo de coragem e de tenacidade e que ainda há umas semanas dava
aulas, tinha deixado um aviso aos alunos, pedindo desculpa por não poder estar
presente à hora marcada.
O Paulo já deu conta
de muitas das coisas que eu poderia dizer sobre o António – e que ele pode
dizer com mais autoridade. Mas há umas quantas que eu quero acrescentar.
Terei conhecido o
António por volta de 1997, mas foi em 1999, quando fomos juntos participar numa
conferência em que ambos apresentávamos papers, que começámos uma conversa
agora interrompida abruptamente. O António já era um sénior, com experiência de
vida e profissional, e eu não passava de um recém licenciado, que arriscava
falar sobre os mesmos temas que ele. Naqueles dias passados em Boston,
iniciámos um diálogo que fomos alimentando ao longo destes anos e através do
qual aprendi muito. Não me esqueço da forma como um tipo que sabia (e continua
a saber) muito mais do que eu sobre muitos dos assuntos sobre os quais
conversámos, sempre revelou total disponibilidade para me ouvir e para
discutir. É uma qualidade menos democratizada do que possamos pensar.
A conversa começada
em Boston foi continuando. Depois de termos partilhado gabinete durante um
curto período, agora éramos vizinhos e sabia que de cada vez que batesse na
porta do gabinete dele ficaríamos a falar mais tempo do que os nossos
compromissos permitiam. Hoje, tenho a certeza que deveria ter prolongado muito mais
essas conversas.
Aprendi muitas coisas
com o António. Mas tendo de escolher uma, nunca me esquecerei de lhe agradecer ter-me apresentado ao
Ahmad Jamal. Se nada mais posso pedir, espero que continue a poder escutá-lo.